Após meses de suspense, Hawaiki Nui va’a será adiada para 2021
Uma das provas de va’a mais importantes do mundo, Hawaiki Nui Va'a será adiada para 2021. É a primeira ... leia mais
O que faz de um acontecimento uma boa história é a profundidade de suas emoções, a complexidade dos personagens envolvidos, o desenvolvimento dos eventos e os contextos que moldam as ações e reações. Uma boa história revela camadas de significado, permite uma conexão emocional e intelectual com o público, e muitas vezes deixa um impacto duradouro que ressoa além do momento imediato.
Embora vídeos efêmeros de Instagram e TikTok estejam na moda, nada supera uma boa história escrita, onde há tempo e espaço para explorar as nuances, os detalhes ricos e as jornadas transformadoras que constituem uma narrativa envolvente e memorável.
Quem está verdadeiramente envolvido com a va’a, e não embarcou nessa canoa apenas por modismo ou oportunismo, certamente está de olho na jornada transformadora da equipe brasileira Team Mirage He’e Nalu, guiada pelo mestre taitiano David Tepava. Tudo começou quando o empresário Naideron Jr trouxe o renomado técnico da Shell Va’a para o Brasil no final de 2023. Inicialmente, Tepava iria realizar alguns treinamentos com as duas equipes do Team Mirage, além de ministrar clínicas abertas ao público. Tudo muito protocolar e bem definido. O que ninguém esperava era que desse encontro surgisse uma relação tão forte.
Tive a sorte de acompanhar as primeiras semanas do encontro entre Tepava e o Team Mirage. Certamente havia admiração e respeito dos brasileiros pelo lendário técnico taitiano, mas isso não tornou o início da convivência fácil. Imagine fazer parte de uma equipe de va’a imbatível em seu país e, de repente, ouvir de um estrangeiro que você precisa mudar completamente a forma como rema? Era evidente que Tepava enfrentaria alguma resistência e questionamentos por parte dos brasileiros e, por isso mesmo, foi inspirador testemunhar como todos lidaram com essa situação delicada, onde uma palavra fora do lugar poderia comprometer tudo, e construíram juntos um trabalho que transcendeu a parte física e técnica, impactando a vida de todos (inclusive a do mestre taitiano). “Va’a is feeling” (canoa é sentimento), diria Tepava.
No fim de janeiro o taitiano voltou à sua ilha, mas continuou acompanhando, mesmo à distância, a evolução dos remadores brasileiros, agora apadrinhados por ele. Surgiu então o convite para viajarem à Polinésia Francesa e competirem na Vodafone Channel Race, uma das mais importantes e difíceis provas de V6 do mundo. A Shell Va’a, equipe treinada por David Tepava, é tetracampeã consecutiva da desafiadora competição de 60km, disputada em mar aberto, entre as ilhas de Taiti e Moorea.
Por ser uma viagem demasiadamente cara, nem todos os remadores da Team Mirage conseguiram levantar verba suficiente para ir ao Taiti, mas os que lá estão, foram tratados desde a sua chegada como parte da “família Shell Va’a”, o que inclui conviver e treinar junto, preparando-se para o desafio.
Durante a recente live que fiz com Paulo dos Reis, Luana Vittorazzo e Marcelo Bosi, perguntei ao Paulão, em tom provocador, se havia algum tipo de ciúme dos remadores da Shell em relação à atenção que os brasileiros estavam recebendo de David Tepava. Como eu imaginava, a resposta foi que não havia nenhum tipo de ego envolvido. Pelo contrário, os remadores da Shell, que são ídolos em sua ilha, assim como os jogadores de futebol são no Brasil, trataram os brasileiros com respeito e simpatia desde o primeiro encontro.
Agora, após duas semanas de treinamentos intensivos ao lado da melhor equipe de va’a de todos os tempos e sob os cuidados do David Tepava, a equipe Team Mirage terá a honra de participar da Vodafone competindo em uma canoa oficial da Shell Va’a e acompanhada de perto pelo mestre taitiano passando orientações em seu barco de apoio.
Compõe a Team Mirage no Taiti: Carlos “Chinês” Ribeiro, Paulo dos Reis, Henrique Vogel, Pedro Weichert, Leonardo Monte e Felipe Mazur. Na Vodafone Race eles receberão o reforço dos brasileiros Marcelo Bosi, Leonardo Lorang e Gustavo Alvarenga.
Inicialmente, havia um plano de fusão entre remadores do time B da Shell Va’a e a Team Mirage para participação na competição, já que nem todos da equipe brazuca conseguiram viajar ao Taiti. No entanto, este ano, a Vodafone oferecerá uma premiação paralela às equipes estrangeiras que participarão da prova, o que levou à ideia de uma participação de uma equipe 100% brasileira, reforçada pelos três grandes remadores que também estão passando uma temporada na Polinésia Francesa.
Mas a participação brasileira não para por aí! Robert Almeida, atual campeão brasileiro de V1 e OC1, participa da prova competindo ao lado de Kevin CJ na equipe Huahine.
Além dos homens, a brasileira Luana Vittorazzo, por conta de seu excelente desempenho na Te Aito, aceitou o convite para participar da prova competindo junto à equipe taitiana Ihilani, ao lado da super remadora Vaimiti Maoni.
Sendo assim, prepare seu coração, pois, neste sábado, 15 de junho, a Polinésia Francesa será o palco de mais um importante capítulo dessa grande história.