Chris Bertish prepara livro sobre sua épica travessia de SUP pelo Atlântico
Primeiro homem a atravessar o Atlântico remando em pé, Chris Bertish prepara livro sobre a aventura e ... leia mais
Nosso casamento começou com um pedido feito a bordo da nossa OC2. Acho que isso dispensa maiores explicações sobre o motivo de termos escolhido a Polinésia Francesa como destino da lua de mel: aliar os destinos paradisíacos com a possibilidade de remar com um dos povos que carrega no sangue a cultura do esporte que amamos era a chance de realizar um sonho.
Durante o ano, recebemos no Caruanas Va’a, clube que ajudamos a fundar em 2017, a visita de dois grandes remadores: Cauê Serra e Igor Lourenço.
Como os dois já haviam visitado o local, aproveitamos para sugar ao máximo o conhecimento deles não só de remada, mas sobre como aproveitar bem nossa temporada no Pacífico Sul.
Decidimos nos concentrar no Arquipélago da Sociedade. Montamos o roteiro com Taiti-Moorea-Bora Bora-Raiatea-Huahine-Taiti (tentamos muito conhecer Maupiti, a “Ilha Gêmea” de Bora Bora, mas sem o fluxo turístico, porém, os bilhetes já estavam acabados).
Antes de chegar a Polinésia Francesa, nosso voo pararia em Auckland, maior cidade da Nova Zelândia, então, aproveitamos para conhecer esta ponta do triangulo polinésio.
Apesar de não termos conseguido remar lá, pois foram apenas quatro dias na escala, saímos encantados com Aotearoa (nome Maori do país).
É notório como os neozelandeses valorizam e vivem diariamente a cultura ancestral, além de ser um país-exemplo do ponto de vista socioambiental, tolerante, inclusivo, organizado, sustentável e com paisagens deslumbrantes.
Chegamos à Polinésia Francesa no dia 15 de setembro. Pegamos um AirBnb baratinho em Faa’a, onde fica o aeroporto, e tiramos o dia para conhecer Papeete – o que foi curioso: por se tratar de um domingo, o turismo ficou por conta das diferenças culturais.
Não havia praticamente nada aberto na rua, então a saída foi bater perna pelo centro da capital. Na andança, primeiro contato com o Va’a. Vimos algumas canoas saindo dos Jardins de Pā’ōfa’i e encostamos para entender como funcionava.
Fomos recebidos pelo Mark, que nos explicou que no dia seguinte haveria treino ao meio-dia (nota: pra nós, que somos de uma cidade em que o Va’a ainda está em popularização, esse horário para treino regular é extraordinário; ver como este é um horário comum por lá nos ajudou a entender a cultura do Va’a em sua terra natal).
Agradecemos a informação, mas não poderíamos participar, pois no dia seguinte íamos para Moorea.
Nesta ilha, que fica a poucos quilômetros do Taiti (entre 10 e 15, dependendo de onde você vá sair), escolhemos nosso dia de patrão: bangalô sobre a água no Hotel Manava (que significa “bem-vindo”).
No trajeto do desembarque do ferry boat até o hotel, olho no mar: não só pra ver a vista, mas pra mapear onde estavam as canoas da ilha. Encontramos um clube vizinho ao hotel.
Antes mesmo do check in, paramos lá para saber os horários dos treinos: 15h30.
Retornamos no horário marcado para tentar uma vaguinha. Os remadores do estavam se preparando para entrar na água, um treino para a Hawaiki Nui.
Como não tínhamos remo, o Moeino Maitha, capitão do Team Tohie’a, nos ofereceu carona para conhecer seu time, onde teria remos e canoas para treinarmos.
No caminho, fomos conversando na base de francês, inglês e mimica, sobre Va’a. Ele contou que já havia vencido a Air Tahiti Va’a, que remava de Peperu, Fa’ahoro e Tare (leme, voga e capitão), que “Tohie’a” era a montanha mais alta de Moorea e que estava treinando para a Hawaiki Nui.
Ali, nos demos conta do quanto o Va’a acolhe e ensina. Moeino nos apresentou o Fabrice e fomos remar numa Va’a Toru, como eles chamam a V3.
Fizemos a nossa primeira remada da viagem, com muitas dicas sobre técnica e melhor desempenho. Conversamos sobre os treinos das equipes do Tohie’a na Hawaiki Nui e também vimos a nova canoa do Clube, uma Matahina linda nas cores vermelha e branca.
Fabrice fez questão de nos levar de volta para o Hotel e agradecemos demais por essa vivência.
Nossa segunda parada pelas ilhas da Polinésia Francesa foi Bora Bora, o famoso destino dos casais na lua de mel. Na nossa primeira caminhada, vimos várias canoas e, prontamente, fomos procurar onde remar.
