Curso Básico de Va’a | Remando com segurança
Remando com segurança, um tema fundamental a todo praticante de canoa polinésia, é o tema do 10º capítulo ... leia mais
Enfrentar o frio pode não parecer muito agradável para as almas mais tropicais, mas é um desafio a ser considerado por quem quer explorar novas paisagens e sensações mundo afora. “A maior recompensa são as coisas que você vê. Os icebergs, a natureza, os animais e a solidão. É silencioso. É você contra os elementos”, conta o remador holandês Bart de Zwart, que encarou o frio do Ártico para fazer uma expedição pela Groelândia em 2013.
Com o equipamento adequado, muitos remadores conseguem hoje aproveitar o ano todo para remar, mesmo em locais em que as temperaturas vão bem além do zero.
Para remadas em águas extremamente frias, é recomendável usar um drysuit, que é uma roupa vedada, relativamente leve, que impede a entrada de água. Por baixo do drysuit, colocam-se outras camadas de roupa para fornecer o aquecimento adequado de acordo com o frio e com o metabolismo do praticante.
“Remar em água fria se resume a ser capaz de colocar e tirar camadas”, afirma Bart de Zwart, que já precisou colocar duas luvas para remar. Pensar em camadas é a estratégia adotada por muitos remadores para lidar com um dos principais desafios das remadas em temperaturas baixas: conseguir se proteger suficientemente do frio e, ao mesmo tempo, não se aquecer demais.
Proteger as extremidades como pés e mãos, aliás, é também muito importante. Marcelo Bosi, que em 2019 participou da histórica expedição de va’a à Antártica, conta que por não ter usado luvas adequadas foi obrigado a reduzir o tempo de remada para evitar o congelamento das mãos:
“Comprei luvas para escalada em montanhas acreditando que elas resolveriam o problema, porém, com a movimentação da remada, à medida que elas molhavam, a mão ia congelando e éramos obrigados a parar”, revela.
Enquanto o drysuit é uma boa solução para remadas longas em situações mais extremas, ele deixa a desejar quando usado para treinos mais pesados. “Eles podem ficar quentes demais e você fica molhado por conta da transpiração, o que acaba frustrando o objetivo da roupa”, diz o atleta canadense Norman Hann, que conduz expedições de SUP em British Columbia, costa oeste do país. “Os fabricantes estão começando agora a lançar drysuits que respiram mais e funcionam melhor para quem quer remar sob baixas temperaturas”, acrescenta.
Quando as temperaturas não passam muito do zero, uma outra opção é usar um wetsuit. Ao contrário do drysuit, a roupa de borracha permite a entrada de uma camada de água que, aquecida pelo corpo, acaba se transformando em um mecanismo para manter a temperatura estável.
“O custo do wetsuit é bem menor. Pode ser inicialmente uma boa compra porque você pode usá-lo para remadas durante o inverno, para descer rios e surfar. Mas eles são muito restritivos para remar, especialmente os mais espessos”, aponta Hann, que costuma usar uma calça de borracha de 1,5 a 2 mm de espessura no inverno, por baixo de um short, e uma jaqueta de manga comprida de 1,5 mm, já que em sua cidade, Squamish, as temperaturas são relativamente moderadas, girando em torno do zero grau no inverno.
O remador pode usar mais ou menos roupas de acordo com as suas chances de cair na água, mas deve estar sempre preparado para a imersão. A água conduz calor 25 vezes mais rápido do que o ar, de forma que uma queda na água gelada sem o devido preparo pode levar facilmente à hipotermia. Se a probabilidade de cair for pequena, o remador pode optar por menos proteção, mas, em contrapartida, levar mais em conta todos os demais equipamentos de segurança.
Pés e mãos ficam em contato constante com a água, então precisam de um cuidado especial. Os remadores usam botinhas de neoprene de 5 mm de espessura em um frio mais ameno e de 7 mm para as temperaturas mais congelantes. Já para as mãos, as luvas de neoprene podem não ser suficientes. “Eu uso luvas de neoprene às vezes, quando estou surfando no inverno, mas você não tem uma boa pegada com elas. Em dias mais frios e em remadas mais longas, prefiro usar uma luva de esqui leve, luva de lã merino ou qualquer luva que aqueça mais. Já usei luva de neoprene para remadas em dias frios e meus dedos congelaram”, conta Norman.
Leash e colete salva-vidas tornam-se ainda mais importantes nas condições adversas de temperatura, afinal, você não vai querer perder a prancha em uma água congelante. O colete, além de fornecer flutuação, serve como uma camada a mais de aquecimento. É importante também ter algum equipamento de comunicação, seja um celular, rádio ou aparelho de comunicação via satélite.
Para completar a bagagem, é uma boa ideia levar uma garrafa térmica com água ou chá quente!