
Marcelo Dias será o diretor de prova no Aloha Spirit Alcatrazes
Marcelo Dias será o diretor da prova de va'a no Aloha Spirit Alcatrazes, a primeira competição de remada ... leia mais
O Campeonato Pan-Americano de Va’a 2025, que será realizado entre os dias 18 e 22 de novembro em Rapa Nui (Ilha de Páscoa), acabou no centro de uma controvérsia após a exclusão inicial das categorias V6 Parava’a e Master 70, 75 e 80 do boletim oficial divulgado pela organização do evento. A medida causou indignação entre atletas brasileiros e provocou uma forte reação pública da Confederação Brasileira de Va’a (CBVA’A), além de uma enxurrada de manifestações nas redes sociais direcionadas à organizadora local, a Asociación Vaka Ama Rapa Nui.
As categorias afetadas constavam na seletiva brasileira realizada no início do ano, que definiu os atletas que representarão o país no Pan-Americano. O Brasil é o único país do continente que conta com atletas inscritos nas faixas etárias Master 70, 75 e 80. Ao constatar a ausência dessas provas no primeiro boletim da competição, a CBVA’A iniciou conversas internas com a organização do evento em busca de uma solução institucional.
No entanto, antes que as tratativas fossem concluídas, a atleta Simone Rizk, remadora da categoria Master 70, publicou um vídeo em seu perfil no Instagram denunciando a exclusão e expressando, de forma emotiva, sua frustração com o que classificou como etarismo por parte da Asociación Vaka Ama Rapa Nui. No mesmo vídeo, Simone criticou a CBVA’A, acusando a entidade de não defender os atletas brasileiros.
A publicação teve forte repercussão entre a comunidade de va’a no Brasil. Comentários indignados e mensagens de protesto passaram a ser direcionados à organização da prova, muitas delas em tom agressivo. Diante da pressão pública, a CBVA’A divulgou uma nota oficial reforçando sua posição institucional e relatando os esforços realizados nos bastidores.
No texto, a CBVA’A classificou a exclusão como “um absurdo” e afirmou que a decisão contrariava o regulamento da Federação Internacional de Va’a (IVF), que reconhece oficialmente as categorias em questão. “Mobilizamos todos os esforços possíveis, de forma incansável e estratégica, para garantir a inclusão dessas categorias que são, por direito e por merecimento, parte essencial do evento”, afirma o documento assinado pelo presidente Jefferson Cabral. A entidade confirmou ainda que, às 20h45 do dia 10 de junho, recebeu o deferimento da inclusão das categorias e que a organização publicará um novo boletim até julho com as atualizações.
Nossa reportagem também procurou a Asociación Vaka Ama Rapa Nui, responsável pela organização do Pan-Americano. Em resposta, a entidade reconheceu que inicialmente teve dificuldades logísticas para incluir as categorias em razão da limitação de canoas e da capacidade de hospedagem da ilha, que é uma das mais isoladas do mundo. A associação também confirmou que o Brasil é o único país com competidores nessas categorias.
“Após solicitação da CBVA’A estamos trabalhando pela inclusão essas categorias, mesmo diante das dificuldades para adicioná-las. Mas ao verificarmos as regras da IVF, vimos que elas, de fato, eram obrigatórias”, afirmou um representante da organização com quem conversei por troca de mensagens. A Vaka Ama Rapa Nui reforçou mais uma vez que já está trabalhando para solucionar o problema: “Demoramos um tempo para encontrar a solução, mas ela foi aceita”, concluiu.
O episódio revela um choque entre diferentes contextos de desenvolvimento da va’a nas Américas. No Brasil, o esporte tem crescido rapidamente e se estruturado com apoio de órgãos públicos. Em contrapartida, na maioria dos outros países do continente, a va’a ainda é um esporte pequeno, com pouca visibilidade e quase nenhum apoio institucional ou financeiro. Organizações como a Asociación Vaka Ama Rapa Nui operam com estruturas enxutas e muitos desafios logísticos.
Embora compreensível, a reação da atleta Simone Rizk acabou antecipando um embate institucional que já estava sendo conduzido pelos meios adequados. Episódios como esse evidenciam a importância de manter o diálogo entre federações em nível diplomático e institucional, evitando que redes sociais ditem os rumos de questões organizacionais delicadas.
Com a situação aparentemente resolvida, a expectativa agora é que o novo boletim oficial confirme a inclusão das categorias seja publicado até o início de julho e que o Pan-Americano siga com a participação plena dos atletas brasileiros. O episódio deixa, contudo, uma reflexão importante sobre comunicação, representatividade e os desafios de construir um esporte internacional de forma colaborativa.