
Conheça a história da 1ª remadora a cruzar 3 oceanos sozinha
No dia da mulher, conheça a história da 1ª remadora a cruzar 3 oceanos sozinha: a inglesa Rosalind "Roz" Savage

Em uma jornada que uniu esporte, história e superação, doze remadores do Clube de Regatas Bandeirante, de São Paulo, refizeram entre os dias 14 e 16 de novembro a dramática rota de captura do aventureiro alemão Hans Staden. A expedição, batizada de “Hans Staden 500”, percorreu 250 quilômetros em barcos a remo oceânico (ou remo coastal), partindo de Bertioga (SP) e finalizando em Paraty (RJ), para homenagear os 500 anos de nascimento do explorador, que é comemorado em 2025.
A viagem recriou o trajeto que Staden foi forçado a fazer quando foi capturado pelos indígenas Tupinambás no litoral de São Paulo, no século XVI. Uma saga que ele mais tarde imortalizou no livro “Duas Viagens ao Brasil” que, apesar de sua visão etnocêntrica e bastante preconceituosa, foi um dos primeiros relatos sobre as populações ameríndias e seus hábitos. A equipe, composta por atletas veteranos e jovens universitários, enfrentou o mar a bordo de dois barcos “doubles coastal”, uma modalidade olímpica adaptada para travessias oceânicas que fará sua estreia nos Jogos de Los Angeles em 2028.

A jornada de três dias demandou um extenso planejamento e foi realizada em um intenso esquema de revezamento. Enquanto duplas remavam, o restante da equipe aguardava em uma traineira de pesca que servia como barco de apoio. As trocas eram feitas em alto-mar, exigindo que os atletas nadassem de uma embarcação para outra. Ao todo, a equipe passou mais de trinta horas na água.
Apesar de não enfrentarem os mesmos perigos que Staden, que, segundo narra em seu livro, escapou por pouco de um ritual de canibalismo, os remadores encontraram seus próprios desafios. O terceiro e último dia de travessia foi o mais exigente. Ao partirem de Picinguaba, em Ubatuba, às 5h da manhã, a equipe se deparou com um mar agitado e ondas curtas. O ponto mais crítico foi a travessia da Ponta de Joatinga, em Paraty, uma área de mar aberto conhecida por suas condições adversas.

Com ondulações de um metro, os remadores precisaram de esforço e técnica redobrados para manter o controle dos barcos, que medem cerca de 7,5 metros. A velocidade da remada caiu pela metade, de 12 km/h para 6 km/h. “Se as condições da Joatinga fossem um pouco piores, seria impossível ultrapassar aquele trecho”, afirmou Antonio Carlos Bonfá Júnior, o “Totó”, capitão da base Rio Una Canoe Club, responsável pelo barco de apoio, à reportagem da revista Veja.
A expedição também estabeleceu um recorde de distância para esse tipo de embarcação na região, para além de sua imersão histórica. “Refazer a jornada de Hans Staden foi uma viagem no tempo”, comentou o remador Rogerio Barbosa. A beleza da Mata Atlântica, vista de uma perspectiva única, impactou os participantes. “Conhecê-los [o Litoral Norte de SP e o litoral do RJ] por uma perspectiva completamente diferente é algo que apenas o remo pode nos proporcionar”, disse Victor “Manaus” Tavares, um dos universitários da equipe.

Patrocinada pela Autoridade Portuária de Santos, a expedição foi documentada pelo fotógrafo e cinegrafista Pisco del Gaiso para um minidocumentário, com lançamento previsto para dezembro. A jornada serviu para destacar a habilidade dos povos originários e a evolução do esporte, ao mesmo tempo em que celebrou a memória de uma das mais incríveis histórias do Brasil colonial.
Fonte: Revista Veja