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A confirmação do Mundial de SUP e Paddleboard da ISA para o final de novembro, em El Salvador, pegou muita gente de surpresa e gerou discussões acaloradas, principalmente entre atletas de SUP Race.
Isso porque até o final de setembro a ISA se mantinha em silêncio em relação à realização de seu mundial em 2019. Some-se a isso o fato de que outra entidade global, a ICF, irá realizar seu primeiro campeonato mundial de SUP race no final de outubro, na China.
Ambas as entidades, ISA e ICF, travam uma batalha nos tribunais do COI (Comitê Olímpico Internacional) pelo direito de serem reconhecidas pelo órgão como entidade máxima a reger o SUP globalmente, o que lhes confere o direito de organizar a modalidade numa provável inclusão às olimpíadas.
A ISA realiza seu mundial a sete anos consecutivos (o primeiro foi realizado em 2012, no Peru) e após ser reconhecida como entidade legalmente instituída para representar o surfe nos jogos olímpicos, deu início a um trabalho para fazer o mesmo com o stand up paddle.
Essa movimentação atraiu a atenção da ICF, que então passou a disputar com a ISA esse direito. A partir de então, deu-se início a uma batalha burocrática entre as entidades.
Em 2018, a ISA, com o apoio da federação portuguesa de surfe, conseguiu impedir a realização do primeiro campeonato mundial de SUP da ICF, em Portugal, através de uma ação na justiça (para saber mais sobre o caso clique AQUI).
A vitória nos tribunais, no entanto, repercutiu mal entre os atletas e muitos vieram a público manifestar sua insatisfação com o ocorrido.
Passado o episódio, a ICF anunciou, no início deste ano, a realização de seu Mundial na China, dessa vez resguardada legalmente. A competição, dedica exclusivamente ao SUP Race, foi muito bem recebida pela comunidade global, principalmente por oferecer premiação em dinheiro e títulos em diversas categorias, como Master e Amador. Além disso, ao contrário da ISA, que realiza sua prova entre nações, abrindo vagas somente aos melhores atletas de cada país, o evento da ICF é aberto a quem quiser se inscrever.
O tempo foi passando e a ISA se manteve em silêncio sobre a eventual realização de seu Mundial em 2019, ao mesmo tempo em que protagonizou uma bem-sucedida inclusão histórica do SUP nos Jogos Pan-Americanos de Lima.
Tendo em vista o silêncio da ISA e a campanha vitoriosa no Pan, os remadores de SUP Race voltaram suas atenções para o Mundial da ICF e para eventos importantes de fim de ano, como o Waterman Tahit Tour, no Taiti, The Doctor Downwind Race, a Austrália e o Aloha Spirit Festival, no Brasil, a entidade anunciou ontem (03) que irá realizar seu 8º mundial este ano, em El Salvador.
A notícia, que já havia sido ventilada aqui no Aloha Spirit Club em um furo de reportagem com quase uma semana de antecedência, provocou reações imediatas e gerou protestos.
“Quando você é mais movido pelo poder, pela ganância, mas está longe dos atletas, que se tornaram um peão em um jogo de poder, vou lhe dizer quem é o perdedor: o esporte”, escreveu Annabel Anderson em uma rede social.
Chris Parker, editor do site SUPRacer.com e co-fundador do circuito mundial da Paddle League, também teceu fortes críticas à decisão da ISA em anunciar a realização de um Mundial sem a devida antecedência e em conflito com a realização de outros eventos internacionais importantes.
“É uma pena, porque El Salvador provavelmente seria um grande evento com seis meses de antecedência. Mas seis semanas… vamos lá. É ridículo. Se a ISA fosse inteligente, ela teria dado a El Salvador os direitos de hospedagem em 2020 e dado às equipes e atletas tempo suficiente para se prepararem, mas parece que egos e agendas políticas atrapalharam a lógica”, escreveu Parker.
