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O poder inclusivo da canoagem para crianças com Síndrome de Down foi tema de um bem-sucedido estudo realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) de Petrolina (PE).
Acompanhadas por um time de especialistas, crianças com Síndrome de Down receberam aulas de canoagem nas águas do rio São Francisco, que banha a cidade, e os resultados foram surpreendentes.
Foram feitas análises em 16 crianças entre seis e 14 anos. Com pouco tempo de intervenção (8 semanas com 2 aulas de 40 minutos por semana), já foi possível observar ganhos significativos nas habilidades motoras globais dos participantes.
“Efeitos da canoagem nas habilidades motoras de crianças e adolescentes com Síndrome de Down” é o título de um projeto de dissertação de mestrado do discente Natanel Pereira Barros vinculado ao Programa de Pós-Graduação da (UNIVASF).
“Sugere-se que isso foi possível devido aos estímulos sensoriais e motores que a canoagem oferece ao seu praticante, principalmente, referente aos desafios de manutenção do controle postural no caiaque” explica Leonardo Gasques Trevisan Costa, professor e responsável pelo projeto, pontuando um dos maiores ganhos:
“Há resultados que não cabem no estudo, como a felicidade das crianças ao realizarem as aulas e da alegria ao remarem pela primeira vez no Rio São Francisco”.
A psicopedagoga Ariane Oliveira explica o que o ganho motor para crianças com SD significa:
“Isso possui papel fundamental na ampliação cognitiva e na aprendizagem dos pequenos. É necessário que as crianças conheçam e possuam habilidades sobre seus corpos, as partes que os compõe e quais são os movimentos possíveis para o corpo humano individualmente, isto fará com que a criança se sinta segura e capaz de processar as informações necessárias para o momento e depois agir. Cada fase de desenvolvimento impõe alguns desafios motores que precisam ser adquiridos corretamente para que a próxima fase não seja prejudicada”, esclarece.
Contudo, Ariane ressalta a importância do acompanhamento de especialistas como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e educadores físicos junto às crianças Síndrome de Down:
“É necessário para que as crianças com SD possam aumentar a sensibilidade dos dedos, aumentar a percepção visual, erguer e sustentar a cabeça por mais tempo e com autonomia, sentar corretamente, ampliar a noção espacial, e fortalecer a firmeza para condução do lápis em seus projetos de desenho e escrita, por exemplo, além da socialização, imprescindíveis para a vida escolar e expressão de seus pensamentos” explica a psicopedagoga. Tudo isso auxilia a desenvolver sua capacidade de forma mais ampla e objetiva”, conclui.
A prática esportiva voltada para crianças com Síndrome de Down parece ainda enfrentar mais um desafio. Na plataforma de hospedagem de produção científica Scientific Electronic Library Online (Scielo), há somente seis artigos relacionados à observação da prática esportiva como facilitadora do desenvolvimento motor. Uma delas tem o remo como ferramenta.
Baseado nesse estudo, em 2017 o Grupo de Estudo e Pesquisa em Atividade Física Adaptada (Gepafa) iniciu suas atividades oferecendo à população com deficiência de Petrolina e região a possibilidade de praticarem Paracanoagem.
O projeto foi batizado de “Paracanoagem: reabilitação e inclusão de pessoas com deficiência na região do Vale do São Francisco”
“Além de atender a comunidade, o Gepafa também é utilizado como meio de formação profissional envolvendo alunos da graduação e pós-graduação da UNIVASF, o que tem possibilitado a produção acadêmica referente a Paracanoagem, por meio dos trabalhos de conclusão de curso, dissertações, iniciações científicas, artigos, etc.” explica o professor e responsável Leonardo Gasques Trevisan Costa.
O encerramento das atividades com todo o grupo aconteceu em águas abertas, no Rio São Francisco. Além de todos os benefícios motores que o projeto oportunizou, há um ganho incalculável no campo social.
A procura por vagas no projeto de extensão continua aumentando. Segundo Leonardo, mais do que eles podem acolher:
“Atualmente, atendemos apenas a comunidade com deficiência motora devido à escassez de recursos, tanto humanos quanto materiais, mas estamos trabalhando para que seja possível manter o atendimento para as crianças com SD em um futuro próximo”.
Mais do que aprender a remar, as crianças puderam descobrir o esporte como um todo, conta Leonardo. “Tem crianças que não continuaram apenas a fazer canoagem, mas começaram a praticar Stand Up Paddle, por exemplo”, finaliza.
O esporte como ferramenta para o desenvolvimento motor de crianças com deficiência ou mesmo para reabilitação de indivíduos que possuem algum tipo de deficiência de ordem motora não é um fato novo.
Historicamente, após a 2ª Guerra Mundial, houve expressivo aumento na documentação de práticas esportivas voltadas a ex combatentes que adquiriram deficiências (distúrbios mentais, deficiência visual ou auditiva, até perda de membros ou movimentos).
Neste contexto, o esporte era entendido mais como uma forma de estímulo à socialização do que o desenvolvimento ou reabilitação neuromotora.
Com o passar dos anos, o reconhecimento da importância desse trabalho ganhou cada vez maior relevância. Contudo, o paraesporte ainda carece de mais apoio e compreensão.