Eduardo Gadelha: da favela para o Mundial de Va’a
De origem humilde, talento da nova geração do va'a brasileiro, Eduardo Gadelha, realiza sonho de competir ... leia mais
No passado, o surf de modo geral, era um esporte dominado por homens. Poucas mulheres pegavam onda e mais difícil ainda era ver uma garota praticando bodysurf.
Mas Isabelle de Loys e sua irmã gêmea Marie-Claude quebraram o padrão e começaram a se destacar.
Das ondas do Leme para o mundo! Sim, foram tantos campeonatos e títulos conquistados que o reconhecimento veio, e as duas passaram a ser chamadas de “sereias do Leme”, “gêmeas do surfe de peito” e tantos outros apelidos.
Porém, o fato é que elas nasceram na Suíça em 1967, em uma cidade chamada Lausanne, lugar sem praia.
Com a mãe brasileira e o pai suíço, a família se mudou para o Leme, no Rio de Janeiro, quando as meninas tinham 5 anos de idade.
Aos 8 anos elas se apaixonaram pelo bodysurf, conhecido popularmente como “jacaré”, e não pararam mais.
Ambas representaram magnificamente o Brasil nos campeonatos internacionais de bodysurf durante 20 anos. E, recentemente, pude conversar com Isabelle à respeito de sua trajetória no esporte, a fim de analisar como era o cenário do bodysurf nas décadas passadas e como estamos agora.
Basicamente, Isabelle participou do seu primeiro campeonato de bodysurf no Forte São João, na Urca (RJ), quando tinha 14 anos de idade.
Como não tinha dinheiro para pagar as inscrições dos campeonatos, logo foi em busca de patrocinadores.
Seu primeiro patrocinador foi a loja VanSport e a parceria que iniciou em 1984 durou 2 anos.
Em seguida, na sua estreia em campeonato mundial na praia de Oceanside (Califórnia), Isabelle conquistou o 2º lugar no pódio e isso causou uma grande repercussão nos jornais, rádio e TV na época.
Isso porque aquela tinha sido a primeira vez também que um país da América Latina participava do campeonato mundial da modalidade.
Para chegar à final e conquistar o título de vice-campeã mundial, ela precisou competir 4 baterias com meninas que já conheciam as ondas, uma vez que boa parte delas eram locais da Califórnia.
Com esse resultado, um mundo se abriu à frente de Isabelle de Loys, que logo se viu sendo patrocinada pela Coppertone, além da antiga companhia aérea VASP e pequenas lojas de surf.
Assim, percorrer o mundo atrás das ondas e dos títulos se tornou algo menos complicado, o que não significa que foi fácil.
Digo isso porque, apesar de tudo, o bodysurf permanece sendo apontado como o “primo pobre do surf”, ou seja, a oferta de patrocínios e a profissionalização de atletas do esporte ainda é muito pequena.
No entanto, Isabelle e a irmã repercutiram tão bem na mídia que foram convidadas a participar de programas de televisão muito conhecidos na época como os Trapalhões e o programa do Jô (Soares).
Além disso, elas fizeram parte da abertura do programa Esporte Espetacular da Globo durante muitos anos e estamparam inúmeras capas de jornais e revistas.
Não há dúvidas de que os feitos das irmãs de Loys para a expansão do bodysurf no Brasil e no mundo foi de extrema importância.
Quando se imaginou grandes veículos de comunicação dando tanta visibilidade ao bodysurf, ainda mais na época que o surf dominava o cenário e o bodyboarding figurava forte?
Há muitos anos me recordo de ter visto a capa de um jornal carioca, com a foto das irmãs no Leme.
Um amigo adepto do handsurf de Alagoas contou parte da história das gêmeas, tidas como referências no esporte por tudo que fizeram e conquistaram.
E por diversas vezes as irmãs revezaram o pódio; ora Isabelle em primeiro lugar e Marie-Claude em segundo, ora esta em primeiro e Isabelle em segundo.
Mais precisamente no ano de 1995, Isabelle conquistou o título de campeã mundial e em 1997 veio o bicampeonato. Além disso, participou dos campeonatos americanos, onde sagrou-se tricampeã americana em 1991, 1995 e 1998.
Hoje Isabelle continua pegando onda de bodysurf e pratica natação no mar. Dedica-se a arquitetura ambientalista, a revitalização de áreas verdes no Rio e à proteção dos oceanos, propósitos que lhe foram proporcionados pelo esporte.
“Eu acho que nós, bodysurfers, temos uma alma boa porque ficamos tão íntimos do mar, da onda… temos uma harmonia tão grande com a natureza. E isso tudo me fez ser uma pessoa dedicada e envolvida com o meio ambiente. Afinal, não é apenas sobre pegar ondas. Não é apenas sobre bodysurf. Eu tento mostrar para as pessoas que a gente pode mudar esse caminho sombrio que estamos percorrendo”, conta Isabelle.
O fato é que Isabelle saiu das ondas do Leme para surfar as ondas do mundo. E hoje de Loys está pelo Rio para nos ensinar que o bodysurf é parte de nossa cultura e que podemos ser muito além de meros aficionados por ondas.
Aloha
Letícia Parada
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