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Ao longo dessas décadas dedicadas ao jornalismo esportivo, confesso que achava já ter visto de um tudo. Mas, vejam só, o esporte tem essa mania de nos presentear com o inusitado, o inacreditável. E foi exatamente essa a sensação que me pegou de surpresa essa semana, ao tomar conhecimento de um caso ocorrido em Belém (PA), no final do ano passado. Uma história com ares de enredo de cinema, não fosse ela tristemente real e retratada em uma reportagem do Ge.
O caso ocorreu em 07 de dezembro de 2024, durante a 17ª Corrida do Marinheiro, pelas ruas de Belém. Na ocasião, um homem utilizou o chip de uma competidora, correndo em seu lugar e cruzando a linha de chegada na segunda posição, o que garantiu à “atleta” uma colocação indevida no pódio. A trapaça veio à tona após denúncias de outros participantes e a análise de fotos e vídeos do evento, resultando no banimento da mulher das corridas de rua por um período de um ano.
Competições esportivas, na minha humilde visão, são ferramentas poderosas para o crescimento humano. Elas nos colocam à prova, exigindo disciplina nos treinos, persistência para superar os próprios limites e a humildade necessária para digerir as derrotas. Acima de tudo, acendem em nós aquela chama da força de vontade para querer ser melhor a cada dia. No entanto, essa mesma arena que forja caráter é capaz de atiçar a vaidade a níveis estratosféricos.
As redes sociais, nesse contexto, atuam como um verdadeiro combustível para essa busca desenfreada por reconhecimento. Todo mundo quer a foto no pódio, a medalha pendurada no peito, o post viralizando. E não há mal algum nisso, de verdade, desde que aquela conquista seja fruto do seu próprio esforço, do suor derramado, da dedicação genuína. Quando a medalha não é merecida, o pódio vira palco de uma farsa, e a foto, um retrato da desonestidade.
Particularmente no universo dos esportes aquáticos, onde transito com mais frequência, nunca ouvi falar de algo tão mirabolante como o ocorrido na prova de corrida de rua de Belém. Mas, infelizmente, já testemunhei alguns episódios bem ruins de falta de esportividade, especialmente em modalidades como a canoa va’a e o stand up paddle. Rivalidades que extrapolam o saudável, discussões desnecessárias, acusações injustas em grupos de whatsapp, que são um reflexo daquela velha história de querer destaque a qualquer custo, passando por cima dos princípios mais básicos do fair play.
Fico pensando em quanta gente está obcecada com o brilho das medalhas, esquecendo-se completamente do processo que envolve o que é ser um atleta de verdade. A rotina de treinos, a superação diária das dores e da preguiça, a resiliência diante dos contratempos, a construção de um corpo e de uma mente fortes. Tudo isso, a meu ver, vale muito mais do que qualquer pedaço de metal pendurado no pescoço. A construção de caráter, essa sim, é o maior prêmio que o esporte de competição pode oferecer. É o legado que fica, que te define como pessoa, muito além de qualquer resultado em uma prova, que, no fim das contas, é uma coquista efêmera (para o bem e para o mal).
Que casos como o de Belém sirvam não apenas como notícia, mas como um lembrete: no esporte, assim como na vida, o atalho nem sempre compensa. A glória verdadeira está na jornada, na superação honesta, no respeito ao adversário e, acima de tudo, no respeito a si mesmo.