Profissionais x Amadores: um embate silencioso na Va’a

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amadores va'a
Chegou a hora de olharmos os atletas amadores da va’a com mais anteção? Alfredo Piragibe faz o questionamento. Foto: Aloha Spirit Ilhabela

Que a Va’a cresceu, ninguém discute. O calendário de competições pelo Brasil parece bloco de carnaval: todo mês tem desfile, digo, prova nova. E sim, hoje temos uma elite de alta performance que merece aplauso. Mas… (sempre tem um mas), quase ninguém fala de quem realmente mantém o esporte vivo: a massa dos amadores.

E é justamente aí que o samba desafina. No papel, tudo parece perfeito: existe a tal categoria “estreante” para acolher os novatos. Na prática, é terra de ninguém. Falta critério, falta fiscalização — sobra a velha “boa fé do pecador”.

Se você tem mais de 19 anos, já cai direto no chamado “limbo Va’a”. Pode até brincar de “estreante” por dois anos, mas depois a porta da categoria Open escancara sem dó nem piedade. Aí é o amador de três treinos por semana contra o atleta de planilha, nutricionista, personal e suplementação importada. Alguns parecem até dormir plugados no soro.

O resultado é previsível: o remador amador, aquele que divide tempo entre trabalho, família e faculdade, se vê duelando com quem vive como profissional. É como colocar um peladeiro de fim de semana pra marcar o Neymar em final de campeonato. Adivinha quem desiste primeiro?

O problema não é a elite existir — pelo contrário, ela puxa o nível e inspira. O problema é insistir em misturar água e óleo na mesma panela. Algumas competições, como o Aloha Spirit, já tentam separar melhor isso nas provas individuais, mas a grande porta de entrada do esporte continua sendo a OC6, onde essa mistura é ainda mais evidente.

Enquanto isso, Federações e Associações posam de pais orgulhosos. Regulamento? Fiscalização? Bobagem. O que vale é ter canoa na água e a panelinha da elite no pódio para foto no Instagram.

O ciclo se repete: o amador se frustra, a base não se fortalece, e o topo continua ocupado pela mesma elite. O discurso segue bonito: coletividade, Ohana, espírito polinésio. Mas, na prática, a vaidade e a desigualdade dão as cartas.

Talvez seja hora de encerrar o teatro. Criar, de verdade, uma categoria amadora para modalidade OC6, fiscalizar quem é estreante e valorizar quem está começando a competir. Porque, no fim das contas, a Va’a não respira só pela elite: vive de quem paga mensalidade religiosamente, de quem encara competir já sabendo que vai tomar um baile e, ainda assim, traz o amigo desavisado. Sem essa base, não tem competição, não tem festa, não tem futuro.

Até lá, seguimos nesse embate silencioso: a elite coleciona medalhas e pódios, enquanto os amadores bancam a festa e, aos poucos, desistem de competir. O brilho das medalhas pode até ofuscar, mas não paga a conta. E quando a maré baixar, talvez fique claro: o futuro da Va’a nunca esteve no topo do pódio — ele sempre dependeu da base que insiste em remar.

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