Canoas, gráficos de varas e mapas estelares: como era feita a navegação polinésia

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Navegação polinésia
Quadro do renomado pintor havaiano Herb Kawainui Kane, retrata navegação polinésia ancestral. Foto: Reprodução

Aproximadamente 5.000 anos atrás, navegadores polinésios alcançavam ilhas distantes e isoladas do oceano pacífico a bordo de canoas transoceânicas, como a Hokule’a, empreendendo uma das mais extraordinárias histórias da navegação mundial.

Para realizar suas viagens dispensavam qualquer tipo de ferramenta, mapa ou instrumento de navegação “moderno” (aos olhos de quem navega com sextantes, cartas náuticas ou GPS).

Sua orientação em mar aberto era feita a partir da observação do sol e das estrelas, dos ventos, dos pássaros, das nuvens, marés e das ondulações, conhecimento transmitido no passado através de canções.

Não é por acaso que os primeiros exploradores europeus a desbravar o Pacífico, como o britânico James Cook, costumavam ter navegadores polinésios em suas tripulações: o conhecimento ancestral sobre como se orientar nos mares era, e ainda é, parte essencial da cultura local.

Navegação Polinésia
O mestre navegador Mau Piailug, uma das figuras mais importantes do resgate das tradições ancestrais de navegação polinésia, utiliza um compasso estelar nos anos 1980. Foto: Steve Thomas / Wikimedia Commons

Contudo, além dos conhecimentos de observação e tradição oral, os polinésios também fabricavam os próprios instrumentos de navegação para auxiliar o processo – como o compasso estelar desenhado na areia e feito com cordas e conchas representando as constelações, mostrando um horizonte em 360 graus com a embarcação ao centro, e permitindo alinhar direções com o movimento das estrelas.

Outra ferramenta importante de navegação eram os “gráficos de gravetos”, espécie de mapa físico construído em madeira, com pedaços de varas e gravetos desenhando as ondas e marés ao redor de determinadas ilhas. Tais mapas eram especialmente úteis em períodos nublados, em que o sol e as estrelas desapareciam, e representavam não tanto distâncias, mas sim tendências e relações marítimas.

A importância das canoas polinésias

Hokulea e Hikianalia
Canoas como a Hokulea e Hikianalia são a prova cabal da eficiência da tecnologia ancestral de navegação desenvolvida pelos polinésios. Foto: Polynesian Voyaging Society

Outro ponto fundamental da tecnologia de navegação polinésia, que não tinha tanto a ver com a orientação, mas sim com a própria estabilidade e duração da viagem, eram as canoas polinésias.

Essas embarcações, assim como a arte polinésia da navegação, evoluíram ao longo dos anos, à medida em que uma nova ilha era alcançada.

A partir de Samoa, onde a cultura lapita deu origem à cultura polinésia, as navegações avançaram rumo ao sudeste para chegar a Rarotonga, a maior das Ilhas Cook, por volta de 830 DC. Os navegadores teriam avistado seus altos relevos de longe, graças às nuvens emitidas por seus vulcões.

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A migração seguiu para o nordeste, para pousar nas Ilhas da região hoje conhecida como Polinésia Francesa, por volta de volta de 1.050. 

Segundo o historiador Alexander Ionnidis, as ilhas da Polinésia Francesa desempenharam um papel decisivo no processo de colonização do Pacífico Sul.

É uma área gigantesca, equivalente à que se estende da Inglaterra à Grécia. Seus primeiros ocupantes precisavam ter uma cultura marítima muito rica e canoas excelentes para navegar de ilha em ilha”, diz o Dr. Ionnidis. 

Navegação Polinésia
Gráfico de varas, utilizado para mapear estrelas. As interseções e conchas fixadas entre os gravetos representavam com exatidão a posição dos astros. Foto: Wikimedia Commons

A esse período é atribuído o início da segunda fase de povoamento das ilhas do Triângulo Polinésio, em que evolução da tecnologia empregada na construção das canoas foi decisiva para o sucesso do empreendimento, permitindo aos navegadores se aventurarem a milhares de quilômetros de distância.

É a partir da Polinésia Francesa que as migrações mais distantes se seguiram: umas para o Norte, para as Ilhas Marquesas e Havaí, outras para o Leste, via Mangareva (arquipélago das Ilhas Gambier), seguindo até ao fim, no extremo leste, para a Ilha de Páscoa e, ao sul, para a Nova Zelândia (Aotearoa).

Todavia, a colonização europeia quase fez desaparecer tais conhecimentos, mas hoje, com o crescente interesse pelas tradições e origens locais, iniciadas com a criação da Polynesian Voyaging Society e primeira viagem da Hokule’a, nos anos 1970, esse conhecimento foi preservado.

A PVS e a Hokule’a são um marco no resgate dessa arte da navegação, que tem em Mau Piailug, um mestre navegador da Micronésia, um papel decisivo nesse processo. Essa história eu conto em meu livro, Raiz: uma viagem pelas origens do surfe, canoa polinésia, stand up paddle e prone padlleboard, cuja leitura eu recomento a todos que se interessam pela origem dos esportes de matriz polinésia.

Concluindo, graças aos esforços dessas pessoas, as técnicas e sabedorias de navegação polinésia vêm sendo devidamente ensinadas às novas gerações, como forma de manter um conhecimento vivo e útil, e também de celebrar e respeitar hoje os desbravadores do passado.

Fontes: US National Library / Wikimedia Commons / AFP / Polynesian Voyaging Society / We, the Navigators (David Lewis – 2ª edição, 1994).

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