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Nascido em Honolulu em 1890, descendente de ancestrais ligados à monarquia havaiana, Duke Kahanamoku cresceu na região de Waikiki, na ilha de Oahu, Havaí.
Filho de um capitão de polícia, Duke era criança quando a rainha Liliuokalani foi colocada em uma prisão domiciliar e o Havaí passava a ser oficialmente considerado território dos Estados Unidos.
No entanto, sem nenhum indício de ressentimento em relação àqueles que apreenderam e subjugaram seu país, Duke procurou e conquistou um lugar na equipe americana de natação vencendo praticamente todos os torneios em que participou, sendo considerado um dos atletas mais talentosos da história.
Único havaiano presente na seleção estadunidense durante os Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, ele conquistou suas primeiras medalhas olímpicas.
De 1912 a 1924, o havaiano ganhou um total de cinco medalhas em Olimpíadas, sendo três de ouro e duas de prata, além de ter sido recordista mundial por 16 anos.
Suas técnicas de natação, em grande parte influenciadas pelo surfe de peito, causaram grande impacto entre os nadadores de seu tempo.
O escritor esportivo Edgar Forrest Wolfe, do Philadelphia Inquirer, um dos maiores jornais da época, descrevia Kahanamoku, como “o maior nadador que o mundo do esporte já viu” e “um peixe humano”.
As medalhas olímpicas de Duke também resgataram a dignidade do povo havaiano e ajudaram a popularizar a filosofia polinésia de amor, respeito e interação com o oceano.
Além disso, fama alcançada como nadador ajudou Duke a popularizar a canoagem polinésia e o surfe, atividade que então se mantinha marginalizada e restrita a um pequeno grupo de havaianos, praticamente praticada em segredo após ser considerada imoral por grupos de missionários protestantes.
À medida em que os feitos de Kahanamoku se tornavam mais notórios, mais a imprensa internacional voltava suas atenções para Waikiki.
Uma das praias mais famosas de Honolulu, na ilha havaiana de Oahu, Waikiki se tornou, de certa forma, um centro de resistência pacífica da cultura polinésia.
Recebendo muitos turistas e personalidades da época, a praia tinha uma atmosfera bastante cosmopolita.
Aproveitando o clima favorável, e até como forma de se legitimar a prática do surfe, surge no Havaí, em 1909, o primeiro clube de canoa polinésia da história moderna: o “Outrigger Canoe Club”.
O clube, no entanto, era formado quase totalmente por descendentes de colonos e Duke, apesar de fazer parte da agremiação, viu a necessidade de criar uma outra base, formada por descendentes diretos dos nativos havaianos. Nascia, em 1911, o Hui Nalu (clube das ondas).
O clima entre ambos os clubes era amistoso e de respeito mútulo. Tal fato teve bastante relevância, pois era o surgimento de uma nova era para a população local, que ao mesmo tempo estava buscando suas raízes, seus costumes, fazendo com que sua cultura ressurgisse e se mostrasse ao mundo.
Com a fama de medalhista olímpico, Duke aproveitou seu status para promover sua cultura.
Em todas as suas entrevistas, Kahanamoku afirmava que sua saúde e vigor físico derivavam da prática do surfe e da canoagem havaiana.
A partir daí ele passou a fazer exibições levando o surf para os mais diversos lugares dos Estados Unidos e da Austrália.
Sua apresentação mais emblemática aconteceu no dia 23 de dezembro de 1915, em Sidney, na Austrália, introduzindo o surfe no país que mais tarde se tornaria potência mundial neste esporte.
Feitos como esse renderam ao havaiano o título de “Pai do Surfe Moderno”.
Mas sua intimidade com a água lhe renderia inúmeros outros feitos, muitos deles heroicos.
Kahanamoku salvou inúmeros turistas de afogamento em Waikiki e também na Califórnia, onde morou na década de 1920 após iniciar uma carreira cinematográfica em Hollywood.
Em 1925, ele estava acampando na praia com um grupo de atores e atrizes quando um iate afundou na praia de Newport Beach, na Califórnia.
O mar estava agitado e Duke fez três viagens através de ondas violentas em sua prancha de surfe para auxíliar a guarda costeira durante as operações de resgate.
Dezessete pessoas perderam a vida no naufrágio, mas 12 foram resgatadas – oito delas por Duke.
Mesmo com toda fama e mítica em torno de sua pessoa, Duke não estaria livre do racismo.
Durante o tempo em que viveu nos EUA, Duke em algumas ocasiões, era alvo de comentários preconceituosos por conta da cor de sua pele.
Mas um fato que marcou bastante sua vida ocorreu durante sua chegada a um um restaurante em Lake Arrowhead, Califórnia, onde iria participar de um almoço com outros nadadores.
Logo na entrada ele foi informado: “Nós não servimos negros”.
A fama hollywoodiana não subiu à cabeça de Duke, e ele continuou nadando, surfando e remado em alta performance.
Aos 42 anos, ele fez parte da seleção estadunidense de polo aquático, durante os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932.
Vale lembrar que para os padrões da época, 40 anos era considerada uma idade avançada, principalmente se levarmos em conta que a expectativa de vida nos EUA, em 1930, era de 58 anos para os homens. Claro que isso não se aplicava ao “Peixe Humano”!
Duke retornou a Honolulu nessa mesma época, onde passou a ocupar o cargo de xerife do condado, cargo que ocupou por décadas.
Em meados dos anos 1930, o Presidente Franklin Roosevelt viajou para Honolulu para uma visita oficial.
Trajado como o rei Kamehameha, o Grande (que reinou de 1782 a 1819), Duke saiu alegremente a bordo de uma canoa havaiana dupla para cumprimentá-lo, e mostrou aos filhos do então presidente norte-americano como remar de canoa polinésia.
Outro fato bastante curioso sobre seu envolvimento ao lado de líderes mundiais ocorreu em 1959, quando já era considerado um embaixador informal do Havaí (“Embaixador Aloha”) e ensinou à Rainha Mãe Elizabeth, da Inglaterra, como dançar Hula.
Embora nunca tenha se preocupado com a fama e nem em acumular fortunas, Duke começou a emprestar seu nome por um lucro modesto a equipes, competições e equipamentos de surfe.
Um promotor deu a ele um Rolls-Royce com um rack de prancha de surfe no teto, cuja imagem tornou-se bastante famosa na época, ajudando a popularizar ainda mais o esporte.
Em janeiro de 1968, aos 77 anos, Duke estava saindo do Yacht Club de Waikiki, quando foi atingido por um ataque cardíaco fatal.
Uma curiosidade: Kamehameha (1758 – 1819), considerado o último grande rei havaiano, profetizou que após sua morte, antes que seu povo desaparecesse sob o jugo das ações impiedosas de seus colonizadores, impondo um agressivo processo de aculturação e escravidão, um homem traria de volta a fama e o orgulho aos havaianos.
Para muitos, esse homem foi Duke Kahanamoku.