Três exercícios de remada favoritos de Michael Booth
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Aloha Galera! Agora que você já estudou nos artigos anteriores detalhes sobre as canoas, sua história, técnicas de remada e inclusive já sabe sobre as funções de cada banco, chegou a hora de conhecer mais sobre segurança.
Neste décimo artigo da série, especialmente escrita para a plataforma do Aloha Spirit Mídia, você encontrará informações importantes a respeito de segurança, como por exemplo, os equipamentos básicos e os procedimentos necessários para remar de forma segura. Vamos aos estudos?
Um assunto de extrema importância dentro deste esporte que praticamos é a segurança, falar deste assunto nunca é demais, até porque o va’a é praticado tanto em águas abrigadas quanto em mar aberto e por este motivo sempre devemos estar atentos a diversos fatores importantes.
Remar em águas abrigadas (navegação interior), como uma lagoa, enseada, baías e rios, pode ser mais simples que remar em mar aberto, até porque nesse ambiente é comum encontrar alternativas mais seguras por estarmos inseridos em um ambiente um pouco mais amigável do que em mar aberto (navegações costeiras e oceânicas).
Em águas abrigadas geralmente existe uma margem próxima para se aportar e também não estamos sujeitos as grandes ondulações que possivelmente podemos encontrar remando no mar aberto. Claro que, mesmo neste ambiente mais amigável, devemos ter em mente que imprevistos acontecem e toda segurança deve ser prevista e providenciada.
A canoa polinésia é uma embarcação bastante segura, foi desenvolvida e aperfeiçoada ao longo de várias gerações, desde muitos anos atrás pelo povo polinésio. Mesmo sendo uma embarcação segura, ela não está livre de sofrer algum tipo de situação em que possa virar ou inundar. A OC6, conforme já estudamos em artigos anteriores, possui um flutuador lateral que fornece equilíbrio e mantem a canoa estável. Mas em situação de desatenção ou mar em condições mais extremas pode acontecer de ela virar e ser necessário fazer um procedimento chamado “huli”.
Quando falamos em catamarã, dois cascos de canoas unidos através de iacos retos, existe a possibilidade de uma inundação. Para todos estes casos existem procedimentos necessários para restabelecer a normalidade. Em artigos futuros vamos estudar com mais detalhes o procedimento de “huli”.
Vamos ver agora os principais equipamentos que de alguma forma irão trazer um maior nível de segurança em nossa prática esportiva.
Colete: É um equipamento de segurança utilizado em casos de emergência e também para prover segurança contínua durante atividades esportivas. A marinha reconhece cinco classes de coletes salva-vidas (Item 0414 da NORMAM-03), e certificados conforme NORMAM-05 (Normas da Autoridade Marítima para Homologação de Material). Para atividade de esportes aquáticos de velocidade ele é de uso obrigatório, mas mesmo a canoa polinésia não sendo considerada um esporte com estas características o uso do colete é recomendável, principalmente quando estamos remando no mar ou em condições mais desafiadoras.
Importante observarmos que, o colete indicado para uso no va’a é do tipo auxiliar de flutuação (Colete Classe V). Isso significa que o usuário precisa necessariamente saber pelo menos boiar e flutuar na água, caso contrário, o usuário precisará de um colete salva-vidas.
Primeiramente, estes auxiliares de flutuação precisam estar em condições de utilização, limpos e adequados ao peso de cada usuário. Para saídas em mar aberto ou condições mais desafiadoras, o auxiliar de flutuação deve estar vestido no corpo de cada tripulante, mas para as saídas regulares de remada normal em um ambiente controlado e seguro, como por exemplo uma lagoa, enseada e baías o colete pode estar abaixo de cada banco. Os remadores que se sentirem desconfortáveis, mesmo em um ambiente controlado, devem vestir seu colete.
Bailer: O bailer é um recipiente utilizado para retirar a água que fica acumulada no casco da canoa. Durante a atividade de remada é comum entrar água proveniente de diversas origens, como por exemplo, do próprio movimento realizado com os remos, da entrada dos remadores com suas roupas molhadas, das ondas que se chocam com a lateral da canoa e juntamente com a ação do vento. Muitas vezes a água pode estar entrando pela junção das emendas dos cascos que não estão bem vedadas e encaixadas.