Assim como em Moorea, os remadores estavam treinando pra Hawaiki Nui e não conseguimos remar no clube em que conseguimos contato, mas é impressionante como os taitianos são receptivos e afetuosos.
Na nossa hospedagem em um Airbnb conhecemos o Temarii e o Doffa, que emprestaram seus barcos.
A V1 do Temarii estava nova, um barco lindo da Fai Va’a que disponibilizou sem nenhum tipo de vaidade. Já a canoa do Dofa, era uma V1 mais antiga que já participou de várias provas. Que honra!
Fizemos uma remada na praia Matira com o coração cheio de gratidão. Eles foram demais emprestando suas canoas, ficamos muito felizes. Queríamos ter ficado mais!
Próxima ilha foi Raiatea, lugar sagrado dos ancentrais polinésios. Ao contrário das Ilhas como Bora Bora e Moorea, Raiatea é bem maior, mas com apenas 12 mil habitantes. Do aeroporto para a pousada, eram 40 km de estrada, tivemos que alugar um carro pra nos deslocarmos por lá.
Nosso primeiro passeio foi até o Marae Taputapuatea, um templo sagrado e o centro religioso da Polinésia. O Marae era um local de aprendizado, reunião de sacerdotes e lugar de encontro de navegadores. Lá também foi o ponto de saída de uma das primeiras expedições.
Ficamos numa pousada de um francês chamado Cyrille, que nos levou até a praia Opoa para remar com um amigo dele, o Hainui, do clube To’a Hiva Va’a. Ele também estava treinando para a Hawaiki Nui mas tirou um tempinho pra remar com a gente.
Hainui nos levou até a fábrica de pérolas dele e ao Motu Iriru, uma pequena ilha encantadora. Sentimos, mais uma vez, a incrível receptividade dos taitianos em poder proporcionar momentos especiais no Va’a.
Pra fechar nossa passagem por Raiatea, fomos pegar nossos remos novos na casa da Alex e Nathalie, donos da Viper. Que pessoas sensacionais! Nos receberam num sábado à tarde, com uma cerveja gelada e um ótimo papo.
Conversamos sobre o nosso clube, sobre o que já tínhamos feito durante a viagem e sobre o que queríamos fazer, inclusive remar com o Steeve Teihotaata (e, por coincidência, um vendedor da loja em Papeete era melhor amigo do Steeve).
Eles até nos ajudaram com um contato na próxima ilha, Huahine. Saímos de lá super felizes com nossos equipamentos novos e com a conversa que tivemos.
Penúltima parada, na ilha da montanha que forma a imagem de uma mulher grávida, Huahine.
Escolhemos mais um Airbnb pra ficar, casa da Titaua, uma kitesurfista muito gente boa.
Ficamos perto do centro e da praia de Fare. Aproveitamos o contato da Nathalie e Alex pra procurar o Jean Luc, um francês que tem um clube de va’a chamado Fare Ara e uma loja de aluguel de equipamentos esportivos.
Fizemos uma remada de V3 entre a lagoa e o mar, em que Jean Luc nos mostrou de onde parte a Hawaiki Nui.
Depois de conhecer as ilhas voltamos para o Taiti na reta final da viagem, que seria dedicada a um intensivo de Va’a. Em 2018, participamos da clínica com Roland Tere, promovida pelo Vitoria Va’a, e esse contato foi fundamental para viver o Va’a no Taiti.
Apesar de termos tido um contato ao vivo de pouco mais de uma hora com Roland, e algumas interações pelo instagram posteriormente, ele nos recebeu no Taiti como se fossemos amigos de infância. E nos colocou para treinar no time onde agora é coach: Tamarii Punaruu Va’a, de Puna Auia, “cidade” que fica na ilha do Taiti.
O primeiro dia foi de diversão: Roland nos convidou para pegar onda com ele e os amigos do clube no fim da sexta feira. Incrível a receptividade de um cara que ganhou o que podia com a Shell Va’a e no ano passado foi campeão mundial de sprints – para citar algumas conquistas.
Ele foi nos buscar na casa onde nos hospedamos, nos apresentou a presidente do clube e o time que está preparando para a Hawaiki Nui (sua pretensão era ficar no top 10) e fomos pra água.
Ele explicou que a sessão de surf serve pra aliviar um pouco as cobranças e treinos intensos pra competição mais importante da Polinesia Francesa.
Fomos pra água e a sessão de surf foi como esperávamos: só diversão! No dia seguinte é que seria o bicho: eles fariam um treino de 4h, simulando o primeiro trecho da Hawaiki Nui (Huahine – Raiatea) e talvez pudéssemos participar. Ficamos na torcida…
.
