Noções básicas de preparação física para provas de longa distância

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A preparação física para provas longas envolve uma série de aspectos físicos e psicológicos. Foto: Tiago Barra

Fala galera, vamos tratar de um assunto importante para remadores de longa distância, atletas e competidores que se dedicam horas de treino para evoluírem e conseguirem resultados significativos em provas longas, tendo em vista que teremos várias competições com essas características no segundo semestre deste ano.

Um treinamento eficiente, não é apenas remar de forma aleatória duas ou três vezes por semana e no fim de semana remar o dobro da distância da prova almejada. Treinamento físico é uma ciência interdisciplinar que envolve aspectos nutricionais, psicológicos, sociais e análises biomecânicas, cinesiológicas, morfofisiológicas e metabólicas dos praticantes e, ainda, questões relacionadas aos equipamentos que podem contribuir com até 10% da sua performance.

Claro que você, atleta ou praticante de esportes náuticos de endurance, não precisa dominar estas ciências, isso é obrigação da equipe de profissionais que devem lhe acompanhar nos seus treinos. Você precisa ter noções básicas de que é necessário um suporte técnico qualificado e capacitado para lhe auxiliar em suas dificuldades e nos seus objetivos.

Na preparação física para provas longas, não é preciso remar sempre a mesma distância e numa velocidade máxima, o grande lance é variar as intensidades e o volume de acordo com o nível do praticante e seu tempo disponível para o treino.

Stand up paddle, sup race
Professor Paulo Vasco colocando a teoria em prática. Foto: Arquivo pessoal

Quem não é profissional e não está familiarizado com a ciência do treinamento de esportes a remo, pode pensar que, para uma prova longa, basta simplesmente remar essa mesma distância todos os dias ou remar um período equivalente ao tempo de prova. E há, ainda, crenças de que é preciso imprimir sempre a mesma velocidade em todos os treinos, impedindo assim o desenvolvimento neuromuscular e energético.

A cada dia de treinamento, você deve imprimir um ritmo diferente, alterando a velocidade, a pressão na fase aquática e cadência ou simplesmente uma remada regenerativa, para promover uma recuperação total ou parcial da fibra muscular envolvida na biodinâmica do seu esporte. Pois o objetivo é preparar o remador para situações de estresse por um longo período, suportando descargas hormonais e metabólicas promovidas pelo esforço.

Preparação física para provas de longa distância

Canoa polinésia, canoa havaiana, va'a
Daniel Rocha, Campeão cearense de Va’a. Foto: Arquivo pessoal

Para um treinamento seguro e eficiente é preciso se orientar por planilhas elaboradas e estruturadas, detalhando variáveis do seu treino, como se fosse uma espécie de manual para aquela prova. Podemos citar aqui alguns métodos de treinos fundamentais que devem ser inseridos na sua planilha:

  • Longão: Ritmo confortável e cadenciado com zonas específicas para cada nível de performance (existe avaliações para determinar a zona de treinamento);
  • Ritmo: Para remadores já com um certo nível de condicionamento. Consiste em distâncias pré-determinadas, onde o praticante busca o menor tempo possível;
  • Intervalado: Os famosos “tiros” (particularmente o meu preferido, mas não irei explicar o porquê pois seria um post só para este método). Consiste em alternar a velocidade em tempo ou distâncias curtas. Promove grandes ganhos de VO2 máx (capacidade de captar e utilizar o O2 como fonte de energia);
  • Fartlek: Os nórdicos criaram esse método por nem sempre poderem treinar em ambiente externo. Consiste em treinos de aceleração e desaceleração que pode ser programado de acordo com as correntes marítimas ou vento, no caso dos esportes náuticos;
  • Regenerativo: Um dos treinos mais negligenciados e ridicularizados por alguns atletas. Porém, um método de extrema importância em dias posteriores à treinos mais pesados, auxiliando na recuperação e regeneração orgânica que se prepara e se fortalece para uma nova carga superior;
  • Biomecânico: Treino leve que visa o autofeedback e a autoregulação. O objetivo é corrigir postura e técnica promovendo mais economia energética, através de movimentos coordenados e sincronizados.

Com um bom planejamento você poderá chegar mais longe em menos tempo, vou mostrar um pouco do que acontece no seu organismo no esporte de longa distância (endurance).

Canoa polinésia, canoa havaiana, va'a
Alzir França, vice campeão cearense de Va’a. Foto: Arquivo pessoal

Nós temos 2 vias metabólicas que nos fornecem substratos energéticos para o trabalho solicitado pelo nosso organismo:

  • Via anaeróbica: dividida em alática com substrato energético de ATP CP (fosfocreatina) e a via anaeróbica lática com substrato energético vindo do glicogênio (estocado no fígado e músculos) ambos com fontes limitadas e tempo entre 4 e 15 segundos de duração, ou seja, são utilizados por trabalhos de força muscular recrutando as fibras musculares do tipo II.
  • Via aeróbica: predominante nos esportes de endurance, consiste na metabolização do oxigênio, que é inalado pelas vias respiratórias, sofre um processo de hematose (nos alvéolos pulmonares) e é conduzido pela corrente sanguínea até ser extraído pelas fibras musculares do tipo I e ser transformado em energia nas mitocôndrias (nossa usina de força) dentro das células musculares.

Para facilitar a compreensão de todos, elaborei esse resumo acima, dando ênfase ao esporte de endurance, nosso corpo precisa ser condicionado a entrar na via aeróbia o mais breve possível. Assim, uma preparação física adequada e com todos os requisitos e princípios que exigem o treinamento esportivo, o praticante consegue recrutar rapidamente as fibras musculares do tipo I e aumentar o número de mitocôndrias, favorecendo uma maior extração de O2 da corrente sanguínea e equilibrando o sistema cardiorrespiratório e musculoesquelético durante o esforço físico.

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Claro que com o treinamento regular e seguindo uma planilha bem elaborada, outros benefícios serão adquiridos nesse processo, como complacência vascular (capacidade de vasodilatação e vasoconstrição dos vasos), vascularização muscular (aumento do leito sanguíneo), bradicardia fisiológica pós treino, aumento do VO2 (melhor extração de oxigênio), aumento da densidade óssea e fortalecimento dos tendões, ligamentos e músculos.

Canoa polinésia, canoa havaiana, va'a
Sânio Loureiro, vice campeão Grand Máster na Molokabra. Foto: Arquivo pessoal

Com isso, espero ter justificado para vocês a importância de planejar (periodizar) seus treinos e que vocês possam obter mais informações do assunto com seu treinador, possibilitando melhores resultados nas provas de longa distância que você almeja.

Lembre-se, a internet tem TODOS os treinos MENOS o seu! O treinamento não é uma receita de bolo!

Até a próxima!

Paulo Vasco

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