Programação do Aloha Spirit Ilhabela 2023
Tudo pronto na Praia do Perequê, em Ilhabela, para a abertura do Aloha Spirit Festival 2023. A competição ... leia mais
O Aloha Spirit Ilhabela reuniu mais de 1000 competidores de diversas partes do Brasil e do mundo para as disputas das mais variadas modalidades aquáticas. O super evento aconteceu nos dias 11, 12 e 13 de março com arena montada na praia do Perequê, na região central da cidade.
Em busca de apoiar, incentivar e fomentar a cultura dos esportes do mar, o festival há anos, conta com disputas de canoas, stand up paddle, paddleboard, natação e surfski também nas categorias PCD (pessoas com deficiência). Apesar da estrutura ainda ter o que melhorar, o Aloha Spirit foi uma das primeiras competições aquáticas no Brasil a se adaptar para receber e atender o público.
“O mais importante é a raiz, é o que realmente move o evento a ser uma arena que apresente total acessibilidade e essa raiz é não fazer as coisas para ser socialmente correto ou para ser bem visto, o Aloha faz por que é obrigação igualitária atender atleta geral e atleta PCD”, fala João Castro, CEO do Aloha Spirit Festival. “A tarefa não é nada fácil, sabemos o que tem que ser feito, mas sim, depende muito de investimento. Este ano por exemplo, voltando da pandemia, posso dizer que o Aloha Spirit regrediu neste setor, que ele não atendeu como deve atletas PCD”, completa ele.
Após dois anos sem evento, o Aloha Spirit Ilhabela decretou a volta do festival. João explica que, infelizmente, a acessibilidade da arena em seus principais pontos, cinema com intérpretes de libra, áudio descrição e chamadas de anjo PCD eram realidades nos eventos, mas não aconteceram nesta última edição por conta de falta de investimento.
“Este ano não tivemos piso no espaço conexões, fazendo com que a areia fosse o piso, isso não inviabiliza o transito da maior parte de pessoas, mas inviabiliza 100% a movimentação de cadeirantes. Isso não foi uma escolha, mas uma necessidade”, explica ele. “Estou orgulhoso do lento caminho que estamos trilhando, há anos, e sei que vamos chegar onde nós temos por obrigação chegar que é na excelência”, finaliza.
A organização ainda trabalha para tornar o evento mais inclusivo, mas os atletas PCD participantes mostraram, em disputas emocionantes da última etapa, que estão extremamente fortes.
Fabiano Affonso coleciona títulos nas categorias em grupo e individual de canoagem oceânica. Aos 45 anos, ele pode dizer que já passou por muitas reviravoltas nessa vida. Muito antes de começar a remar, aos cinco anos, descobriu-se que ele sofria de severa perda auditiva bilateral e precisaria de um aparelho auditivo. Aos 21 anos, Fabiano começou a remar e rapidamente o seu talento se destacou. No entanto, tudo mudou quando ele já tinha quatro títulos nacionais de canoagem oceânica.
Um ladrão armado tentou roubar sua moto e gritou para ele parar. Mas por conta da questão auditiva e porque usava capacete, acabou não percebendo a situação e sofreu um disparo de tiro no rosto. O incidente deixou sequelas graves: Fabiano ficou cego, perdeu o olfato e quase toda a audição.
“Comecei a remar novamente em 2016, quando consegui um ergômetro para o meu treinamento, pois não havia mais ninguém para praticar comigo no surfski duplo”, disse Affonso. “(Mas) em 2017 consegui um parceiro de treinamento, em 2018 fomos campeões brasileiros em surfski duplo e participamos do ‘Nelo Summer Challenge’ em Portugal“, completou. Atualmente, ele é heptacampeão brasileiro, somando provas duplas e individuais, e agora ele e seu parceiro de prova, conseguiram uma vaga para o mundial de paracanoagem, que acontecerá em Portugal, no dia 6 de outubro.
No ano passado, na prova do Aloha Spirit do Leme ao Pontal, Fabiano conseguiu pela primeira vez concluir a prova inteira junto com seu guia Vinicius Ferreira Martins – que vai em outro caiaque atrás do atleta. “No do Leme ao Pontal eu conclui 36km em 4h29 e me consagrei o primeiro deficiente visual do mundo a concluir uma prova de canoagem oceânica”, conta ele
Robson Careca Iniciou a sua trajetória no esporte em 1978. Surfista, nadador, remador, corredor, ciclista, mergulhador e pescador, ele sempre viveu na pele a cultura do mar. “Em 1998 sofri um acidente de carro e me tornei cadeirante”, conta ele. No entanto, o amor pelo esporte prevaleceu e superou, inclusive, todos os prognósticos.
