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A história do prone paddleboard Brasil é mais antiga do que se imagina. A primeira prancha de remada chegou por aqui no final na década de 1970, quando Rico de Souza, sempre antenado com o que acontecia no mundo do surf, tentou implementar em águas brasileiras o conceito de treinamento que aprendera no Havaí, onde, inclusive, ganhou uma competição de remada.
Nos dias de flat, Rico fazia travessias pela orla carioca e costumava convidar os amigos para esses desafios de remada. Contudo, a falta de informação e a escassez de matéria prima própria para a produção de pranchas de paddleboard foram um entrave à popularização da modalidade.
Décadas mais tarde, nos anos 1990, o waterman e shaper havaiano Mark Jacola fixou residência em Florianópolis (SC) e começou a produzir pranchas de prone paddleboard com a intensão de popularizar a modalidade por aqui. Porém, o valor final do equipamento ainda era bastante alto e mais uma vez a modalidade não decolou.
Nessa mesma época, o shaper baiano Maurício Abubakir, teve contato com as pranchas de remada no Havaí e ficou apaixonado pela modalidade. Ele então resolveu apostar no paddleboard e passou a não só produzir pranchas para a modalidade, mas, também a organizar eventos de travessia como forma de popularizar a prancha de remada em Salvador.
Em 2000, ele realizou uma expedição que contou com a presença de 21 remadores de paddleboard para uma travessia em Salvador. A capital baiana, desde então, se tornou um polo desse esporte, sendo considerada a capital brasileira do prone paddleboard.
Contudo, outras regiões do país também desenvolveram polos importantes. Esse é o caso de Santos, no litoral de SP, de onde brotou, também no início dos anos 2000, uma cena bem forte, com diversos surfistas aderindo às pranchas de remada.
Em 2003 os santistas passaram a realizar travessias de prone paddleboard até que, em 2008, veio a primeira competição da categoria na região, em um evento emblemático chamado Festival de Remada, onde se realizou também a primeira prova de stand up paddle do Brasil.
Ironicamente, foi justamente a febre e a popularização do stand up paddle que acabou por atrair para o SUP muitos remadores que potencialmente poderiam ter ido para o prone paddleboard. Mesmo assim, a prancha de remada continuou sua rota de desenvolvimento, inclusive em Santa Catariana e no Rio de Janeiro, onde os pioneiros Mark Jacola e Rico de Souza, respectivamente, plantaram a semente.
No estado catarinense, em particular, vale destacar a atuação de dois personagens importantes: Fernando “Grillo” e Noé Medeiros Batista. Grillo, por sua atuação no fomento da modalidade realizando longas travessias na costa catarinense e criando a página do Instagram @pronepaddleboard_brasiloficial e Noé organizando competições emblemáticas, inspiradas em eventos de Surf Life Saving, como Festival Interpraias Lifesaving.
Sargento do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, Noé também faz parte de outro movimento muito importante para a modalidade, o Lifesaving Brazil, tem o Prone Paddleboard em seu DNA tanto em seu aspecto de atividade física, quando ferramenta de Salvamento Aquático Desportivo. O Lifesaving Brazil também organiza eventos nacionais da modalidade e seletivas para competições internacionais de Surf Lifesaving.
Eventos independentes de alcance nacional como Aloha Spirit, hoje um dos maiores festivais de esportes de água do mundo, foram muito importantes no desenvolvimento da modalidade, passando a incluir a prancha de remada entre as categorias em disputa e organizando um circuito nacional interno. Outros eventos independentes, como o Kopa – King of Paddle, Molokabra e o Green Islands, também passaram a incorporar regularmente o paddleboard.
Na sequência, remadores do estado de São Paulo e da Bahia se organizaram para realizar os primeiros circuitos estaduais, em ambos os casos, vinculados a competições de stand up paddle dos respectivos estados.
Surpreendentemente, em 2021, um ano difícil para todos os esportes por conta da pandemia de Covid-19, o Molokabra teve no prone paddleboard uma das categorias com maior número de inscritos, sendo, portanto, considerado mais um marco na história na evolução desse esporte no Brasil.
