Pedrinho Weichert completa a primeira travessia de va’a solo da história em Fernando de Noronha
Desafio foi concluído na última quarta-feira (04) em 3h38. Pedrinho Weichert foi a primeira pessoa a ... leia mais
Em 2019, um grupo de amigos paranaenses realizou a travessia Paraná x São Paulo remando de stand up paddle por mais de 200km por um dos trechos mais preservados de Mata Atlântica litorânea do Brasil.
Após um intervalo de dois anos, os amigos Thilo, Leo Pielak, Joca, Leandro Teodoro, Luiz Bottega e Alex Sales repetiram a experiência, dessa vez a bordo de uma canoa polinésia OC-6, remando sem revezamento.
A expedição foi programada para durar cinco dias, com o trajeto dessa vez planejado para ser feito da seguinte forma: Paraná x São Paulo – São Paulo x Paraná.
O grupo de amigos e remadores sendo eles divididos entre competidores de SUP e Va’a, se uniram para completar o trajeto de ida e volta saindo de Paranaguá (PR) até a cidade de Iguape, no litoral paulista.
O litoral do Paraná faz divisa com o estado de São Paulo possibilitando a pratica de longas travessias entre estados sendo por rios, baías e mar aberto.
Inseridos em um estuário rico em vida marinha e locais ainda muito preservados entre essas duas cidades, a região é caracterizada por possuir significativos atributos ambientais e culturais, conservando uma boa parte de área nativa como florestas, manguezais, dunas e restingas além das comunidades tradicionais e um rico patrimônio histórico cultural e arqueológico, além das ilhas oceânicas.
No primeiro planejamento o grupo realizaria a travessia parte por mar aberto saindo de Paranaguá, atravessando toda a baía, alcançando a costa da Ilha das Peças passando pela barra de Superagui e chegando na Ilha do Cardoso, já no litoral Paulista. Contudo, devido às constantes chuvas e vento, o fator meteorológico colocaria em risco a segurança da expedição. Sendo assim, foi definido aplicar o “plano B” doze horas antes da saída programada.
Uma decisão mais que necessária, pois a canoa, mesmo programada para levar apenas o necessário, ficou muito pesada com as bagagens, entrando água algumas vezes em áreas críticas de baías, o que em mar aberto seria muito pior por conta condições meteorológicas.
Partindo de Paranaguá (PR) às 04h30 do dia 21 de outubro sentido norte. O horário e maré programados proporcionou uma melhor navegação adiantando o percurso pela manhã realizando uma pequena parada aos 30km na Ilha de Guapecum, posteriormente Ilha de Tibicanga e preparando para atravessar a Baia dos Pinheiros uma baia extensa cercada por várias comunidades e uma natureza ainda muito preservada a vegetação dos morros refletia no espelho da água. O sol já raiava e os botos nos acompanhavam. Uma área muito hospitaleira e propícia para exploração à remo.
Ainda na região do Paraná, alcançamos o vilarejo de Vila Fátima, que antecede o canal do Varadouro. Como sempre, fomos muito bem recebidos pelas pessoas locais e um belo almoço nos esperava, atendido pela família do Cristiano.
A recepção tradicional no “padrão”, com peixe e ostras de qualidade. Estávamos adiantados, apesar do programado ser ir até Cananéia (SP) já no primeiro dia, contabilizando 110km.
Decidimos atravessar o canal do Varadouro cruzando os estados às 13h30. O silêncio e a paz do local são aliados de quem passa por lá.
As águas do canal do Varadouro curiosamente abertas para fluir a economias de São Paulo e Paraná nos anos 50, hoje atrae muitos navegadores, remadores solos entre outros aventureiros.
O canal uniu o litoral dos dois estados economicamente na época e originou o atual Parque Estadual de Superaguí. Sua extensão é de aproximadamente 5km e recebe diferentes variações de marés.
Uma breve parada em Vila de Ariri, que antecede a Ilha do Cardoso, nos fez reprogramar a rota e decidirmos pernoitar na Ilha Do Cardoso no primeiro dia para curtir o local, o pôr do sol e o restante do dia.
