MolokaBRA 2023 faz live de lançamento nesta quinta
Lançamento oficial do MolokaBRA 2023, maior prova de downwind do Brasil, será nesta quinta-feira, no ... leia mais
Como falamos anteriormente, Bodysurf em sua tradução literal significa surfe de corpo.
A princípio esse esporte era praticado sem o auxílio de pé de pato, ou seja, as pessoas surfavam apenas com o corpo e nada mais.
No início dos anos 40, trabalhando de modo independente Louis de Corlieu e Owen Churchill, respectivamente na França e nos Estados Unidos da América, foram os primeiros a produzirem pés de pato.
Inclusive, Churchill desenvolveu o equipamento especialmente para o uso da Marinha norte-americana.
Com a chegada do pé de pato, os Bodysurfers notaram que a propulsão e a velocidade eram muito melhores ao empregarem esse equipamento, além de obterem outras vantagens como a facilidade no deslocamento e a própria segurança.
A prática do Bodysurf então se tornou mais frequente e popular utilizando o pé de pato.
Eis que algumas pessoas passaram a praticar o Bodysurf de uma forma diferente…
Começaram a utilizar bandejas de restaurantes, chinelos, pedaços de madeira e outros tipos de objetos na mão com o intuito de percorrer a onda por mais tempo e também com mais velocidade, o que ajudava muito no momento do tubo.
Por volta da década de 60, uma empresa australiana fabricou a primeira handboard, do inglês “prancha de mão”.
Composta de plástico, tinha aproximadamente 1 pé de comprimento (o equivalente a aproximadamente 30 cm).
Daí em diante, pouco a pouco, foram surgindo outras empresas que fabricavam handboards, ainda em pequena escala.
Já nos anos 90, o Bodysurf se popularizou ainda mais e se tornou motivo de interesse principalmente entre os jovens.
A grande questão é que a premissa do Bodysurf, desde os primórdios, era a prática isenta de equipamentos, isto é, o deslizar nas ondas apenas com o corpo.
No entanto, aqui no Brasil passou a existir uma discussão intensa a respeito da aplicação do nome “Bodysurf” quando o praticante faz uso da handboard (também conhecida como handplane , em sua tradução literal “avião de mão”).
Isso porque o surfe apenas com o corpo e o auxílio do pé de pato acontece de uma forma diferente daquele com a handboard.
Em outras palavras, a pessoa que venha a usar uma handboard consegue obter maior velocidade a partir do momento em que é reduzido o arrasto causada pelo contato do corpo com a água.
Em termos de eventos competitivos isso tem uma enorme repercussão. Uma vez que o atleta conseguirá não apenas velocidade para sair de tubos, mas também maior facilidade de entrada na onda, assim como a realização de manobras específicas.
Não é à toa que em 1995, um grupo de Bodysurfers de Alagoas que surfava com uma prancha de mão decidiu participar de uma competição no Rio de Janeiro.
Mas antes mesmo de viajar, o grupo foi informado pela organização do evento que eles não poderiam utilizar prancha, alegando que o Bodysurf não era um esporte praticado com handboard, mas sim apenas com o corpo e o pé de pato.
Os três bodysurfers, Mariano, Léo e Sivory, então começaram a refletir sobre a maneira como pegavam onda.
Foi aí que Nedda Luna, na época presidente da Associação Alagoana de Bodysurf, lhes disse que a forma que eles surfavam não poderia mesmo ser chamada de Bodysurf.
Deveria ser chamada de Handsurf (surfe com a mão) e a partir daí os alagoanos adotaram esse nome.
No decorrer dos anos, brasileiros de outros Estados começaram então a fazer essa distinção entre Bodysurf e Handsurf, mas curiosamente isso não é tão comum nos demais países.
Na Austrália, Espanha, Japão, Portugal, Reino Unido e muitos pontos ao redor do mundo o esporte é conhecido apenas como Bodysurf ou “Bodysurf com handplane / handboard”.
Já nos Estados Unidos, alguns utilizam esse mesmo termo enquanto outros chamam de “handboarding”.
Raramente você verá “lá fora” algum praticante ser identificado como “Handsurfer” ao invés de Bodysurfer.
Para Jake Rosenbrock, australiano especialista em tubos e Bodysurfer há mais de 20 anos, a nomenclatura não é tão importante:
“Na Austrália as pessoas costumam chamar de Bodysurf, independente de estar ou não com uma handplane.
Para mim, os nomes não importam contanto que você esteja se divertindo.
E quando se usa handplane é como se fosse um Bodysurf com esteroides, porque você ganha velocidade e é mais fácil de pegar onda, mas o sentimento ainda é de Bodysurf puro”, pondera.
Seguindo essa linha de pensamento, o carioca Cainho Seoane assegura que “Não faz sentido deixar de se divertir e fazer o que gosta por ficar pensando demais em nomes, em definições. O importante é ser feliz nas ondas!”.
Por outro lado, a porto-alegrense Briguitte Linn defende que “Bodysurf é só com pé de pato. Com a prancha você faz manobras diferentes e por isso Handsurf não é a mesma coisa que Bodysurf.”.
O inglês Lewis Day radicado em Highcliffe beach acredita que são esportes diferentes e prefere chamar um de “Bodysurf” e o outro de “handboarding”.
O shaper e speaker da WSL Japan Tour, Ben Wei, afirma que “Aqui no Japão as pessoas chamam de Bodysurf você estando com ou sem handplane”.
Para alagoano Leo Curren os dois são basicamente o mesmo esporte:
“O Bodysurf puro é basicamente o mesmo esporte quando se usa a handplane porque as manobras feitas em um são as mesmas que se faz no outro, como o Parafuso, o El Rollo, Parafuso Delta.
A diferença principal está na velocidade e estabilidade que se ganha com a handplane. Já o Handsurf de Alagoas acho distinto porque executamos batidas, floaters, rasgadas.
A nossa prancha, que chamamos de palmar, permite fazer tudo isso e muito mais”.
A minha opinião sobre o tema é a seguinte: eu acredito que acima de tudo o respeito se faz essencial. Estamos falando de um esporte de ondas no qual a diversão e a conexão com a natureza despontam como o foco principal.
De que valem longas discussões enfastiantes que não levam o esporte a lugar algum a não ser ao desentendimento e a depreciação.
Bodysurf é melhor que Handsurf? Ou será que praticar Bodysurf com handboard é mais proveitoso?
Defendo a prática livre e a categorização das modalidades nos eventos de caráter competitivo para que não haja possível vantagem ou desvantagem do ponto de vista de equipamentos.
Mas se pararmos para pensar quem de fato pratica Bodysurf, o Bodysurf “raíz” mesmo? Quem usa apenas o corpo livre de roupas para pegar ondas? Vale a reflexão.
Aloha, até a próxima!
Letícia Parada
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