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Desde o início desta semana, imagens bastante fortes que mostram uma baleia da espécie jubarte com a cauda decepada, ao lado de um barco de pesca, supostamente no litoral de Santa Catarina, tem causado revolta e comoção nas redes sociais.
No vídeo, a cauda decepada aparece presa aos cabos de aço utilizados pela embarcação para a pesca de arrasto. É possível ouvir os pescadores conversando sobre o animal, que teria se aproximado e, na versão da conversa, ‘atacado’ a embarcação. Instantes depois, é possível ver a baleia ainda viva, próxima à proa da embarcação e uma mancha de sangue no mar.
O Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e a Polícia Federal abriram uma investigação para apurar a prática de crime ambiental contra o animal, que é protegido em águas brasileiras pelo Decreto Lei n° 7643 de 18 de dezembro de 1987, que proíbe a caça e o molestamento de baleias.
Segundo o ICMBio, a apuração preliminar indica que o caso teria ocorrido no litoral de Santa Catarina e o sotaque dos pescadores nas filmagens nitidamente corrobora para essa tese.
As autoridades estão trabalhando em conjunto para identificar a embarcação para ouvir tripulantes sobre o caso, que, se considerados culpados, poderão ser punidos com multa e até prisão.
Enquanto os pescadores ainda não foram localizados, especialistas divergem sobre o que teria provocado a amputação da cauda.
Para o oceanógrafo Roberto Wahrlich, professor da Univali, em Itajaí, seria muito difícil uma amputação proposital, com o animal vivo, pois trata-se de uma baleia de 10 toneladas.
“Minha impressão é de que cauda foi cortada pelo cabo de aço, ela está presa no cabo. Há histórias de pescadores que tiveram membros decepados por cabos que estouraram, e vieram para cima do convés. Em princípio, acredito que tenha sido uma fatalidade”, disse o professor ouvido em reportagem produzida pela NSC de Santa Catarina.
Já o pesquisador Jules Soto, curador do Museu Oceanográfico da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), não descara a hipótese da cauda ter sido arrancada pelos próprios pescadores com a intenção de salvarem a rede de pesca.
Segundo Soto, ouvido pela reportagem do site G1, a decisão de amputar a cauda, se confirmada pela perícia, é totalmente equivocada.
“A reação da baleia quando prende a cauda sempre é girar para tentar se libertar daquilo, isso geralmente ocasiona o emalhamento no cabo. A primeira análise que a gente tem é que está tudo errado. De forma alguma uma baleia daquele tamanho põe aquele barco a pique. Ela não ameaçaria aquele barco. Existe uma desproporção muito grande de massa, principalmente porque a baleia não vai puxar pra baixo quando ela está nessa situação, ela vai puxar pra frente ou para os lados“, explica.
Enquanto a verdade não vem à tona, resta a tristeza por testemunhar o sofrimento de um animal tão belo.
Apesar de livremente praticada no Brasil e com pouca ou nenhuma fiscalização, a pesca de arrasto motorizada é considerada por cientistas extremamente prejudicial à biodiversidade marinha.
Juntamente ao pescado capturado, esse tipo de pesca industrial provoca a morte de corais, esponjas, tartarugas, peixes não comerciais e outros mamíferos marinhos involuntariamente capturados pela rede, razão pela qual essa prática é proibida ou sofre fortes restrições em diversos países.
No Brasil, cada um dos 17 estados costeiros tem uma regra a respeito de como deve ser praticada, sempre em relação à distância da costa.
Em alguns estados a distância é de uma milha náutica, em outros, três milhas. Mas, como praticamente não existe fiscalização, é comum ver barcos pesqueiros passando o arrasto na zona de arrebentação.
Estudos mais recentes comprovam, também, através de imagens de satélite, que nuvens de lama se espalham e permanecem suspensas no mar muito depois que a traineira passou.
Esse material em suspensão é potencialmente nocivo a diversas outras espécies de animais marinhos, podendo causar um desequilíbrio na cadeia alimentar desses ecossistemas.
Para saber mais sobre o assunto, recomendamos a leitura do artigo: “Pesca de arrasto: entenda como acontece a destruição do habitat”.