Entrevista | Guilherme Borrajo

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Medalhista no Mundial de Sprint Va’a, Guilherme Borrajo troca passa a limpo sua carreira e recorda os bons momentos vividos no Taiti

Guilherme Borrajo  em ação durante o Mundial do Taiti, onde conquistou o melhor resultado da deleção do Brasil com duas medalhas de bronze. Foto: Reprodução / IVF.

Grande destaque da equipe brasileira durante o Mundial de Sprint Va’a  realizado no mês de julho, no Taiti, conquistando duas medalhas de bronze na Paravaa V1, Guilherme Borrajo provou mais uma vez seu indiscutível talento para o esporte e sua extraordinária capacidade de superação.
Atleta desde a infância, teve sua trajetória bruscamente alterada após ser atropelado por um ônibus. Reinventou-se, integrou a seleção brasileira de paravolei nos Jogos Paraolímpicos de Pequim até conhecer, em 2012, o va’a.
Na entrevista a seguir, Guilherme  conta um pouco de sua história, o aprendizado alcançado na Polinésia Francesa, amizade com Steeve Teihotaata, rotina de treinos e crescimento do va’a no Brasil. Confira:

O que representou pra você participar do Mundial do Taiti?

Um sonho realizado. Eu assisto a vídeos de competições no Taiti praticamente todos os dias e tinha muita vontade de competir lá. A gente sabe que é onde estão os melhores remadores do mundo disparado. Se você pensar nos 50 melhores remadores do mundo, a grande maioria serão os taitianos, fácil! É muita superioridade da parte deles no va’a. Então, competir lá foi um sonho realizado. Participei do Mundial e da Te Aito, mas poderia ter sido qualquer competição. Todas as provas que acontecem lá são sensacionais, mas podendo ser o Mundial, representando o Brasil e a Te Aito, foi emoção em dobro.

Você esperava conquistar alguma medalha?

Esperava sim! Sei do meu nível e disputo provas com remadores sem deficiência conseguindo bons resultados. No Aloha Spirit Festival em Ilhabela eu fiquei em 5º e fui bem nos 10 km da Rio Va’a (Aito Brasil). Estou sempre treinando e competindo com atletas sem deficiência e pelos meus resultados estava confiante de que conseguiria ir bem no Mundial. Porém, a minha especialidade é a remada de longa distância, eu treino um dia sim, um dia não, remando normalmente 20 km sem parar. Então tive que adaptar meus treinos para as disputas de Sprint sem deixar de lado os 20km, pois também disputaria a Te Aito nessa distância. No final, deu tudo certo e consegui duas medalhas para o Brasil.

Amarradão em participar da Te Aito, no Taiti. Foto: AP

De que maneira você conseguiu viabilizar sua viagem para o Mundial?

Eu já vinha juntado dinheiro há um tempo, pois, planeja viajar ao Taiti para aprender e me aperfeiçoar tendo a oportunidade de treinar com os ídolos do esporte. E consegui remar com o Manutea Millon, o Steeve Teihotaata, que é o meu principal ídolo e acabou vencendo a Te Aito deste ano e eu fiquei bem feliz, pois a gente se tornou amigo nessa viagem.

Mas, em relação às despesas, queria fazer essa viagem para melhorar minha técnica e aprender. Sou presidente fundador do clube Moai Va’a, na Praia do Flamengo (RJ), e tinha como objeto repassar essas técnicas para os remadores do meu clube. Então, como eu tinha outros objetivos além de competir no Mundial, acabei passando mais tempo por lá e preferi eu mesmo bancar a viagem.

Como foi seu primeiro contato com o va’a?

Eu comecei no va’a em 2012 no clube Rio Va’a, na Urca, treinando com a galera de lá. Sou muito feliz por isso, pois, é um clube que valoriza muito os remadores de V1. Eu comecei a competir representando eles e treinei bastante na V6. Então, foi muito bom esse primeiro contato através do Rio Va’a, pois além dessa valorização ao V1, eles são focados nas técnicas taitianas.

Taekwondo, onde sua carreira de atleta teve início: oito títulos estaduais e dois brasileiros. Foto: AP

Você praticava algum esporte antes de começar na canoagem polinésia?

