Aloha Spirit Brasília | Balanço do dia 02
David Leão e Lena Ribeiro faturam o SUP técnico no dia 02 da 2ª etapa do Aloha Spirit, em Brasília; na ... leia mais
Um esporte até pouco tempo desconhecido dos brasileiros vem fazendo sucesso por aqui. E, aos poucos, caindo também no gosto de pessoas com deficiência. Trata-se do paddleboard, uma modalidade aquática de superfície na qual o praticante pode ficar deitado ou de joelhos em uma prancha e, graças ao movimento da natação, usar os braços para se impulsionar.
O paddleboard, ou prancha de remada, pode ser praticado tanto em mar aberto quanto em rios e represas. E se engana quem pensa que se trata de uma novidade. Sua origem não é muito clara, há textos mostrando que o esporte já era praticado na Polinésia, no final do século XVIII.
Porém, o modelo, como o conhecemos hoje, ficou popular graças aos nativos havaianos que o praticavam mais por necessidade, para fazer a travessia entre as ilhas do arquipélago norte-americano. Os surfistas logo se interessaram e acabaram por torná-lo um esporte de competição.
Um dos pioneiros do esporte no país é o surfista Ricardo Allmada, que já pratica há cerca de seis anos. Ele montou uma assessoria, a Allmada/ Supirados, na qual, além de instrutor, também é grande incentivador do parapaddle, a versão adaptada para pessoas com deficiência. Além do curso ser gratuito, ele mesmo fica responsável pelo preparo da prancha, feita sob medida para o praticante.
SÓ BENEFÍCIOS
Atualmente, ele treina dez pessoas com deficiência. “Tudo começou porque eu incentivava um amigo que sofreu um acidente e ficou tetraplégico, Alan Mazzoleni, a começar a praticar. Ele não dava muita atenção, até que viu uma foto, ficou com vontade de experimentar e nunca mais parou”, conta Allmada.
E foi Mazzoleni quem acabou trazendo os demais alunos. E por que o paddleboard agrada tanto as pessoas com deficiência? “Dependendo da deficiência, eles só conseguem mexer os braços e, neste esporte, isso os iguala aos demais”, explica Allmada.
Ele conta que entre os benefícios, além da evolução da condição física, estão a melhora na questão digestiva, na parte cardiovascular e também no lado emocional: “Eles acabam sentindo músculos que nem sabiam que existiam. Muitos admitem que até começaram a dormir melhor”.
Os treinos do grupo são realizados em São Paulo, na represa Billings, no espaço Santo Deck, base da equipe Allmada/Supirados, todas as quartas-feiras pela manhã.
“Entre os alunos, temos um com deficiência visual, que é o único do país, talvez do mundo, a praticar esse esporte”, conta Allmada.
O instrutor explica que, no início da prática, vai devagar, procurando entender os alunos com deficiência: “Começo calmamente, seguindo o momento deles. Daí, com o tempo, vou exigindo mais. Também enfatizo o lado da segurança, ensinando como cair da prancha, como pedir ajuda, etc.”.
No caso do aluno com deficiência visual, a presença de um guia é necessária para orientá-lo durante a atividade. Os praticantes chegam até mesmo a participar de campeonatos especiais, em um circuito criado para eles: “Para mim, eles representam um tapa na cara de quem diz que não consegue fazer algo. O preconceito está na cabeça de pessoas limitadas. Na água, eles praticam de igual para igual”, afirma Allmada.
A maioria dos alunos é formada por pessoas sem muitos recursos financeiros, que adquiriram a deficiência graças a acidentes automobilísticos ou por problemas de saúde. Apesar das vantagens da prática do paddleboard, alguns desistem.
Allmada diz que o esporte pode não ser muito confortável, pois é preciso ficar de barriga para baixo e alguns não se sentem à vontade. “Quem consegue se adaptar ao esporte, acaba vencendo suas limitações, conhecendo outras pessoas e, de quebra, ainda têm contato com a natureza, com paisagens lindas, e alcança aquela paz que o silêncio do mar proporciona”, conclui.
