
Clubes de va’a do Rio se reúnem para criar protocolo de segurança
Clubes de va’a do Rio criam grupo de trabalho para elaborar protocolo de segurança que minimize acidentes ... leia mais
Ah, que coisa linda! O Brasil despontando no cenário internacional da Va’a, medalhas brilhando no peito dos nossos remadores, pódios cada vez mais cheios e a bandeira brasileira balançando com aquela aura de vitória. Quem vê de fora pensa que esse esporte é um mar de união, disciplina e espírito polinésio.
Só que… (sempre tem um só que, né?) por trás da fantasia reluzente também existe uma realidade que muitos fingem não ver. Outros ainda fazem de tudo para encobrir esse enredo digno de novela mexicana misturado com reality show, pois alegam que discutir essas questões abertamente, “faz mal à imagem do esporte”. Será mesmo? O fato é que, muitas vezes, acontecimentos que deveriam ser uma celebração coletiva de cultura e irmandade se transformam em uma espécie de carnaval fora de época — mas sem confete colorido, sem alegria e só com purpurina tóxica.
Nos bastidores, o samba é desafinado: clubes brigando como comadres mal-amadas, equipes disputando remadores como se fosse draft da NBA, e atletas que trocam de clube mais rápido que folião de Salvador troca abadá. É um entra e sai digno de micareta: hoje sou apaixonado pelo clube A, amanhã já tô jurando amor eterno ao clube B, e no próximo fim de semana quem sabe viro “independente”, com logotipo próprio e um nome esdrúxulo inventado de qualquer maneira.
E o preço desse “carnaval va’aesco”? Amizades estraçalhadas, clubes que desanimam de investir em alto rendimento, e um rastro de vaidades feridas que faria Freud desistir de analisar o ser humano.
A grotesca analogia é inevitável: virou carnaval de rua. Todo mundo se beija, todo mundo se pega, mas ninguém sabe direito quem está com quem na próxima competição. O remador é aquele folião que vai de clube em clube, exibindo sorriso no rosto, mas deixando um rastro de ressaca por onde passa. Hoje canta com Bell Marques, amanhã pula com Ivete, e depois, quem sabe, aparece em cima do trio do Léo Santana. Só que aqui, na Va’a, não tem música boa, não tem cerveja gelada e nem catarse coletiva. Tem só um amontoado de egos sambando descoordenados.
E o mais triste desse cenário é que todo esse espetáculo vazio joga no lixo o verdadeiro espírito Va’a: união, coletividade, lealdade. Palavras bonitas que ficam ótimas em discurso de abertura e postagem de Instagram, mas que, na prática, perdem para o fascínio do pódio e para a guerra fria dos bastidores.
Felizmente, nem tudo é purpurina tóxica. Existem clubes sérios, focados na “formação” e não na “promoção” de seus remadores, e competições que conseguem manter acesa a chama do verdadeiro espírito Va’a. Provas em que a rivalidade fica em segundo plano, e o que impera é a energia coletiva, o respeito entre equipes e aquela vibe de Ohana que deveria ser regra, não exceção. Nesses momentos, é impossível não sentir que a Va’a é mais do que medalha: é conexão com o mar, com a equipe e com a própria essência polinésia.
Enquanto isso, a arquibancada segue aplaudindo, as medalhas continuam sendo exibidas e a sensação que estamos no caminho certo permanece. Mas, para quem olha com atenção, o desfile já mostra sinais de desgaste: equipes fora de sintonia e uma harmonia que parece cada vez mais distante. Quando isso acontece, o verdadeiro espírito Va’a vai embora, deixando apenas a pergunta no ar: vale mesmo a pena continuar nesse ritmo?