Galápagos, paraíso da natureza e dos Water Sports
Um dos lugares mais incríveis do mundo para se visitar, Galápagos oferece altas ondas, remadas épicas e ... leia mais
Acompanhado dos ‘Monstros do Pântano Vicentino’, Caio Coutinho, um dos idealizadores do SUP Extremo, completa a tradicional remada da volta a ilha de São Vicente, um trajeto repleto de contrastes e desafios no entorno da maior cidade do litoral paulista
Em meio aos preparativos para uma expedição Sup Extremo de três dias surgiu um convite inesperado, em cima da hora, por parte do pessoal dos ‘Monstros do Pântano Vicentino’, na figura de meu camarada de remadas Marcelo Bullo!
Era uma empreitada dura, difícil e já fazia tempos que eu estava querendo fazer: a volta da Ilha de São Vicente. Cerca de 43Km em trechos de mar, canal de mangue e todo o trecho do canal do Porto de Santos. Sem parar, sem apoio, e com apenas alguns amigos remadores.
Fiquei bastante receoso, pois não estava totalmente preparado, vinha de uma sequência de trabalho em que não estava conseguindo remar com uma constância que me deixaria o mínimo preparado para tal travessia. Fiquei uma semana pensando em não ir, mas não queria ficar de fora – pois com certeza iria me arrepender depois.
Decidi que iria somente às 20h da noite anterior, e aí corri para ajeitar tudo de que precisava: compras, equipamentos e tudo o mais. Avisei o pessoal que eu estava dentro e finalizamos toda a questão logística. Eu iria sair da Guardaria Sup Six, no canal 6 em Santos em direção à baía de São Vicente por cerca de 8km onde iria encontrar todo o restante do grupo.
Entrei na água às 7h30 em direção ao Quebra Mar e depois até a Ilha Porchat. O mar estava bastante mexido, com uma ondulação chegando de sul. Evitei de entrar na baía de São Vicente pela Porta do Sol, pois fiquei com receio de perder meu saco estanque por causa de alguma queda por causa das ondas. Optei, por segurança, passar pelo trecho de areia entre a ilha e a praia dos milionários, carregando a prancha.
Após uma hora me encontrei com o Marcelo Bullo, Roberto Melchior, Tainha Standup e João Carlos em frente à Vibe Guardaria. Depois dos últimos acertos saímos por volta das 9h subindo os canais do Mar Pequeno.
Tivemos ainda a companhia de um remador de OC-1, Sérgio Glaza, nos acompanharia por uma parte do trajeto – mas acabou fazendo a volta completa com a gente.
Segundo a tábua de marés, ela subiria a partir das 8h30 – fato este que nos ajudaria na entrada do canal. E posteriormente a sua vazante se daria depois das 14h, teoricamente nos ajudando a sair do canal de Santos, na parte final do trajeto.
Passamos pela ponte dos Barreiros aos 17km com uma certa dificuldade pois a maré estava tão baixa, com muito material exposto, que tivemos que achar um caminho bem restrito de passagem que ainda estava com água.
A maré enchente nos ajudou um pouco na primeira parte do trajeto, até às proximidades da Ilha da Pompeba depois disso ela perdeu força e aos poucos inverteu, nos pegando de frente. Estávamos em lua cheia, portanto as correntezas foram consideráveis.
A partir do Largo da Pompeba (km 19) entraríamos em um trecho onde nenhum de nós ainda tinha estado, um trecho de bairros de palafitas – comunidades de São Manoel e Vila dos Pescadores. São lugares ermos e esquecidos dos nossos governantes, lugares totalmente sem infraestrutura e sem habitabilidade saudável, sem saneamento básico nenhum.
Em resposta a este descaso político-social o que vimos foi o descaso ambiental. Com a maré bem baixa e batendo às vezes com os remos no lodo do mangue, o cenário era devastador, com toda sorte de lixo orgânico e inorgânico que se possa pensar. Cheiro e sensação de remar no esgoto. Que tristeza ver de perto o lar desestruturado de muitas famílias. Imaginei a vida boa de quem mora no Gonzaga, no Boqueirão e senti um arrepio subindo pela coluna.