Com uma breve parada para visitação a Vila de Ararapira, na divisa de estado São Paulo e Paraná, marco histórico do povoado paranaense onde hoje habitam poucos moradores, conserva uma igreja do ano de 1.767. Seus espaços são usados para eventos religiosos festivos e suas ruinas decorrentes do avanço do mar atraem muitos turistas. Hoje, a vila que é apelidada de “cidade fantasma”, já foi entreposto comercial entre São Paulo e Paraná.
Ao chegar, fomos recebidos por um morador e ficamos impressionados com a limpeza do local.
Chegamos na Ilha do Cardoso, após 75km para pernoitar, lugar rico em sua natureza possui rios, trilha, cachoeiras, Ilhas oceânicas e uma faixa de praia extensa para a prática de vários esportes. Um lugar ainda muito preservado, organizado e rústico e a recepção mais uma vez pela Carla nos faz clientes satisfeitos com sua atenção.
O local não possui rede elétrica, mas são abastecidos com placas solares e telefonia, o suficiente para atualizações para seguirmos adiante, a previsão para o próximo dia era de céu aberto. Cananéia era nosso próximo destino.
Deixamos a Ilha do Cardoso na sexta (22) às 6h00 em direção à Cananéia (SP). Tínhamos em média 40km de remada em águas tranquilas, parte em maré contra e parte favorável. O céu refletia no espelho da água, enquanto várias lanchas cruzavam o canal em direção à Ilha.
Já estávamos longe e Cananeia já aparecia no visual e com uma breve parada na Ilha da Casca, que antecede a cidade, com águas calmas e cristalinas propicias a um banho e hidratação antes de atravessarmos a baía de Cananéia.
Com um sol de 25° chegávamos em Cananeia alcançando 110km. O visual da pequena cidade histórica, muito bem organizada e conservada, é propicia a uma parada, com uma boa hotelaria e área gastronômica convidativa.
Resolvemos almoçar repor as energias e voltar para a canoa, pois tínhamos pela frente a cidade de Iguape e o plano era tocar direto contabilizando a metade do percurso: aproximadamente 200km no segundo dia.
De Cananeia a Iguape é possível navegar margeando a Ilha Comprida, tanto pelo mar, como pelo rio. Porém, as variações de marés são bruscas e, em alguns momentos, pesadas, por sofrer influência de duas barras.
Às 14h00 deixamos Cananéia, com destino a Iguape. No caminho, dois balneários: o Juruaúva e Pedrinhas, ambos as margens da Ilha Comprida, onde é possível buscar recursos.
Fizemos uma breve parada em nosso já amigo Bodegas Bar, e em Pedrinhas, mais à frente. Pelas condições favoráveis, decidimos remar à noite, paramos em Bal. Pedrinhas para nos alimentarmos e às 18h, após decisão do grupo, iniciamos a remada rumo a Iguape.
Após minutos remando um belo pôr do sol encerrava nosso perfeito dia e dava espaço à noite de luar, elemento mais do que necessário para uma remada noturna.
Entramos nas pesadas aguas do Rio Ribeira às 20h22. No horizonte nascia, escaldante, a lua, ainda vermelha mas que rapidamente saia de trás das arvores e brilhava no espelho da agua – “Momento marcante da trip” relata Leo Pielak.
A claridade da lua nos direcionava sempre ao meio do rio evitando bater em algum “cerco”, artefato ainda permitido na região que vai da margem ao meio do rio utilizado para pesca de tainha.
Infinitos quilômetros em linha reta nas aguas do Ribeira, que aos poucos invade o mar e degrada a vegetação. Abastecidos, alternávamos alguns descansos rápidos e de muito longe já avistávamos a luz do morro do cristo; tínhamos em nossa proa a referência, Iguape, que já se aproximava. Chegamos às 23h30 pelas águas do Rio Ribeira, onde pernoitamos e nos programamos para retornarmos no dia seguinte.
No sábado, dia 23 após, o café no hotel, caminhando pelo centro histórico da cidade histórica de Iguape, com seus casarios ainda preservados, e ao lado da reserva da Jureia e Ilha Comprida, nos direcionamos até a Basílica de Bom Jesus, referência em suas crenças e festas religiosas, onde fomos recebidos pelo padre local que ficou surpreso pela distância percorrida pela expedição e nos concedeu sua bênção.
Às 11h30 deixamos Iguape e iniciamos nossa remada de retorno rumo à Cananéia, e depois ao Paraná.
