Esca’Padd: Quando o SUP encontra a escalada
Reunindo suas duas paixões, o SUP e a escalada, Yann Vacher e Antoine Troussel viajam à Córsega e lançam ... leia mais
Com viagem marcada para Barcelona, comecei a buscar praias bonitas e vazias ali por perto.
Abri o Google Maps e vasculhei as redondezas, de olho nas partes com menos construções e mais natureza. Não demorei muito para achar a Costa Brava.
De cima, parecia incrível! Areia e pedras bem branquinhas, mar transparente de tom azul, praias pequenas, muitas sem nenhuma casa, hotel, restaurante nem quiosque em volta. Perfeito!
Então fui para Barcelona. Fiquei uma semana num hotel (enquanto estava a trabalho) e uns dias na casa de uma grande amiga, que mora lá há anos. Convidei-a para fazer esse passeio na Costa Brava comigo e ela aceitou na hora. E ainda se ofereceu para ser a motorista.
Não queria remar, só ficar deitada na praia, relaxando. Disse que me deixaria onde quisesse e me pegaria depois em outro ponto.
Com isso, não tive que programar uma remada circular, com ida e volta. Poderia partir de e chegar em pontos diferentes.
O que era perfeito, afinal, nas pesquisas que antecederam a viagem, tinha visto que o vento na região era muito forte.
E realmente, nos dias que fiquei em Barcelona ele não deu trégua um dia sequer. Então resolvi sair de uma cidadezinha chamada Tossa de Mar e seguir para o norte, acompanhando a direção do vento.
Alugamos um desses carros de aplicativo, que você destrava a porta pelo celular. Em menos de uma hora e meia já estávamos estacionando o carro nas ruas de Tossa de Mar.
A cidade é o polo turístico da Costa Brava mais próximo de Barcelona, com pouco mais de 6 mil habitantes.
Além das praias, Tossa é famosa por causa do centro antigo. O vilarejo é cercado pelo muro de uma fortaleza do século XIII e as construções medievais, ali dentro, estão totalmente preservadas.
Ainda tem alguns moradores vivendo nessas casas, mas a maioria virou lojas de souvenir, bares e restaurantes. Nós almoçamos numa dessas relíquias, entre o forte e o mar.
Após o almoço, inflei a prancha e combinei com minha amiga de encontrá-la numa praia de nudismo, chamada Senyor Ramon. Ela já a conhecia e disse que era umas das mais tranquilas e bonitas da região.
Eu tinha calculado no mapa e parecia estar a uns 10 km de travessia. Distância perfeita para uma remada sem pressa. Qualquer coisa, nos falaríamos pelo celular.
Já na saída percebi que essa seria uma remada especial. Que lugar lindo! Lembrava um pouco Fernando de Noronha, mas com pedras brancas em vez de pretas. E a costa era impressionante. Uns paredões altos e sinuosos que vinham até a beira da água.
Nas imagens do Google Maps, não dava pra perceber essa dimensão. Tudo era grande e a prancha parecia pequena naquele mar transparente.
A menos de 1 km do centro de Tossa, encontrei um caminho estreito entre dois paredões de pedra. O mar estava calmo e resolvi entrar. Ali no fundo tinha uma praia minúscula, paradisíaca.
Ela era cercada por pedras tão verticais que acho difícil alguém conseguir chegar por terra. E pelo mar a entrada é tão estreita que nenhum barco consegue passar. Só mesmo remando pra chegar lá.
Desci um pouco da prancha e fiquei contemplado. Que maravilha! Que sorte tenho. O SUP é mesmo o melhor jeito de conhecer os lugares.
Voltei pro mar, agora passando entre ilhas de pedra. Um dos conjuntos lembrava o Dois Irmãos, de Noronha. A água parecia ainda mais transparente, com cardumes gigantes nadando lá no fundo.
Remei bem devagar, apreciando a vista, olhando para os desfiladeiros em cima e a profundeza do mar, embaixo. Virei uma península e encontrei várias grutas pequenas. Cada curva era uma surpresa.
Mais adiante achei outra praia pequena. Essa era ainda menor do que a primeira e também estava vazia. Do paredão da costa descia uma escada, escavada na pedra. Parecia cenário de Game of Thrones. Impressionante.
Sentei ali também pra apreciar o visual. Em meia hora de remada já tinha encontrado tantos lugares incríveis. Não dava pra parar em todos. Se não, só ia encontrar minha amiga à noite.
Continuei passando por várias praias lindas, mas sem parar. Muitas eram pequenas e vazias, como as que tinha descido antes. Outras eram um pouco maiores, com estrutura de hotéis e restaurantes. Algumas não tinham nada em volta, mas muitos barcos se concentravam ali. Cheguei a entrar com a prancha em uma gruta maior que estava cheia de turistas.
Mais ou menos na metade do caminho, parei novamente. Outra praia linda, chamada Cala Futadera. Sem nenhuma estrutura de bar ou restaurante, mas com alguns turistas curtindo o sol, deitados na areia grossa.
Numa das laterais tem um caminho de concreto que segue até a ponta da península. É um visual diferente e tem gente que toma sol ali mesmo, pulando na água nos pontos sem pedras.
A próxima parada foi em outro caminho estreito entre pedras. Esse era mais longo do que o primeiro que entrei e tinha uma ponte de madeira que o atravessava, mas no fundo também tinha uma pequena praia.
Mais um lugar que parecia cenário de cinema, de tão bonito que era. Enquanto estava lá, um veleiro ancorou do lado de fora, no mar aberto, e uma família desceu. Foram a nado até onde eu estava para curtirem a prainha.
Deixei eles lá e segui para a Cala Senyor Ramon. Logo encontrei minha amiga deitada sob um guarda-sol. Metade dos banhistas estavam realmente nus. O resto curtia a praia de shorts ou biquíni mesmo.
Enquanto contava das praias que passei para minha amiga, duas turistas russas se aproximaram perguntando se a prancha de Stand Up era minha. Elas queriam o SUP emprestado para fotos.
Emprestei a prancha, mas não esperava que tirassem tantas fotos. Ficaram uns 40 minutos sem dar uma única remada, só fazendo poses para a câmera do celular. A praia inteira acompanhou a sessão de fotos, rindo muito.
Antes de ir embora ainda remei mais um pouco para aproveitar o máximo que desse. Passei por mais uma ponte no mar. Essa era um caminho de pedra que levava da praia à ponta da península.
Redundante dizer que era lindo, mas era mesmo e tenho que dizer. Voltei para a Cala Senyor Ramon com a sensação de que ficaria mais umas 10 horas remando, mas o sol já estava quase se pondo e ainda tínhamos que comer alguma coisa e pegar a estrada de volta para Barcelona. Então subimos a trilha até o estacionamento, desinflei a prancha e fomos embora.
De carro, fizemos a viagem em 1 hora e meia e gastamos €80 com carro mais gasolina e uns €14 com pedágios (todos aceitam cartão de crédito).
Também dá para chegar lá de ônibus, saindo da Estacio del Nord de Barcelona. Preços e horários podem ser consultados aqui.
Instagram: @caminhos.do.sup.