Referência dentro do circuito nacional, Careca teve a ideia de transcender a sua relação com o mar e levar isso a outros paratletas. “Tive a iniciativa de desenvolver o Projeto Mão na Borda que tem como objetivo fomentar o esporte adaptado para todas as pessoas, incluindo o turismo, lazer e acessibilidade com inclusão e responsabilidade social”, conta ele sobre a ação.
O trabalho de Robson Careca já alcançou e colocou em contato com modalidades aquáticas, centenas de pessoas com diversos tipos de deficiência (PCD). Dessa forma, ele mostra que não existem limites quando a conexão com o mar é verdadeira.
Quanto a competição no Aloha, ele afirma que ainda tem pontos a melhorar. “A importância de eu competir no Aloha é gratificante e divertido, mas para incentivar mais atletas a participar do evento e circularem com autonomia e conforto, seria interessante melhorar a acessibilidade e incluir uma premiação em dinheiro”.
Telmo Rodrigues tem 47 anos e cresceu em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. “Em 2016 fui atropelado, em minha moto, por um motorista de carro que fugiu sem prestar socorro”, conta ele. “Testemunhas chamaram o resgate e eu fui levado ao Pronto Socorro de São Sebastião e, se não fosse a agilidade no atendimento, teria perdido a vida”, completa.
O atleta conta que desde o acidente, ele passou por uma longa jornada de aceitação, adaptação e superação. “Graças ao apoio da família e amigos, passei por isso bem e, em apenas três meses após o acidente, já estava na piscina, treinando e competindo. E fui protetizado em março de 2017”, conta.
Paratleta em quatro modalidades, sendo elas, natação em águas abertas, natação em piscina, canoa polinésia e surf, ele alcançou conquistas de peso. Títulos como campeonato brasileiro de natação PCD em águas abertas, campeão brasileiro de canoa polinésia, quarto colocado no sulamericano de va’a são só alguns deles.
Atualmente, Telmo também é voluntário no projeto Onda Azul, que promove o surf como ferramenta terapêutica para autistas, e no Festival de Surfe para Autistas de Balneário Camboriú/SC e dá uma aula de civilidade. “Somos as pessoas com deficiências (PCD) vistas como coitados ou heróis, quando, na verdade, somos apenas pessoas, porque é como na frase de Jean Paul Sartre “não importa o que a vida fez de você, mas o que você faz com o que a vida fez de você”, finaliza.
Telmo também destaca a importância do esporte e dos festivais de esportes. “A meu ver, o esporte é, se não a melhor, uma das melhores ferramentas de transformação e inclusão. E o ALOHA, assim como outros circuitos de esportes aquáticos proporciona isso”, conta ele. “Perceber o seu corpo trabalhando, em contato, em sincronia e fazendo parte do todo – água, terra e ar – é gratificante”, finaliza.
Uma das grandes questões enfrentadas por PCD’s são as faltas de oportunidades também nos treinos de diferentes esportes. Na contramão dessa realidade, Ricardo Allmada, um dos pioneiros do paddleboard no Brasil, montou uma assessoria, a Allmada/ Supirados, na qual, além de instrutor, também é grande incentivador do parapaddle, a versão adaptada para pessoas com deficiência.
Além do curso ser gratuito, ele mesmo fica responsável pelo preparo da prancha, feita sob medida para o praticante. “Desde 2015 já passaram atletas com as mais diversas deficiências: física ,motora, auditiva, visual, amputado, tetraparesia e o esporte tem a missão de melhorar a qualidade de vida, condicionamento físico, potencializar a motivação, socializar e incluir”, conta Ricardo.
Hoje a atividade acontece aos sábados na represa Billings (bacia Rio Grande da Serra) na base Allmada & Supirados, coordenada pelo próprio Ricardo Allmada. Para participar é necessário passar por uma triagem , onde se verifica quais as necessidades especificas do novo remador. “As adaptações são individualizadas para maior conforto, segurança e performance”, conta ele.
Por fim, Ricardo deixa um questionamento: “Se não houver incentivo dos organizadores de prova, ou ainda o apoio de mentores e bases engajadas nessa filosofia, como o PCD será desafiado a superar seus limites dentro do esporte? Como vamos falar sobre inclusão se não dermos acessibilidade no esporte?”
O circuito 2022 começou em Ilhabela nos dias 11, 12 e 13 de março. A segunda etapa chega pela primeira vez em Angra dos Reis, nos dias 17, 18 e 19 de junho, depois segue para a terceira em Saquarema nos dias 19, 20 e 21 de agosto, e, por último, o circuito se encerra em Niterói nos dias 23, 24 e 25 de setembro.
As inscrições para a etapa Angra dos Reis já estão abertas. O Aloha Spirit Festival tem a produção da Ecooutdoor Sports Business. Para mais informações acesse alohaspirit.com.br.