Sim. Eu sou atleta desde criança. Com nove anos comecei a treinar taekwondo chegando à faixa preta. Fui oito vezes campeão estadual e bicampeão brasileiro. Aos 18 anos fui atropelado por ônibus na frente do Maracanã tentando me afastar de uma confusão entre torcidas organizadas. O acidente resultou na amputação de uma de minhas pernas. Isso acabou me levando ao paravolei.

O vôlei é um esporte que toda a minha família gosta e eu já tinha jogado em alguns times de clube e do colégio quando adolescente, mas meu esporte mesmo, até então, era o taekwondo.

No paravolei eu cheguei à seleção brasileira e participei de competições importantes como os Jogos Paraolímpicos de Pequim, a Copa do Mundo de Paravolei, conquistando o vice-campeonato, e também fui, juntamente com a seleção, tricampeão Pan-americano. Até conhecer o va’a, em 2012.

Fale sobre sua rotina de treinos

Um dia sim, um dia não, faço 20 km sem parar de V1 saindo da minha base na Praia do Flamengo. Geralmente vou até o Posto 6 de Copacabana e volto passando por fora da Ilha de Cotunduba; ou então vou até a praia de Piratininga e volto, e nos dias em que não remo de V1, faço o leme da V6 do meu clube. A gente faz uns treinos intervalados, direcionados, propostos por um educador físico. No total, remo de segunda a sábado.

Na sua opinião, quais são os maiores entraves para um PNE* competir no va’a e na canoagem de uma maneira geral?

Essa resposta é fácil: sem dúvida colocar e tirar a canoa da água! Eu sempre preciso de ajuda para colocar e tirar a canoa da água. Se eu não precisasse de ajuda, iria treinar muito mais.

Ao lado do amigo e ídolo Steeve Teihotaata. Foto: AP

Quem são seus ídolos no esporte?

Meu principal ídolo é o Steeve Teihotaata. Eu acompanho a carreira dele desde quando eu consegui remar, em 2012. Tenho um remo com a assinatura dele e consegui a honra e o prazer de treinar com ele lá no Taiti. O Steeve não estava ministrando clínicas nessa época, mas começamos a conversar via Instagram e ele aceitou me treinar e a gente passou horas na água. Foi um treino maravilhoso. Ele me ensinou a montar a canoa, depois, treinamos nas ondas grandes, fizemos downwind, ele me deu dicas preciosas e se colocou à disposição para eu entrar em contato a qualquer hora. Então, sem dúvida nenhuma o Steeve Teihotaata é o meu grande ídolo no esporte.

Como você avalia esse “boom” da canoagem polinésia no Brasil?

Guilherme exibe as duas medalhas conquistadas no Taiti.

Com muita felicidade. O esporte caiu no gosto dos brasileiros e acredito que em 20 anos a gente vai estar igual ao Taiti, onde pra todo lugar que você olha tem uma canoa e um pessoal remando.

Infelizmente ainda tem muita gente que não conhece a história do esporte e acha que a canoa começou no Havaí e desconhece que a origem é o Taiti. Vejo também muitas pessoas usando o termo “canoa havaiana” ao invés de “va’a”. Mas acredito que com o passar dos anos mais gente vai conhecendo as origens e entendendo que o termo correto é “canoa polinésia”, como você bem disse.

Outra coisa que me deixa muito feliz é saber que hoje em dia posso encontrar gente praticando canoagem polinésia em vários cantos do Brasil e que temos bons eventos praticamente todos os meses do ano. Além disso, também como presidente de um clube, vejo esse crescimento como muito importante para estimular ainda mais as pessoas a conhecerem a modalidade.

Quais são seus planos para o futuro?

Meu principal plano para o futuro é competir no Mundial de longa distância na Austrália, em 2019, para o qual eu já estou classificado pois sou o atual campeão brasileiro. Mas também estou treinando para competir no Sul-americano, em Cabo Frio pois sou o atual campeão Sul-americano e pretendo defender meu título.

PRINCIPAIS CONQUISTAS DE GUILHERME BORRAJO

– Campeão Brasileiro
– Campeão Circuito Va’a Brasil
– Campeão Sul-americano
– Campeão do Aloha Spirit Festival
– 2x Bronze no Mundial de Sprint Va’a

 

*Nota: PNE – Portador de Necessidade Especial

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