Conforme descrito no artigo anterior, o banco 4 possui a função de esgotar essa água acumulada e para isso ele usa este recipiente que chamamos de “bailer” que pode ser traduzido como balde em português. Para ser mais especifico o nome seria “hand bailer”, ou seja, balde de mão, aqui no Brasil é comum chamar o hand bailer somente de bailer. O bailer pode ser feito cortando o fundo de um pote de material de limpeza.
Balde: É um recipiente maior que o hand bailer, que também tem a função de retirar a água do casco da canoa. Em situações de inundação causada por alguma ou várias ondas ou após realizar o procedimento de huli, a quantidade de água acumulada no casco da canoa é muito grande e utilizar somente os hand bailer seria demorado e improdutivo, sendo assim, é comum utilizar um balde maior onde a retirada desta água será mais rápida.
Geralmente é utilizado um ou dois baldes de 10 ou 15 litros. Um balde fica atrás do banco 2 ou a frente do banco 3 e o outro fica atrás do banco 4 ou a frente do banco 5. Eles ficam nesta posição para serem amarrados na “wae” da canoa para em casos de huli os baldes não serem perdidos ou não ficarem rolando pelo casco da canoa. É comum aproveitar estes baldes para colocar os hand bailers, além de outros objetos como borrachas de reserva, garrafas de água e bolsas estanques.
Remo reserva: Um procedimento de segurança bastante importante é a utilização de um remo reserva, inclusive em competições homologadas pela CBVA’A o uso de um remo sobressalente por canoa é obrigatório. O remo é um equipamento que está sujeito a trincas, rachaduras e até mesmo quebrar por inteiro, impossibilitando o seu uso. Em situações de remadas normais no dia a dia de um clube, uma quebra de remo não é algo tão crítico, mas em uma remada de percurso mais longo ou no mar a falta de um remo é algo problemático e desagradável. O remo reserva pode ser amarrado com borracha no iaco da canoa.
Borracha reserva: Conforme já estudamos anteriormente, a amarração dos iacos na wae da canoa pode ser feita com borrachas de câmaras de pneu de bicicleta, visto que a amarração tradicional com cabo é uma tarefa demorada. Estas borrachas com o tempo ficam ressecadas e quebradiças perdendo sua função de amarração, sendo assim, elas devem ser trocadas periodicamente. Estas borrachas devem ser inspecionadas todos os dias no momento em que estamos fazendo a amarração diária dos iacos na canoa. Mesmo realizando estas inspeções, durante a remada, pode ocorrer muito estresse e movimentação dos iacos na wae, fazendo com que alguma borracha arrebente e por este motivo devemos sempre ter borrachas adicionais que podem ser levadas dentro dos baldes no interior da canoa.
Uma outra situação onde uma borracha possa ser usada é em caso de soltar a amarração dos iacos na ama, que geralmente são feitas com cabos por não necessitar uma montagem diária. Nestes casos de soltar a amarração ou ela ficar frouxa durante uma remada mais longa, podemos usar as borrachas reservas para refazer a amarração ou dar mais pressão na amarração atual. Após a chegada em terra, as amarrações devem ser restabelecidas a sua normalidade.
Apito: Atualmente cada vez é mais comum existir uma grande movimentação de embarcações motorizadas nas lagoas e mares em diversas regiões onde são realizadas as práticas de canoa polinésia. O ideal é que ocorra uma convivência harmônica e responsável de todos os navegantes, mas os praticantes de canoa polinésia devem se preocupar em manter-se na linha de visão das embarcações maiores e mais velozes para que nenhum acidente ocorra. Por este motivo é importante que exista na canoa um apito ou até mesmo uma corneta, geralmente de posse do leme para que seja usado em caso de necessidade de alertar alguma embarcação desatenta. Além disso, em situações de emergência o apito servirá para auxiliar outra embarcação na sua localização.
