
Mau Piailug – Capítulo final: Ao mestre com carinho
No capítulo final, a saga de Nainoa Thompson para se tornar um discípulo de Mau Piailug e manter viva a ... leia mais

Elas se chamam Vaimiti, Vehi, Nateahi, Iloha e Jenny. Movidas por uma paixão em comum, elas não apenas remam juntas; elas escrevem a história. A equipe feminina do clube Ihilani Va’a alcançou um feito importante em outubro de 2025: tornaram-se a primeira equipe feminina taitiana a cruzar a linha de chegada em primeiro lugar na Na Wahine O Ke Kai, a mítica e desafiadora travessia havaiana, considerada o ápice das corridas de longa distância para mulheres.
Apesar de toda a tradição e ancestralidade da va’a na Polinésia Francesa, a participação de equipes femininas em competições é um fenômeno relativamente recente. O marco inicial foi a lendária equipe Poehine, que competiu pela primeira vez na Hawaiki Nui em 1995. 16 anos de atraso comparação com o Havaí, onde as equipes femininas competem oficialmente desde 1979, sendo a criação da Na Wahine O Ke Kai um marco desse movimento. Desde então, a va’a feminina cresceu de forma tímida no Taiti, ganhando força e expressão apenas a partir da década de 2010.
A vitória das taitianas no Havaí foi o resultado de um projeto de cinco anos, consolidado por um grupo que se tornou uma verdadeira família. “Somos todas apaixonadas por este esporte. Quer tenhamos começado pequenas ou muito recentemente, todas temos o mesmo objetivo: nos divertir, trabalhar e progredir juntas, e encontrar aquele tāhō’ē (espírito de união) tão importante na va’a”, confidencia Vaimiti Maoni, que acumula as funções de remadora, técnica, capitã e idealizadora da seção feminina do clube.
A coesão do grupo, formado por cerca de quinze atletas, é a base do sucesso. Com uma rotina de treinos quase diária, que mescla preparação física com trabalho na água em V6 e V1, as remadoras mantêm um nível de exigência altíssimo, mesmo conciliando o esporte com obrigações profissionais e familiares. “Tenho muita sorte de ter meninas sérias e assíduas. As semanas são corridas, mas elas estão sempre com um sorriso no rosto. Isso exige muito investimento da parte delas, por isso tenho muito orgulho deste grupo”, destaca Vaimiti, que recentemente obteve seu diploma de graduação em treinamento esportivo para aprimorar ainda mais a performance da equipe.
A Na Wahine O Ke Kai, irmã da famosa Molokai Hoe, sempre foi um sonho. A equipe se organizou este ano com uma grande mobilização para levantar fundos e garantir a logística. A jornada contou com o reforço de três remadoras havaianas, incluindo as experientes Angie Dolan e Donna Kahakui, que foram cruciais para conseguir uma canoa e alojamento no local.
Mesmo com todos os preparativos, a vitória parecia um objetivo distante. “Eu sabia que a corrida seria acirrada, com a Team Bradley, que já venceu treze vezes. Pensei que se chegássemos ao pódio, já seria incrível”, conta Vaimiti. “Mas cruzar a linha de chegada na frente… eu não podia acreditar! Especialmente por ser o 50º aniversário da prova. Foi um momento mágico.”
O sentimento é compartilhado por sua fiel companheira desde o início da jornada, a peperu (leme) Vehi Lanteires. “É um sonho que se tornou realidade. É o graal das corridas de va’a feminino. É um percurso tão particular… Não é à toa que o chamam de ‘O Canal dos Ossos’. Ele refaz uma parte da história da va’a havaiana.”
A euforia da conquista histórica dá lugar agora à expectativa para o próximo grande desafio: a Hawaiki Nui, a maior prova de va’a do mundo, que acontecerá de 29 a 31 de outubro, entre as ilhas de Huahine, Raiatea, Taha’a e Bora Bora, na Polinésia Francesa. A corrida promete um novo e emocionante duelo contra a Team Bradley, que virá ao Taiti em busca de uma revanche. “É claro que sentimos um pouco de pressão”, admite Vehi. “Mas é bom, e é um privilégio que as havaianas venham defender seu título. Isso eleva o nível da competição.”
Para a Hawaiki Nui, a equipe manterá a base vitoriosa e contará com o talento de uma das maiores joias da va’a polinésia, Nateahi Sommer. A campeã de Raiatea integrou-se 100% ao time após se mudar para a ilha do Taiti. “As havaianas vão querer a revanche, mas nós estamos prontas. Estamos treinando sério, o grupo está unido. É um prazer compartilhar todos esses momentos com as meninas, somos uma verdadeira família. A pressão está aumentando, mas isso nos motiva”, finaliza a jovem estrela.