OS PRATICANTES
Rafael Oliveira tem 30 anos e, há nove, sofreu um acidente de moto que o deixou paraplégico. Ele conta que, antes disso acontecer, jogava bola e corria, por hobby. Aos poucos, voltou a se interessar por atividades físicas. “Comecei com o basquete sobre rodas, depois fui para o tênis. Daí, conheci o Alan (Mazzoleni), que sempre me convidava para conhecer o paddleboard, mas eu não me interessava. Até que em maio deste ano, um colega que tem carro me levou até a represa e eu fiz uma aula”.
Oliveira não parou mais: “O paddle adaptado me ajudou muito na parte física, melhorou minha musculatura, meu dia a dia e até mesmo minha performance no basquete”, admite, acrescentando: “Aliás, o basquete não exige tanto do corpo nem do cérebro quanto o paddle. Você rema por quilômetros e tem de lidar com a solidão na água, pois é um esporte individual”.
Casado e pai de um menino de 11 anos, Oliveira admite que o esporte o ajudou até em questões emocionais: “No primeiro ano pós-acidente, você fica deprimido. O esporte faz com que você supere a si mesmo e conheça pessoas com outro tipo de deficiência. Isso ajuda demais”.
Aos cinco meses, Lauro José de Sousa, hoje com 46 anos, manifestou os primeiros sinais da paralisia infantil. Isso não o impediu de completar os estudos até o segundo grau e de trabalhar. Ele começou a praticar esportes aos 16 anos e, assim como o colega Oliveira, optou pelo basquete de cadeira de rodas. Depois foi para o jiu-jitsu e para o handbike. Em março deste ano, também convidado por Mazzoleni, foi conhecer o paddleboard. E adorou!
“Gostei por ser individual e pelo resultado não depender de outras pessoas, como no basquete. Você fica lá no meio da represa, naquele silêncio gostoso”, explica. Ele conta que em três meses já sentia os benefícios da prática, inclusive psicológicos: “Temos uma vida agitada e a calmaria da represa me traz tranquilidade. Você entra na água e a deficiência não o impede de nada. Lá, as coisas dependem só de você”.
O ÚNICO DEFICIENTE VISUAL
César Augusto Palácio, o Guto, tem 41 anos e aos 14, por causa de um problema renal, em decorrência do diabetes, perdeu a visão. Na época, gostava de praticar basquete e jiu-jitsu.
Como não conseguia mais lutar após perder a visão, procurou outras atividades físicas. Começou com a natação, mas achou que não estava se desenvolvendo. Foi quando o amigo cadeirante, Mazzoleni, o convidou para experimentar o paddleboard. Interessado, Guto ligou para a Allmada/Supirados, ficou uma hora tirando dúvidas.
Foi até a represa Billings três dias depois para conhecer o esporte pessoalmente. “Já fui preparado para entrar na água. Allmada me explicou os movimentos e me disse para sair como se fosse ‘um cachorro louco’”. Ele pratica o esporte desde o início de 2015 e precisa de um guia, tanto no treino quanto nas competições.
“O Allmada me deixa livre na água, estimula minha independência”, conta. Como aconteceu com os colegas, o paddle trouxe melhoria para sua saúde: “Fisicamente, minha respiração melhorou muito. Quando comecei a competir, fui fazer musculação em uma academia para me aprimorar, além de procurar uma nutricionista”. Para ele, o esporte só traz gratificações, como, sair de casa, ter contato com a natureza, socializar-se e alcançar a paz dentro da água. “Só não vou treinar se algo importante acontecer”, admite.
Guto se lembra de uma prova em Salvador quando, após o término, uma médica se aproximou e disse que indicaria o paddleboard a seus pacientes, pois nunca tinha visto um deficiente visual praticando algo assim. “Creio que eu seja o único no mundo”. E já está fazendo escola.
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