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Desde que entrei nesse maravilhoso universo dos esportes a remo, percebi que o mundo da remada era divido em 2 tribos distintas: aqueles que praticam seu esporte em água doce ou em água salgada.
Nunca li um texto que realmente abordasse esse assunto, fato que motivou a escrever a coluna deste mês. Antes de entrar em fatores mais técnicos, vou trazer um pouco da minha vivência pessoal.
Passei boa parte da infância viajando com frequência para um dos meus destinos preferidos do estado de São Paulo: a represa de Jurumirim, localizada em Avaré, um lugar paradisíaco a 300 km da capital paulista.
Um verdadeiro mar de água doce: uma represa que banha 9 municípios e conta com um espelho d’água 4 vezes maior que a baía de Guanabara.
My friend, ali quando venta de verdade, impressiona qualquer marinheiro curtido na água salgada; não é a toa que durante anos Avaré foi sede de muitos campeonatos importantes de windsurf e outros esportes à vela.
Nossa família tinha um rancho maravilhoso, uma propriedade a beira d’água que contava até com uma prainha de areia branca e fina, um verdadeiro paraíso que ficava fora da rota dos destinos descolados eleitos pelas revistas do momento.
Ali tive minhas primeiras experiências com atividades aquáticas, entre elas o esqui, além de brincadeiras com caiaques, pesca e outras estripulias. Tempos bons que não voltam mais, mas sempre pinta uma novidade que pode mudar os rumos.
No final dos anos 90 meu tio comprou um terreno e construiu uma residência na praia da Juréia de São Sebastião, uma das praias mais preservadas do litoral Paulista.
Lembro-me até hoje do primeiro mergulho no mar, numa praia de tombo com um quebra coco insano: o primeiro caldo a gente nunca esquece. Uma experiência pra guardar para resto da vida. No mar não se brinca, o que não te impede de se divertir.
A casa na praia trouxe essa grande novidade: o mar e suas intermináveis variáveis de maré, correntes, ventos e ondulações. Aprender a ler as condições, a direção das rusgas, o timing da onda quebrando , ler as correntes do inside pela direção das espumas, entre outras manhas faz parte do processo.
Passar perrengues também: perder prancha no outside, ser arrastado pela corrente de retorno ou tomar aquela série de respeito na cabeça, tudo ajuda na hora de contar os pontinhos do jogo da vida. O mar roubou minhas atenções, mas a água doce sempre me traz aquela nostalgia reconfortante.
Conversando com alguns técnicos do paddle, cheguei a algumas conclusões: a água doce, mais densa, mais “dura”, obriga o remador a fazer mais força, e a água flat força a busca pela perfeição da técnica: remou errado, vai perder velocidade e ser ultrapassado.
Já o mar te traz equilíbrio, o aprendizado da arte de navegar, além das ondas, que podem se tornar uma fonte de sufoco ou diversão garantida, dependendo do contexto. Cada terreno tem suas vantagens ou desvantagens, vai do gosto do freguês.
Sabemos que o DNA de esportes como canoa havaiana, SUP e caiaque oceânico é o mar, mas essas modalidades têm se adaptado como uma luva no interior do país, revelando um potencial incrível de crescimento.
Além de uma gigantesca faixa litorânea, temos a maior bacia hidrográfica do planeta: lembre-se que o maior rio do mundo é nosso e a semente do paddle foi plantada por ali. Essa muda ainda tem muito pra crescer e aposto que vai se tornar uma árvore de fazer inveja a qualquer Jequitibá.
Darwin tem comprovado sua teoria através dos tempos: a busca pelo conhecimento na evolução do terreno oposto só aumenta. Aos poucos, os marinheiros mais marrentos estão abrindo a guarda e se rendendo aos encantos de rios e lagos, enquanto aqueles que moram no interior do país ficam cada vez mais viciados nas descobertas que o só os oceanos nos proporcionam.
Quem é remador paulistano assim como eu, pode também desfrutar da calmaria, hospitalidade e beleza do interior em períodos de verão em que as praias estão tomadas de baderneiros inconvenientes.
O lance é ser versátil e estar aberto a novas experiências. Quando me perguntam o que é melhor: se é água doce ou salgada, respondo sempre que não sei.
A única coisa que sei, é que o ruim mesmo é ficar sem lugar pra remar. Isso sim é osso.