Bom, a ideia era passar rápido por este trecho, pois não sabíamos o que iríamos encontrar. Ao passar por uma pequena ponte no início da Vila dos Pescadores sentimos como a maré estava subindo forte, mas não ao nosso favor. Após este trecho quase erramos numa bifurcação, sendo avisados a tempo por um pescador que passava por nós naquela sexta-feira santa.
Seguimos agora por um trecho de mangue, em canais mais largos e águas menos poluídas do rio Casqueiro – em direção aos primeiros estaleiros do Porto de Santos. Já estávamos no km 24 e foi a partir daí que comecei a me sentir mais cansado – era o início das dores cada vez mais fortes na minha cervical e meu punho esquerdo. Além das pequenas bolhas que já sentia nas mãos.
Tínhamos certas paradas para alimentação e hidratação e percebi que a partir deste trecho eu comecei a não conseguir acompanhar o ritmo forte do restante do grupo, vide minhas dores e também a minha preparação física um pouco aquém do ideal. Mesmo assim seguia firme naquela briga física-mental que acompanha todos os esportistas de endurance, levando aos poucos o corpo e a mente ao limite do esforço e superação.
Para piorar as coisas, aliado ao fato das marés contrárias, começou a ventar em nossa direção, e até um pouco mais a nossa direita, forçando uma remada mais extenuante e cada vez mais de um lado só. Isso foi penoso e muito desgastante.
Passamos pelas ilhas dos Bagres e Barnabé e adentramos aos 34 Km no canal do Porto de Santos. Como era um trajeto mais restrito na sua largura, o vento também ficou mais concentrado no canal. A movimentação de navios é intensa e optamos por segurança remar bem próximo a nossa borda direita. Com isso pegamos trechos com muita turbulência em todo o canal, com muitos ‘backwash’ onde as quedas eram quase difíceis de evitar.
Em uma de nossas paradas, por volta do km 38 percebemos que não estávamos mais sendo puxados para trás e sim praticamente estabilizados em relação a corrente. A partir desse ponto, mesmo com vento contra agora tínhamos a ajuda da maré vazante, possante e muito bem-vinda para quem estava já nos limites do esforço.
Passamos pela balsa que liga Santos ao Guarujá e agora em águas bem mais tranquilas e conhecidas, ultrapassando o Forte e entramos novamente no mar. Eu estava próximo de meu objetivo final e passando pelo Deck dos Pescadores paramos novamente para juntar o grupo nas proximidades do canal 6.
Olhei o relógio e o mesmo marcava 43km em 7:15h de remada. Estava muito exausto e dei um mergulho para retirar um pouco daquele cansaço e tentar diminuir a sensação de desidratação – visto que o sol não dera um minuto de trégua ao longo do dia. Nos despedimos; eu segui até a areia e o restante do grupo voltou ao ritmo de suas remadas – pois ainda teriam cerca de uma hora até o destino final, nas areias da baía de São Vicente.
É isso! Agradeço enormemente todos meus amigos remadores, pois foi uma travessia muito extenuante e todos se uniram em prol do grupo, dando apoio e atenção para que todos atingissem o objetivo que era finalizar e chegar em segurança. Agradeço também à minha família que indiretamente, no meio daquele caos, me deu forças para continuar lutando. Os ensinamentos de respiração e mentalização em minhas aulas de ioga foram essenciais para separar o que não era importante naquele momento – isso é um aprendizado que vai muito além do que a gente pode imaginar – Gratidão!
Parabéns aos Monstros do Pântano Vicentino (Bullo, Melchior, Tainha e João) e também ao nosso novo companheiro de remadas Sérgio Glaza – vocês são muito fortes e obrigado por terem me convidado para esta travessia! Obrigado Rodrigo de Deus e Sup Six Guardaria pelo suporte em todas as circunstâncias! Ao nosso grupo de expedições Sup Extremo por toda a carga motivacional para superarmos as dificuldades, as distâncias e seguir avante! Aloha meus amigos! Siga @supextremo no Instagram e Facebook!
Relive ‘Travessia SUP Race 43K Volta Ilha de São Vicente’