Surpreendentemente, apesar da longa história do prone paddleboatrd no Brasil, a modalidade nunca contou com uma federação própria ou um circuito brasileiro institucionalmente organizada em nível nacional até 2022. Isso mudou após a vitória da chapa Nação Surfe Brasil, presidida por Teco Padaratz para o comando da Confederação Brasileira de Surf nesse mesmo ano. Pela primeira vez na história, uma confederação assumiu o papel de organizar um circuito nacional da modalidade oficialmente reconhecido. Assim, Patrick Winkler e Catarina Ganzeli Winkler foram coroados os primeiros campeões brasileiros de prone paddleboard da história. No ano seguinte, em 2023, Jader Andrade e Catarina Ganzeli Winkler, foram os campeões nacionais.
É importante esclarecer também que desde a criação do campeonato mundial de paddleboard, organizado pela International Surfing Assossiation, o ISA World SUP & Paddleboard Championship, em 2012, a então Confederação Brasileira de SUP – CBSUP, autorizada pela CBSurf na época (representante da legal da ISA no Brasil), passou a realizar seletivas anuais para essa competição. No entanto, a CBSUP nunca oficializou um circuito ou título brasileiro, nem inseriu a modalidade em seu estatuto.
O campeonato mundial da ISA teve um papel muito importante no intercâmbio e promoção do paddleboard brasileiro no cenário internacional. Nesse sentido, vale destacar importantes participações de nomes como os baianos Claudio Britto, Jader Andrade, Sinara Pazos e Genauto França, e dos paulistas Patrick Winkler e Rogerio Mello.
Também é importante destacar a participação de Patrick em competições internacionais para além da ISA, sendo reconhecidamente considerado o “embaixador do paddleboard brasileiro” no exterior. Além representar nosso país na M2O e Duna Paddle Crossing, ele venceu ano passado a 11 City Tour, uma das mais importantes provas da modalidade, colocando o prone brasileiro no lugar mais alto do pódio em uma competição internacional.
A a prancha de remada é também uma excelente ferramenta para o esporte adaptado. Nas águas da represa Billings, na região do ABC Paulista, Ricardo Allmada, outro entusiasta da modalidade, desenvolve há mais de seis anos um projeto no qual insere pessoas portadoras de deficiência ao que chama de “paddleboard inclusivo”.
Ricardo conta que entre os benefícios, além da evolução da condição física, estão a melhora na questão digestiva, na parte cardiovascular e também no lado emocional: “Eles acabam sentindo músculos que nem sabiam que existiam. Muitos admitem que até começaram a dormir melhor”, revela o professor que tem um deficiente visual entre seus alunos, “Único do país, talvez do mundo, a praticar esse esporte”, esclarece Allmada.
Outro entusiasta do uso da prancha de remada para a inclusão no esporte é Robson de Souza, mais conhecido como “Careca”. Ex-competidor de longboard, Careca ficou tetraplégico após um acidente de carro. Contudo, através de um paddleboard, conseguiu recuperar a qualidade de vida e retornar ao esporte e hoje, além de competir em provas de remada, promove palestras e cursos sobre surf adaptado.
E para dar mais ênfase aos benefícios da prancha de remada a nós, surfistas, o educador físico Rogério Mello, ex-técnico da seleção santista de surf e que já atuou na preparação de nomes como Caio Ibelli e do tricampeão paulista de surf, Jair de Oliveira, explica porque o prone paddleboard é uma ferramenta de treino tão importante para o surf:
“Treinar com uma prancha de paddleboard é muito importante sobretudo na pré-temporada, quando há muitos dias de flat por causa do verão. Existem estudos que indicam que até 60% da movimentação de um surfista é feita nessa posição, deitado. Então, é uma excelente ferramenta para fortalecer e também corrigir a postura”, esclarece.
Mello, que atualmente está entre os melhores remadores de prone paddleboard do Brasil, conta que a prancha também pode ser usada para treinos de cardio e também para trabalhar explosão e potência.
“Hoje eu indico os treinos de paddleboard não só para surfistas, mas também para adeptos de outras modalidades, como o ciclismo, como um trabalho de compensação muscular. Mas, à parte toda essa carga de treino, recomento a quem nunca experimentou a prancha de remada, que faça uma experiência, de forma recreativa mesmo. Esse tipo de prancha, por ser bastante estreita e comprida, tem uma autonomia muito grande. Algumas das travessias mais legais que já fiz na vida foram com um equipamento desses. São coisas que não tem preço”, conclui Rogério.