Matinhos x Ilhabela | 500 km de remada pelo litoral brasileiro
Remadores paranaenses Matheus Ramos Navarro e Arthur Aguiar Bernardes realizam travessia de 500 km a ... leia mais
Recentemente postamos uma matéria intitulada “Remar gripado faz mal?” inspirada em um artigo publicado pela norte-americana Jodelle Fitzwater, embaixadora da Bic SUP, nutricionista e professora de yoga há mais de 15 anos.
Na matéria, Fitzwater defende que a prática de atividade física moderada (usando como exemplo a remada), em casos em que a gripe ou resfriado se encontram em estágio inicial, tem um efeito restaurador e que, portanto, seria, além de benéfica, uma importante aliada no combate à enfermidade.
Para exemplificar seus argumentos, a especialista citou conceitos como o relaxamento ativo e a absorção de vitamina D pelo corpo proveniente dos raios de sol (pois trata-se de um atividade ao ar livre), importantíssima para o fortalecimento de nosso sistema imunológico.
No entanto, o fato de Jodelle não ser uma profissional a área da saúde e nem uma especialista em fisiologia do exercício levantou uma dúvida em um grupo de whatsapp onde a matéria foi compartilhada: “Mas o que diria um médico sobre isso?”.
Para não deixar dúvidas sobre o tema, entramos em contato com o Dr. Jairo Costa, pneumologista que atende na região da Grande São Paulo e praticante de stand up paddle nas horas vagas:
“Primeiramente, antes de iniciar uma atividade física, é recomendável a qualquer pessoa fazer um check up e consultar um médico. No caso do artigo, considerando que se trata de uma pessoa que já se exercita regularmente, de fato a prática de atividade física de baixa intensidade em situações de gripe ou resfriado em estágio inicial, ou final, é benéfica e acelera o processo de cura, pois fortalece nosso sistema imunológico. Nessa situação, vale ressaltar, é indispensável manter-se hidratado o tempo todo e usar sua própria garrafinha de água, evitando assim o risco de contaminar seus colegas em caso de gripe”, esclarece o médico que, no entanto, faz uma ressalva:
“Quando já estamos acometidos pela doença, apresentando sintomas fortes como dor de cabeça, febre, dores musculares e peito congestionado, o mais indicado a fazer é dar um tempo ao corpo. Nesse caso, nada de exercício até que os sintomas fiquem mais amenos”, pondera.
ESPECIALISTA EXPLICA OS CONCEITOS
Para ir mais a fundo no tema, entramos em contato com o Prof. Dr. Heros Ferreira, Fisiologista Olímpico que atuou como um dos grandes responsáveis na formação da Seleção Brasileira de Canoagem de Slalom e Velocidade.
Doutor Honoris Causa em Ciência do Esporte e Pós-doutor em Fisiologia Médica, Dr. Heros é considerado um dos maiores especialistas do Brasil no campo da ciência do esporte.
De sua clínica, a “Heros Sport Science”, localizada em Balneário Camboriú (SC), ele gentilmente atendeu ao Aloha Spirit Club e respondeu as seguintes perguntas:
O senhor poderia nos explicar o conceito de relaxamento ativo?
Durante o exercício, a energia para a contração muscular é suprida por moléculas de ATP produzidas durante a respiração celular. O ATP atua tanto na ligação da miosina à actina quanto em sua separação, que ocorre durante o relaxamento muscular. Quando falta ATP, a miosina mantém-se unida à actina, causando enrijecimento muscular. Nesse sentido, o relaxamento é uma técnica física que auxilia nos estados de estresse, tensão muscular, ou ainda como meio revigorante que atua beneficamente sobre sua saúde física, mental e emocional.
Recentemente publicamos um artigo abordando temas como o relaxamento ativo aplicado à canoagem e ao stand up paddle. No caso, essa prática seria capaz, inclusive, de ajudar na recuperação de remadores em início de resfriado. Isso faz sentido?
Veja, na verdade é que os exercícios reforçam a imunidade e previnem gripes e resfriados. Mas, se a doença já pegou você, nem sempre a melhor coisa é ir para a academia ou treinar. A American College of Sports Medicine, principal instituição americana de medicina esportiva, defende que é possível treinar até 30 min de atividades moderadas em dias alternados se os sintomas são amenos e se resumem a dor de cabeça, nariz escorrendo ou tosse. Ainda, voltar ao treinamento quando estiver quase bem.
As endorfinas liberadas pelo exercício têm efeito analgésico e relaxante muscular, por isso ajudam a aliviar sintomas leves.
A exposição ao sol também ajudaria a fortalecer nossas resistências por conta da vitamina D? E, caso sim, de que forma essa exposição pode ser benéfica?
Sim. A vitamina D é um hormônio esteroide lipossolúvel que pode ser obtido após exposição solar ou por meio da alimentação. A substância é essencial para o corpo humano e sua ausência pode proporcionar uma série de complicações.
Ela é necessária para a manutenção do tecido ósseo e também influencia consideravelmente no sistema imunológico, sendo interessante para o tratamento de doenças autoimunes e no processo de diferenciação celular.
A falta do nutriente favorece 17 tipos de câncer. A Vitamina D ainda age na secreção hormonal e em diversas doenças crônicas não transmissíveis, entre elas a Síndrome Metabólica, que tem como um dos componentes o diabetes tipo 2.
Para evitar a carência do nutriente é interessante incluir na dieta alimentos ricos nesta substância e também tomar entre 15 e 20 minutos de sol sem proteção solar e com braços e pernas expostos todos os dias.
Treinar ao ar livre, nos meses de inverno, aumenta as chances de contrairmos uma gripe (ou resfriado) ou seria o contrário?
A literatura científica é repleta de artigos que relatam estudos sobre os benefícios dos exercícios para reforço do sistema imunológico, havendo uma opinião praticamente consensual de que a atividade física moderada é a forma mais adequada para este propósito.
O mecanismo da melhora da defesa está associado a um efeito da atividade física regular em promover um aumento das linfócitos, células denominadas “natural killers”. A célula natural killer, linfócito atuante no sistema inato, tem como função destruir células tumorais ou infectadas por vírus. Outro fator que colabora para a proteção do organismo é o fato de a atividade física promover a diminuição do estresse.
Como nosso corpo funciona de maneira harmoniosa, com inter-relação entre os sistemas nervoso, endócrino e imunológico, a redução do estresse faz com que o organismo se fortaleça e fique menos suscetível a diversas doenças.
Existe uma atividade física ideal, nesse caso?
Quanto à melhor forma de atividade para fortalecer o sistema imunológico, parece não haver grande diferença entre as diversas modalidades, prevalecendo sempre o conceito do exercício moderado.
Existem também evidências de que os exercícios com pesos, desde que respeitando o conceito de adequação de carga, também podem melhorar a imunidade. O que se deve evitar são os exercícios de intensidade acima de um limite crítico, que reconhecidamente vão ter o efeito inverso, diminuindo a imunidade e aumentando a incidência de doenças por enfraquecimento imunológico.
Quando seria a hora certa para parar e dar um tempo nos treinos para nosso corpo se reestabelecer?
Devemos parar sempre que houver:
Falta de ar. Um pouco de dificuldade pra respirar é normal depois de um treino intenso, principalmente um cardio ou um HIIT (Treino Intervalado de Alta Intensidade).
2- Dor no peito;
3- Dores tardias;
4- Variações de humor;
5- Sono ruim;
6- Cansaço excessivo;
7- Sensação de desidratação.
Fora isso, nunca parar!