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O feedback positivo gerado pelo The Bridge SUP Cup pode ser o pontapé inicial para a retomada do SUP paulista. Confira a análise de nosso editor
O que acontece com a trajetória do stand up paddle em São Paulo é um verdadeiro paradigma: o estado mais rico do país, e que é o berço do esporte no Brasil, é incapaz de realizar um circuito paulista consistente.
Ao longo de dez anos de SUP em SP, dos quais participei ativamente, tanto como jornalista como atleta, houve tentativas de se ativar um circuito em 2012. Nessa época eu ainda competia e me sagrei vice-campeão paulista na Fun Race e quarto colocado no SUP Wave. Foi bacana participar e cobrir esse circuito, mas ficou claro pra mim que eu deveria optar entre ser um atleta competidor ou um jornalista especializado, pois era impossível fazer as duas coisas bem feitas e eu fiquei com a segunda opção.
Enfim, voltando à narrativa, quando todos acreditavam que a coisa iria explodir, um grupo de pessoas ligadas a prefeitura de São Vicente, e que nem tinha ligação direta com o SUP, sem avisar ninguém, homologou uma Federação Paulista de SUP. Fato que acabou por inviabilizar qualquer tentativa de se criar um circuito estadual que pudesse ser considerado legítimo.
Foi um balde água fria na cabeça da galera porque muitos, revoltados com a situação, se recusavam a participar de qualquer evento realizado pela tal federação, que, por sua vez, se mostrava incapaz de realizar qualquer evento em outra parte de SP que não a cidade de São Vicente. Coincidência ou não, foi a partir daí que o SUP em São Paulo começou a encolher.
Em 2017, porém, um organizador de eventos anunciou a intenção de reativar o circuito paulista com três etapas em lugares diferentes de SP através de uma parceria com a Federação Paulista de Surfe (FPSurf). Fiquei animado, acreditei e apostei no projeto. Falei pessoalmente com vários atletas, pedi um voto de confiança. E o que aconteceu? Um fiasco. Pra encurtar a história, se você quiser saber o que aconteceu, sugiro ler esse artigo que escrevi pro site Waves.
A frustrada tentativa de retomar o Paulista gerou revolta por parte de atletas e mais uma vez o SUP de SP encolheu. Não faltaram também críticas ao meu trabalho, por conta da promoção do evento e do incentivo para que todos participassem da prova. Aprendi ali a lição de não me envolver mais com esse tipo de situação, por melhores que possam parecer as intenções dos organizadores.
Assim, enquanto estados como Santa Catarina, Bahia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Ceará seguiram (e seguem) promovendo circuitos estaduais muito bacanas, São Paulo atravessou o ano de 2017 praticamente sem realizar competições regionais de SUP race e 2018 seguiu nessa mesma pegada. Até agora.
SERÁ QUE AGORA VAI?
A boa notícia é que pode ser que essa situação mude. No último final de semana através de uma iniciativa promovida pelos amigos Thiago Kerner e Murilo Callegari, com o apoio de remadores do litoral sul de SP, aconteceu uma prova de SUP Race chamada “The Bridge Sup Cup”. Foi um evento quase caseiro, realizado entre amigos, mas que contou com o apoio de três pessoas que respeito por todo seu histórico no cenário nacional do stand up paddle: Fernando Bonfá, Mario Cavaco e Jessika Moah.
Os três participaram do evento e passaram um feedback muito positivo sobre a prova e a disposição dos organizadores em reativar as competições paulistas através de um formato interbases.
Marinho Cavaco e Jessika Moah foram também os campeões da prova na categoria Profissional, mas houve diversas categorias e os resultados completos de todas podem ser conferidos aqui.
Agora, no dia 19 de agosto, os “Vikings” da represa de Ituparanga, no interior de SP irão realizar outra competição de Race com a mesma pegada. Nem precisa dizer que é fundamental que a galera prestigie esse evento para fortalecer ainda mais essa cena. E se os remadores de outro polo do SUP paulista, a cidade de Ubatuba, se unirem para realizar uma prova de race, nós temos um circuito. Já param pra pensar nisso?
ESTEJAM PREPARADOS PARA AS PEDRAS
Porém, é meu dever alertar que o caminho é longo e as pedras são muitas e o que não faltam são críticos: ao longo desses dez anos participando ativamente dessa história como atleta, jornalista, organizador de eventos, juiz de prova, diretor técnico da FECASUP, assessorando atletas, bancando a primeira premiação da história do SUP nacional, volta e meia sou acusado das coisas mais nonsenses que se possa imaginar. Outro dia tive que ler no Facebook que eu “não era do esporte”.
No Brasil, toda vez que alguém se propõe a fazer algo em prol do esportes, a regra, infelizmente, é choverem críticas. Todo mundo (acha que) sabe o que tem que ser feito, mas pouquíssimos são aqueles que tem a coragem de arregaçar as mangas e fazer acontecer.
Ao longo desses anos vi muita gente boa abandonar o barco cansada de tanta pedrada, tanta falta de noção, tanta ingratidão. Dentro desse cenário, onde sobram sabichões e faltam apoiadores, considero quase um milagre que tenhamos um evento incrível como o Aloha Spirit Festival completando dez anos e uma confederação brasileira capaz de manter o maior e mais longevo circuito nacional de SUP do mundo, quando nem mesmo o surfe brasileiro é capaz de estruturar um circuito.
O que posso falar para o pessoal envolvido com o The Bridge SUP Cup é que continuem nessa pegada e preparem-se para receber e aprender com as críticas (algumas servirão de lição, outras mostrarão claramente a natureza de quem as profere).
Então, sigam em frente, pois a tenacidade de vocês pode ser o que o SUP paulista precisa para finalmente manter um circuito duradouro, fomentar as bases e apoiar seus campeões no estado em que o stand up paddle surgiu no Brasil.
Aloha