Atleta de Aracaju (SE) cria grupo de remada para policiais
Policiais militares do Grupamento Especial Tático de Motos (GETAM) de Aracaju recebem aulas de stand up ... leia mais
Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) em tramitação no Congresso Nacional está gerando comoção entre ambientalistas e comunidades costeiras, além de provocar um intenso debate público nas redes sociais. A PEC 03/2022 propõe a transferência de terrenos de marinha, atualmente pertencentes à União, para ocupantes diretos, estados ou municípios. Especialistas alertam que essa medida pode abrir caminho para a “privatização” das praias brasileiras, pois os acessos ao mar poderiam passar a ser controlados pelos novos proprietários desses terrenos, além de questões envolvendo ao manejo de Áreas de Preservação Permanente (APPs).
A PEC propõe a extinção dos chamados ‘terrenos de marinha’, que são áreas situadas na costa marítima, margens de rios e lagoas, em faixa de trinta e três metros a partir da posição da maré cheia. Essas áreas, apesar de não pertencerem à Marinha, são propriedades da União conforme determina a Constituição Federal.
Defensores da PEC argumentam que a atual regulamentação dos terrenos de marinha gera inseguranças jurídicas, principalmente no que se refere aos imóveis construídos nessas áreas, ou seja, praticamente todas as casas e edifícios localizados em frente ao mar. Segundo eles, muitas pessoas que adquiriram imóveis nessas áreas enfrentam contestações da União após longos processos demarcatórios, além de serem obrigadas a pagar uma taxa anual, denominada laudêmio, que seria extinta com a aprovação da medida.
No entanto, há um enorme receio de que a falta de clareza na PEC em relação à manutenção de APPs costeiras abra espaço para que essas regiões, hoje preservadas, recebam megaempreendimentos, como resorts de luxo, por exemplo, causando danos severos ao ecossistema local e ao próprio microclima da região. Além disso, por deixar que prefeitos e governadores tenham liberdade para regularizar esses terrenos, há um enorme receio de que a PEC, na prática, facilite a privatização de diversas praias. “Ela permite que prefeitos e governadores regularizem a participação da iniciativa privada. Logo ela é a porta para a privatização, pois poderia restringir o acesso da população a esses locais”, disse o biólogo Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ao portal Congresso em Foco.
O projeto já passou na Câmara dos Deputados e foi discutido no Senado na última segunda-feira (27). Com forte resistência da sociedade civil, até o momento da publicação desta matéria, a PEC acumula mais de 58 mil votos contrários e apenas 949 a favor.
Conhecida também como a “PEC da Cancun brasileira”, se aprovada, a proposta busca atrair empresas interessadas em reproduzir praias do litoral brasileiro um modelo semelhante ao adotado no México, como é o caso de Cancun. Porém, mais uma vez, o que críticos ao projeto alertam é o fato que de a experiência mexicana, na prática, expulsou populações nativas de seus locais de origem, restringiu acessos às praias aos hóspedes dos hotéis e fez com que essa região, no passado povoada por pacatas comunidades pesqueiras, tenha se tornado uma das mais violentas do país.
Organizações como a Articulação Nacional das Pescadoras (ANP), o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) e o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) emitiram uma nota de repúdio à PEC 03/2022.
As entidades ressaltam que os terrenos de marinha desempenham uma importante função socioambiental na proteção da diversidade e no sustento de comunidades tradicionais, especialmente as comunidades pesqueiras. A nota destaca ainda que a privatização dos terrenos de marinha ameaçaria os territórios de povos tradicionais, aumentando os conflitos fundiários e ameaçando culturas e modos de vida dessas populações.
Por sua vez, o Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU) também se manifestou contra o projeto, expressando preocupação com as possíveis consequências ambientais, econômicas e sociais da proposta. O IBDU também destaca os riscos de desalojamento forçado de comunidades que dependem dos terrenos de marinha para sua subsistência, além de levantar questionamentos sobre os interesses do setor hoteleiro e de jogos de azar associados à proposta.
Diante disso, tanto a ANP, o CPP e o MPP quanto o IBDU conclamam a sociedade a se opor à aprovação da PEC 03/2022, pressionando os senadores e conscientizando a população sobre os riscos envolvidos na privatização dos terrenos de marinha. Em um momento em que a sociedade busca o desenvolvimento sustentável e a justiça social, é crucial garantir que as decisões tomadas estejam alinhadas com esses princípios.
A população pode participar ativamente do debate sobre a PEC 03/2022 enviando e-mail aos senadores, além de votar através do portal e-Cidadania do Senado Federal. Clique aqui para votar.
Não perca nada! Clique AQUI para receber notícias do universo dos esportes de água no seu WhatsApp