
Volume de treino: Qual metragem nadar para terminar sua prova?
Qual o volume de treinos ideal para se para realizar uma determinada prova de natação em águas abertas? ... leia mais
A pergunta é simples, mas a resposta depende de muitos fatores. Um dos principais é a temperatura da água — e, no caso do Brasil, isso muda bastante ao longo do litoral e das estações do ano. Outro ponto crucial é: a pessoa está usando colete salva-vidas?
Neste artigo, você vai entender como a temperatura da água influencia o tempo de sobrevivência de alguém no mar, e por que o colete salva-vidas não é apenas uma exigência burocrática, mas um fator decisivo para salvar vidas.
O Brasil tem uma das maiores faixas costeiras do mundo, o que significa uma grande diversidade térmica. Veja a média da temperatura da água nas três principais regiões costeiras:
Região | Verão | Outono | Inverno | Primavera |
Norte (ex: Belém, São Luís) | 27–29 °C | 26–28 °C | 25–27 °C | 26–28 °C |
Sudeste (ex: RJ, SP, ES) | 25–27 °C | 23–25 °C | 18–23 °C | 22–24 °C |
Sul (ex: SC, RS) | 24–26 °C | 20–22 °C | 16–19 °C | 19–22 °C |
Apesar de o Brasil ser um país tropical, no Sul e Sudeste as temperaturas da água podem cair significativamente no inverno, chegando a 16°C ou menos — o que já representa risco real de hipotermia. Além disso, embora o verão seja caracterizado por altas temperaturas no litoral do Rio de Janeiro, o fenômeno conhecido como ressurgência pode fazer com que a água do mar permaneça bastante fria, mesmo em dias de calor intenso.
Estudos da Guarda Costeira dos EUA e de entidades de segurança náutica mostram que o colete salva-vidas aumenta o tempo de sobrevivência em até 3 vezes, especialmente em águas frias ou agitadas.
Veja a estimativa média de tempo até exaustão ou inconsciência (e não até a morte) com e sem colete:
Temperatura da água | Sem colete (mar calmo) | Com colete (mar calmo) |
26–30°C | 12–30 horas | 24–48 horas |
21–25°C | 6–12 horas | 8–30 horas |
16–20°C | 2–6 horas | 3–12 horas |
11–15°C | 1–3 horas | 2–6 horas |
Importante: em mar agitado, os tempos caem 30–50% por conta do esforço físico e ingestão de água.
Mesmo em águas “mornas”, como as do Norte e parte do Sudeste, a permanência prolongada no mar pode levar à exaustão, desidratação e perda de consciência. Em temperaturas abaixo de 20 °C, o risco de hipotermia aumenta exponencialmente — mesmo em pessoas saudáveis.
Sem colete, o esforço para se manter flutuando acelera a perda de calor corporal e reduz drasticamente as chances de sobrevivência.
Em situações de permanência prolongada no mar, o instinto inicial de pânico pode ser um inimigo. Muitas vezes, a reação imediata de nadar, gritar ou tentar lutar contra as ondas só acelera a exaustão e a perda de calor corporal — especialmente se você estiver sem colete salva-vidas. Por isso, saber como se comportar corretamente na água é essencial para economizar energia e ganhar tempo até o resgate.
A primeira atitude deve ser manter a calma. Evite movimentos bruscos e conserve sua energia ao máximo. Se estiver com colete, permaneça flutuando de costas, com o rosto fora d’água, tentando relaxar o corpo. Em caso de ausência do colete, boie na vertical ou de barriga para cima, sempre controlando a respiração para não entrar em desespero.
Outro ponto crítico é a preservação do calor corporal. A hipotermia pode ocorrer mesmo em águas consideradas mornas, como as do Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil no outono e inverno. Para reduzir a perda de calor, mantenha braços e pernas próximos ao tronco, como se estivesse na posição fetal. Essa postura, conhecida como HELP (Heat Escape Lessening Posture), ajuda a proteger os órgãos vitais e prolonga a resistência. Se estiver com outras pessoas, o ideal é permanecerem juntos, abraçados lado a lado, formando um grupo compacto que mantém o calor coletivo — o que também facilita a visualização por equipes de resgate.
Não remova roupas, mesmo que estejam molhadas. Ao contrário do que muitos pensam, elas funcionam como uma barreira térmica adicional e também protegem contra o sol, o frio do vento e possíveis animais marinhos. Nadar, por sua vez, só deve ser uma opção se o local seguro estiver claramente próximo. Caso contrário, o deslocamento pode levar à exaustão ou desorientação.
Por fim, se for possível sinalizar, faça isso de forma rítmica e moderada. Levantar os braços ou objetos flutuantes, como remos, pode ajudar a chamar atenção sem gastar energia em excesso. A ideia é alternar entre momentos de repouso e pequenos esforços de sinalização, sempre priorizando a conservação do corpo e da mente.
Saber nadar é importante. Mas, mais do que isso, é saber sobreviver. E isso começa com atitudes simples e conscientes diante de uma situação crítica no mar.
No mar, cada minuto conta — e a temperatura da água pode ser sua maior inimiga silenciosa. Usar colete salva-vidas triplica suas chances de sobrevivência, mas saber como agir faz toda a diferença.
Mantenha a calma, flutue, conserve calor e evite nadar sem necessidade. No mar, quem gasta menos energia, vive mais.
Não é só o preparo físico que salva. É o comportamento.