
Programação do Aloha Spirit Angra dos Reis
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A Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano, realizada em Nice em junho deste ano, sinalizou uma mudança importante na abordagem da causa da sustentabilidade marinha. Pela primeira vez, ficou nítido que a agenda oceânica deixou de ocupar um papel secundário para se posicionar no centro das discussões multilaterais sobre os desafios do clima e do desenvolvimento sustentável.
Nice consolidou avanços importantes — desde a maior adesão ao tratado de proteção da biodiversidade em águas internacionais até o reconhecimento crescente do oceano como pilar estratégico na luta contra a crise climática. Também ficou clara a articulação entre essa conferência e a próxima COP 30, que acontecerá em Belém do Pará, em novembro. A “Declaração de Nice a Belém”, firmada por Brasil e França, por ocasião da presidência do G20 pelo Brasil em 2024, é o símbolo desse novo alinhamento entre as agendas do oceano e do clima.
Não há mais como ignorar: proteger o oceano é mitigar os efeitos da mudança climática. O oceano absorve calor, sequestra carbono, regula o clima e abriga ecossistemas cruciais para a biodiversidade e a economia azul. Reconhecer esses papéis nos compromissos nacionais de redução de emissões de gases do efeito estufa — as chamadas NDCs — é uma urgência e uma oportunidade. Ambientes marinhos como manguezais, recifes de coral e fundos vegetados, devem ser valorizados não apenas pela sua biodiversidade, mas por sua capacidade de gerar benefícios mensuráveis para o planeta e as pessoas.
Para o Brasil, esse é um momento-chave. Com mais de 8 mil quilômetros de litoral e uma área oceânica, chamada de Amazônia Azul, que possui 5,7 milhões de quilômetros quadrados, o país tem um patrimônio ecológico e estratégico que precisa ser melhor conhecido e protegido. Já avançamos. A criação de um departamento específico para o oceano no Ministério do Meio Ambiente, o fortalecimento da ciência marinha pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pela FAPESP e a crescente valorização da cultura oceânica mostram que há um caminho sendo trilhado.
Mas ainda há lacunas. Cerca de 40% das praias brasileiras enfrentam erosão acelerada, agravada pelas previsões de elevação do nível do mar, pela urbanização desordenada e pela ausência de planejamento. A acidificação afeta ecossistemas sensíveis e ameaça cadeias produtivas ligadas à pesca e ao turismo. A integração entre ciência, gestão e políticas públicas é essencial para reverter esse quadro e garantir o uso sustentável dos recursos marinhos.
Nesse contexto, o Movimento Ocean Week assume um papel de destaque. Articulando ciência, arte, educação e mobilização, a Ocean Week é o maior festival de cultura oceânica da América Latina — e em 2025 será realizada pela primeira vez no Rio de Janeiro, de 22 a 26 de outubro, no Museu do Amanhã. A Rio Ocean Week integra a programação oficial da Década do Oceano da ONU e se conecta diretamente às discussões da COP 30, contribuindo com conteúdo, engajamento e propostas concretas.
Mais do que um evento, a semana é uma plataforma de encontro entre sociedade civil, iniciativa privada, academia e governos. É um espaço de diálogo, inspiração e articulação. O Manifesto pelo Futuro do Oceano, elaborado com a participação da Cátedra Unesco, será entregue aos líderes da COP 30 com um pedido claro: colocar o oceano no centro da agenda climática global.
De Nice a Belém, atravessamos um oceano de possibilidades. Mas é preciso coragem política, compromisso social e investimento consistente para que essas oportunidades se concretizem. O Brasil tem ciência de ponta, biodiversidade única e um potencial extraordinário para liderar a transformação para um oceano e um futuro mais sustentáveis. Cabe a nós traduzir esse potencial em ação — e fazer do oceano uma causa compartilhada por todos.