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No jargão da va’a brasileira, “catadão” é a expressão usada para designar equipes formadas por atletas de diversas partes do país.
Na prática, é uma opção encontrada por clubes para formar seleções fortíssimas e disputar títulos nacionais. Para atletas de alto desempenho, é uma forma de criar uma super equipe sem um vínculo real com o clube que estará representando em provas do Campeonato Brasileiro, visando competições internacionais da IVF, que realizam suas seletivas sob a tutela da CBVA’a. Hoje, praticamente todos os campeões brasileiros de OC6, em todas as categorias, são formados por catadões. Mas isso é bom para a evolução do esporte?
Após publicar o artigo com críticas ao formato atual do Campeonato Brasileiro, muita gente entrou em contato comigo de forma privada, para fugir dos debates intermináveis (e infrutíferos) de grupos de WhatsApp, a fim de comentar a matéria.
Entre críticas e elogios ao texto, chamou minha atenção o número de remadores que reclamaram da prática dos catadões, sugerindo que eu deveria ter incluído isso na matéria.
Decidi apurar essa questão junto a outros atletas para colher mais opiniões sobre o assunto. Ao ouvir os depoimentos, cheguei à conclusão de que é um assunto complexo, mas inevitável.
Primeiro, porque os catadões inibem o trabalho de clubes que estão formando equipes com remadores “da casa”, ou seja, aqueles que efetivamente mantêm um vínculo com aquela base e, em muitos casos, foram descobertos ali.
“Hoje em dia, é impossível ganhar uma prova do Brasileiro se você não fizer catadões. Isso faz com que muitos clubes desistam de participar das provas porque sabem que não terão chance“, disse uma das pessoas com quem conversei sobre a promessa de mantê-la no anonimato.
Por outro lado, outra fonte anônima me explicou: “São poucas provas de alto nível e precisamos montar as melhores equipes para competir nesses eventos e ter alguma chance de disputar títulos em provas internacionais“.
O que fazer? Se, por um lado, os catadões inibem a participação de clubes “puros” em provas do Brasileiro e podem provocar um esvaziamento de inscritos, por outro, são a melhor chance que temos de brigar por títulos em provas internacionais.
Bem, recorro novamente ao artigo que escrevi há duas semanas, no qual argumento que chegou a hora de se criar uma categoria Elite separada das demais. Seguindo essa linha de raciocínio, penso que essa poderia ser a categoria dos catadões, enquanto outro Campeonato Brasileiro, por idades, seria fechado a equipes formadas por remadores “da casa”.
Quanto às seletivas, aí a coisa fica mais complicada. Qual caminho seguir? Infelizmente, não tenho uma resposta para essa questão. Mas, nesse cenário hipotético de um Campeonato Brasileiro de Elite, essa poderia ser a seletiva Open, e o campeonato brasileiro por idades selecionaria as demais categorias. Enfim, o ponto aqui é estimular a reflexão, pois juntos encontraremos a melhor saída.
Por fim, vale reforçar que eu penso que no caso das categorias de base, como a Júnior, a lógica dos catadões é outra, pois ainda temos pouquíssimos clubes investindo na categoria, de forma que, nesse caso, formar seleções com os melhores juniores se torna estratégico para fomentar uma base nacional forte. Pelo menos por enquanto. No entanto, um treinador de juniores me advertiu de que formar “super times”, também nas bases, trazendo garotos de outros clubes, pode ser desestimulante ao júnior criado naquela base e, naquele momento, excluído do time em nome de uma maior competitividade. Isso poderia ter um efeito inverso e afastá-lo do mundo das competições.