Com chegada às 19h00, pernoitamos em Cananéia, com bares e restaurantes bem movimentados. Deixamos a canoa próxima ao hotel, atracada no píer.
As previsões para o dia seguinte da nossa saída não eram das melhores, rajadas de vento de 18 a 27 Km/h para às 11h, que era o horário planejado para nossa saída devido à mare.
Porém, às 04h00 o vento já soprava muito forte e colocou toda equipe em alerta, sendo necessária uma ida até o píer para trocar a canoa de lugar e evitar que ela ficasse batendo nas colunas da construção.
Às 05h30, resolvida a situação, todos retornam para o hotel e a saída foi antecipada para às 09h30, rumo ao Paraná com uma possiblidade de parada na Ilha do Cardoso.
Deixamos Cananéia, cruzávamos a baía em tranquilidade até que, ao chegar na Ilha da Cascas, em direção à Ilha do Cardoso, o tempo fechou fazendo valer a previsão rajadas de 25 a 27 km/h de vento. Chuva e frio intenso até o Ilha do Cardoso nos acompanharam por quase os 40km.
A cooperação da equipe, decisões rápidas, coordenação e conhecimento de todos fez com que administrássemos o problema, “Onde cada parcela de conhecimento faz toda diferença em uma equipe”, relata o capitão Alex Sales.
Resolvemos não parar na Ilha do Cardoso, para almoçar em Ariri mais adiante, e preparar para cruzar deixar São Paulo.
Cruzamos a divisa entre os estados às 18h00, remando à noite nas tranquilas águas do Canal do Varadouro, o que nos levou até a Vila Fatima com chegada às 20h00, já em solo paranaense.
Na escuridão, com o auxílio de um app de navegação, mantínhamos no rumo. Na vila fomos recebidos com a notícia de que o vento em alguns locais também foi intenso, comprometendo a energia elétrica e a telefonia local. Apesar de estarmos munidos de rádios comunicadores VHF, decidimos então pernoitar por lá e retornar a Paranaguá no dia seguinte.
No dia 25, último dia de expedição, após sermos recebidos pelo Roberto, figura ilustre de Vila Fatima, em sua casa, saímos às 06h30 na tranquilidade das águas da baia dos Pinheiros rumo à baia de Paranaguá.
Suas serras e morros refletiam na claridade da água a silhueta do sol, que fechava a nossa trip com excelência. O cansaço era visível, mas a satisfação também.
Entrávamos na baia de Paranaguá e o retorno para casa estava bem próximo. Ao largo, navios e a Ilha do Mel em nosso través, uma breve parada na Ilha das Cobras, já na baia de Paranaguá, antecipava a comemoração; o cenário era propicio: águas cristalinas e um belo dia de sol encerrava a expedição. Entramos no Rio Itibere em Paranaguá às 14h, encerrando com excelência uma longa viagem.
Uma missão cumprida em parceria, troca de conhecimento, aprendizagem e instrução, cada um com sua parcela de conhecimento, resulta em um melhor aproveitamento.
“Enquanto houver memória uma trip dessa jamais será esquecida”, relata Luiz Bottega. Gostaria de agradecer a todos que mais uma vez nos apoiaram e nos receberam nessa expedição, “Uma forma de conhecer nossa própria região, história e cultura fortalecendo nosso esporte”, relata Leandro Teodoro.
O grupo também agradece aos apoiadores, às recepções das comunidades, e à presença do atleta Thilo, de São Paulo, que cumpriu a jornada desses cinco dias trazendo conhecimento já de outras atividades ao grupo, suprindo a vaga do atleta Jesse Pedro, que por motivos profissionais não pode estar junto.
Assim encerramos mais uma trip com excelência e cada vez mais aprimorando conhecimento em travessias.
Nossa baia de Paranaguá é vasta e nos proporciona explorá-la através das modalidades náuticas. Conheça o nosso verde representado pelas matas, a paz, as estrelas direcionais; saboreie nosso mate e desfrute a sombra das araucárias, esses são alguns dos nossos elementos que compõem a nossa bandeira. Essa é a mensagem do de remadores Moana Litoral e Paraná Sup Adventure.
Preservem os rios mares e oceanos para as futuras gerações. Imua!
Participantes: 01 Thilo, 02 Leo Pielak, 03 Joca, 04 Leandro Teodoro, 05 Luiz Bottega, 06 capitão Alex Sales