O “Boss Man”, como também é conhecido, lembrou também o conflito da data com outros eventos importantes, como a etapa de Cabo Frio do Aloha Spirit Festival, que este ano terá a chancela de Main Event do Paddle League e Qualifing Series, para o APP World Tour. Parker vem trabalhando intensamente nos bastidores para trazer ao Brasil atletas de renome internacional.
Mas, ao que tudo indica, o conflito de datas pode ser mais prejudicial ao Mundial da ISA do que aos eventos que têm suas datas confirmadas com meses de antecedência, como o próprio Aloha Spirit, que inclusive tem um fato inusitado: dois atletas de El Salvador entraram em contato com a organização pedindo ajuda para conseguirem pranchas em Cabo Frio, como relata João Castro, organizador do Aloha:
“O Aloha Spirit desde sua criação, estipulou algumas metas e a principal é a boa convivência com todos. Não somos favoráveis a “A” ou “B”, somos favoráveis ao esporte e aos atletas. A nossa história mostra isso. Temos o hábito de pegar as dificuldades e enxergá-las como potencialidade. A data conflitante com o evento da ISA terá um impacto muito pequeno, positivamente ou negativamente em adesão. Temos inclusive dois atletas de El Salvador já inscritos em Cabo Frio. Estamos muito alinhados com a Paddle League, que nos intitulou recentemente como o maior festival do mundo. Estamos alinhados com a APP Word Tour, que nos chancelou como etapa qualificatória para que em 2020 sejamos uma das principais.
Estamos alinhando com entidades internacionais de Va’a e Natação, buscando tornar o evento cada vez mais bacana e uma janela, para que lá fora todos possam observar o que está acontecendo aqui e que não somos só o pais do futebol, que somos da água também”, pondera.
Em relação aos atletas do Brasil, muitos como a tricampeã brasileira Lena Guimarães, já com participação confirmada no Mundial da China, ponderam em priorizar o Aloha.
“Ainda estamos avaliando o que iramos fazer quando voltarmos da China. A ISA tem um histórico de realizar suas provas de Race no final de semana de encerramento do Mundial, que no caso de El Salvador seria 30 de novembro. Se isso se confirmar, poderíamos participar tranquilamente do Aloha, que será no dia 23 e depois viajaríamos para o Mundial da ISA, mas ainda não sabemos como vai ser. Está tudo muito em cima da hora. De certo iremos à China e temos uma vontade enorme em participar do Aloha cabo Frio”, conta Américo Pinheiro, técnico de Lena.
Ele explica que Lena foi convidada pela ICF a participar do Mundial da China e terá suas despesas de viagem custeadas pela entidade. Além disso, a Mistral Internacional, patrocinadora da atleta, é parceira do evento e já havia solicitado sua participação na China.
“Teremos todo o apoio para competir na China, mas, no caso de El Salvador, ao longo dos anos, cada atleta tem que correr atrás de apoio para conseguir viabilizar sua participação. Adoramos participar do Mundial da ISA, mas dependemos de apoio e não sei se teremos tempo suficiente para viabilizar essa viagem, mas já estamos correndo atrás”, disse Américo.
Arthur Santacreu, campeão mundial de Sprint Race, disse a nossa redação também ficou surpreso com o anúncio do Mundial da ISA:
“Estava organizando minha viagem para a China e agora fui surpreendido pela confirmação do mundial da ISA. Tentarei participar dos dois eventos, mas essa logística vai ser complicada”, relatou o atleta.
Também contatada pela nossa redação, a CBSUP disse que irá formalizar nos próximos dias a primeira lista de convocação dos atletas para o Mundial da ISA. Se for adotado o mesmo modelo dos anos anteriores, serão convocados os primeiros colocados no ranking brasileiro de 2018 e, à medida em que houver desistências, aqueles que estiverem ranqueados na sequência serão convocados.
Acompanhe nossas próximas atualizações com mais informações sobre o Mundial da ISA em El Salvador e seus desdobramentos.