Cabo de segurança: Uma medida muito importante para garantir segurança em nossa atividade é ter um cabo disponível na embarcação, isso porque, algum imprevisto pode ocorrer, fazendo com que a canoa tenha que ser rebocada ou até mesmo, seja necessário rebocar alguém ou lançar um cabo em caso de homem ao mar. O cabo de segurança deve ter aproximadamente 30 metros, ou três vezes o tamanho da canoa.
Saber fazer a amarração deste cabo é de fundamental importância, visto que, ser rebocado amarrando a canoa no local errado pode dificultar o deslocamento da mesma ou até causar uma rachadura ou quebra da estrutura. Em situações de reboque, uma extremidade do cabo deve ser amarrada a wae de proa da canoa, a outra extremidade deve passar por baixo dos bancos 2 e 1 em direção da proa. Ao redor da proa da canoa, próximo ao manu ihu deve ser feito um ou mais laços, onde a extremidade do cabo é passada para a embarcação que fará o reboque. Desta forma, a força inicial na ação de reboque é realizada na extremidade da proa da canoa, mas também é compartilhada pelos bancos e wae, fazendo com que a canoa seja rebocada pela sua proa sem muita ação de arrasto e não sobrecarregando toda a estrutura de manu e kope da canoa, com a força sendo compartilhada em toda a estrutura.
Cabo Anti-Huli: O cabo anti-huli é um equipamento importante para evitar que uma canoa vire. Este cabo é instalado entre os iacos dianteiro e traseiro localizado a uma distância confortável para os bancos 3 e 4 debruçarem seus braços quando estão remando do lado direito ou o seu remo quando estão remando do lado esquerdo. O banco 3 ou 4, ou ambos, ao perceberem um movimento da ama que pode ocasionar um huli (virada da canoa) realizam este movimento debruçando-se sobre o cabo anti-huli.
Celular: Hoje em dia todos nós possuímos um celular e o mesmo pode ser usado como um equipamento de segurança. Você pode inclusive ter um aparelho mais barato e antigo para levar sempre em suas remadas, evitando perder ou estragar um celular de custo elevado. Uma opção interessante são celulares antigos com teclado, isso porque, os teclados touch screen não funcionam corretamente quando a tela ou a mão está molhada. Lembre sempre de acondicioná-lo em uma capa a prova d’água e/ou bolsa estanque.
Localizador via satélite: Um equipamento indispensável para expedições e travessias que envolvem uma grande distância e tempo de execução é um localizador GPS por satélite. Este tipo de equipamento é indicado por ter uma área de atuação maior que a cobertura de celular, além de possuir diversas funções importantes e mais avançadas.
Kit de Primeiros Socorros: Para saídas mais longas em que os remadores ficam muito tempo embarcados é comum que alguns sofram de enjoo e dores de cabeça, sendo assim, ter alguns remédios na canoa é um procedimento de prevenção importante. Além dos remédios é importante ter itens de primeiros socorros, como por exemplo: gaze, esparadrapo, band-aid, mercúrio, água oxigenada, um canivete suíço, sendo todos armazenados em uma caixa estanque e protegida.
Os equipamentos de segurança por si só, não garantem a segurança propriamente dita. Para garantir um nível de segurança aceitável precisamos ter um comportamento seguro, através de procedimentos bem definidos.
Para finalizar, lembre-se sempre de vestir roupas apropriadas para a estação do ano e com proteção UV. Considere também o uso de bonés ou viseiras para proteção da cabeça e rosto, além de protetor solar. Além disso, leve sempre com você na canoa uma garrafa de água para hidratação e para saídas de tempo prolongado algo para se alimentar, como por exemplo, barras de cereal ou outros alimentos de fácil absorção.
Neste artigo você conheceu os principais equipamentos de segurança recomendados na prática do va’a para canoas coletivas. Falar sobre segurança nunca é demais, então fique atento aos próximos artigos que ainda tem bastante informação importante.
Um big aloha e até a próxima semana!
Curso de Árbitros da CBVAA realizado em: 16 de setembro de 2018.
Curso de Atendimento Básico de Emergência (CBAE) do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina realizado em: 01 de agosto de 2021.
Consulta NORMAN-03/DPC em: https://www.marinha.mil.br/dpc/normas