No dia seguinte, porém, começamos os treinos em outro clube: Tahiti Va’a Inc, uma iniciativa recém-criada que facilita o acesso de remadores de outros países com os treinamentos taitianos, oferecendo clinicas e camps, além da possibilidade de articular a participação de remadores de fora em provas do calendário oficial do Taiti.
Conseguimos esse contato através da agência Tahiti Tourisme, através da diretora no Brasil, que nos deu apoio e conseguiu viabilizar a oferta de uma clínica para aprimoramento técnico com Milton Laughlin.
Passamos cerca de 1h30 remando em Faa’a com Milton e recebendo ajustes gerais: posicionamento na canoa, melhora no alcance de cada remada, dosagem de força, posicionamento do remo na hora da puxada. De quebra, tivemos a oportunidade de ver as duas canoas da EDT Va’a treinando, com seu time principal. Steevy boy de voga em uma delas.
No turno da tarde, chegou o momento que tantos esperamos: como um integrante do time principal faltou, teríamos a chance de completar a canoa da Tamarii Punaruu Va’a. Alan começou treinando no banco 5. Esse treino foi um divisor de águas.
De início, começamos no ritmo do Huti, a remada alongada, cadenciada e profunda que é marca dos taitianos. Cerca de 30 minutos de aquecimento depois, saímos da lagoa e entramos no mar para treinar os pequenos tiros e aproveitar as possibilidades de surf na ondulação.
Nesse momento, Roland, que inicialmente ficaria no barco, pulou para o banco 3, onde fica o capitão nos times taitianos, e começou a chamar as trocas e mudanças de intensidade no treino. Foi 1h30 de pressão e a canoa deslizando bem nas ondas, um aprendizado técnico e de timing que até hoje estamos processando.
Uma coisa que chama atenção é a aplicação técnica e forca mental que os taitianos mantêm durante todo o treino. Já se passavam de três horas intensas de treino e a qualidade de cada remada não caía: sempre alongada, no time certo do voga e da canoa na água, sentindo a canoa, remando fundo – toda remada é como se fosse a primeira, com qualidade e foco.
Batendo nas 3h30 de treino, retornamos à lagoa para treinar os tiros: duas remadas no ritmo Huti e duas aceleradas, por dois minutos. A cada set concluído, Roland, a essa altura de volta no barco, avisava:
– “Pas fini, pas fini”! (não terminou, não terminou)
Foram dez sets assim. “Pas fini”, lembrou Roland, para entrarmos no ultimo trabalho do dia: 30 segundos de explosão, seguidos de 15 de descanso. Mais cinco sets como esse e chegou o “fini”.
Nossa última incursão foi em uma clínica de V1 com o Steeve Teihotaata. Nos deslocamos até Arue, em um domingo de sol, para encontrá-lo na Fare Va’a Pirae, onde guarda seus equipamentos.
Depois de uma pequena confusão (fomos parar no centro de treinamento da OPT, que fica ao lado), encontramos o local. La estava Steeve com sua família: sua esposa, seu irmão Kevin, e seu filho, Heimana, que o acompanhou na V1 pelo rolê que demos.
Steeve nos mostrou o que considera seus fundamentos na V1 e nos deixou muito à vontade para fazer perguntas, depois nos mostrou as duas canoas que “ganham campeonatos” e que usaríamos naquele dia: uma Timi e uma Tehuritaua, as duas ‘full’ carbono.
Fomos pra agua soltar um pouco a remada, ele observou nossa técnica, fez as correções e frisou que não há segredo, é preciso colocar quilômetros na água pra sentir o efeito de tudo que ele falava.
No rolê, nos mostrou a Pointe Venus, de onde larga a Te Aito, contou alguns causos e relembrou algumas provas, fez várias piadas e nos fez sentir como se fossemos amigos. Que cara gente boa.
No fim do treino, mostrou a sua nova casa, que fica no alto da montanha, e propôs algumas disputas de largada, deixando a gente ganhar e brincando “Vocês estão muito rápidos”.
No fim, presenteamos ele com uma camisa e um boné do nosso clube, e Steeve postou um story dizendo “I’m a Caruanas Va’a new paddler!”.
Parece que agora nosso clube vai começar a ganhar competições!
Existem diversos voos e opções de pacotes para viajar do Brasil para a Polinésia Francesa, porém, nós do AlohaSpiritClub recomendamos a Widex Travel, agência de viagens especializada em destinos procurados por remadores e surfistas.
Entre em contato com a Widex Travel para saber mais sobre pacotes e cotações de viagens para a Polinésia Francesa, entre outros destinos, ou solicite o orçamento por e-mail widex@widextravel.com.br ou pelo Telefone e Whatsapp Business 11 3565-1260.