Prancha Mágica: Por Lena Guimarães Ribeiro
Nesta semana, Lena Guimarães Ribeiro, tetracampeã brasileira e medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos ... leia mais
Em dezembro de 2020, publicamos aqui no Aloha Spirit Mídia uma matéria sobre a primeira ama de canoa polinésia da história impressa em 3D, feita por um brasileiro, Rodrigo Velazquez, um dos proprietários da Genesis e projetista das canoas.
O artigo causou alvoroço na comunidade e dividiu opiniões. Enquanto uns enxergaram ali um caminho para a evolução na fabricação de canoas, outros afirmaram ser impossível utilizar essa tecnologia, pelo menos a curto prazo, na fabricação de um va’a – ainda que no exterior já existam empresas imprimindo barcos inteiros em 3D.
Pois bem, no último domingo, Rodrigo divulgou fotos de sua última criação: uma OC-1 impressa em 3D e, como era de se imaginar, a comunidade do va’a novamente ficou agitada.
Sendo assim, para entendermos melhor o processo, o jornalista Luciano Meneghello, diretor de conteúdo da plataforma Aloha Spirit Mídia, bateu um papo com Rodrigo, que é arquiteto de formação, especializado em apresentação de projetos e modelagem 3D e marceneiro amador nas horas vagas. Confira:
(risos)
Em dezembro, quando mostrei pela primeira vez a ama impressa, eu já tinha a intenção de fazer a canoa toda e estava muito otimista sobre a viabilidade do processo. Porém percebi coisas que ainda deveriam ser ajustadas e imaginei que o mesmo poderia acontecer durante o processo de impressão da canoa, como realmente ocorreu. É um aprendizado constante, tentativa e erro. Estar disposto a rever conceitos e abandonar ideias é fundamental, daí que estipular um tempo de 5 anos me pareceu prudente naquele momento. Felizmente o conhecimento acumulado me permitiu a conclusão num tempo muito inferior ao previsto.
Sim um enorme avanço. Ao construir essa canoa minha intenção foi apresentar uma nova forma de produzir um protótipo funcional de um equipamento desse tipo, seja ele qual for.
A impressão 3D é um dos diversos processos que se baseia em “manufatura aditiva”, que nada mais é que criar objetos com adição de material. Um processo de usinagem em CNC subtrai ou desbasta algum material para dar forma ao volume pretendido.
Ambos tem suas características, vantagens e desvantagens, porém todos eles necessitam de um projeto CAD 3D criado anteriormente.
Essa canoa levou 60 horas para ser impressa. Foram 5 dias com a impressora trabalhando em média 12 horas por dia. A ama levou 12 horas para ser impressa.
Sim. A escolha de um modelo de canoa surf apresenta vários desafios quanto à resistência, ergonomia e usabilidade. É uma “escola”. Um dos grandes atrativos nesse processo de produção de protótipos é a facilidade de um novo modelo ser impresso e testado novamente, já com novas soluções e ideias incorporadas.
A diferença principal é não precisar de molde ou de uma usinagem tradicional para chegar no desenho pretendido. A canoa sai do meio digital para a realidade sem nenhum processo intermediário.
Após o modelo ter sido impresso, é feita uma laminação e acabamento sobre a peça, o que confere resistência necessária para uso funcional. Comparando processos e materiais a impressão 3D teria uma função similar ao bloco de EPS usinado (isopor) com características de um laminado com núcleo tipo “sandwich” que só é obtido através de construção usando molde.
Pensando em produção de protótipos o custo de produzir um molde é muito alto para o risco inerente que existe. O projeto pode não ficar bom e necessitar de ajustes. Fazer isso num molde é possível, porém é bem oneroso e demorado, daí que não é uma escolha economicamente interessante para protótipos. Outra maneira de se produzir protótipos é laminando EPS usinado e depois removendo ele através de produtos químicos ou calor. A meu ver a produção de protótipos via impressão 3D leva grande vantagem no custo.
Continuar estudando as possibilidades desse novo processo produzindo mais protótipos funcionais de produtos diversos. O mercado brasileiro de canoa polinésia não é um ambiente fértil para a criação de projetos realmente novos. Essa carência no desenvolvimento de projetos é um aspecto perverso da falta de investimento em educação e incentivo à formação acadêmica e científica no país. O mercado merece mais produtos de qualidade com propostas inovadoras.