UBATÃ lança ebook gratuito “Velejando pela Amazônia Atlântica”
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A represa de Itupararanga foi construída em 1912 e faz parte da usina hidrelétrica que abrange os municípios de Ibiúna, Sorocaba e Votorantim, interior do estado de São Paulo. Possui o maior reservatório manancial de água doce da região e, além de ter águas não poluídas, é cercada por trechos de mata de área de proteção ambiental.
Essa travessia foi organizada em parceria com o grupo de remadores locais do Valhalla Itupararanga Team. A ideia era atravessar toda a extensão da represa, por cerca de 50Km, em formato non stop – somente realizando pequenas paradas para hidratação e suplementação, sem barco de apoio.
Como forma de integração e também de incentivar outros remadores, foi proposto trajetos com menor quilometragem – 10km e 20km. Foi um jeito de fazer com que as pessoas se desafiassem em relação aos seus próprios limites, assim como estávamos fazendo. A ideia foi bem recebida e algumas pessoas foram para a água no dia combinado.
Nos encontramos no ponto de partida – as margens da Marina Rasa, na manhã do dia 15 de setembro. Eu e o Ulisses Bicudo chegamos por volta das 06h30 e já encontramos o Lucas Passini nos aguardando. O grupo dos 50Km estava reunido. Queríamos sair bem cedo para evitar ventos e o calor muito forte previsto pela meteorologia.
Para a nossa surpresa, a manhã estava bastante nublada e o vento frio soprava moderadamente de leste e aparentemente frontal à nossa trajetória. Finalizamos a checagem de nossos equipamentos, remos, quilhas, bags de água e amarramos os sacos estanques nas pranchas com toda nossa hidratação e suplementação.
Entramos na água por volta das 7h e sentimos o vento direto no nosso rosto. Lucas e Ulisses tomaram a iniciativa, já colocando um ritmo forte neste começo de remada. Logo montamos a estratégia de revezamento de esteira, para poder otimizar nosso deslocamento – com isso o remador que estava à frente imprimia um ritmo mais forte e os outros seguiam protegidos do arraste do vento e da água, se poupando e descansando para depois assumir a sua vez.
Seguimos contornando as margens da represa, ora com matas, campos de fazendas com capim de tonalidade amarelada e muitas praias até o quilômetro 12. Desembarcamos e fizemos nossa primeira parada para hidratação e alimentação em um pontal de uma prainha e ficamos ali por cerca de 10 min.
Retornando para a água a nebulosidade se desfez e o sol mostrou a sua cara. Passamos margeando trechos de ilhotas com matas preservadas, rochas aparentes e prainhas de material argiloso – num trecho bastante bonito. Em certo momento eu diminui meu ritmo para poder acompanhar com mais atenção um tipo de folhagem de coloração acinzentada que se desprendia das árvores e quase tocavam as águas da represa.
Entramos em um braço mais estreito da represa e avistamos uma corredeira, desembarcando aos 20Km em uma prainha com muitas árvores. Neste local fizemos uma parada para nos alimentar e avaliar a situação, pois tínhamos chegado ao limite leste da represa. Agora teríamos que retornar.
Ainda não sabíamos, mas o nosso maior desafio não tinha sido o vento frontal até então, e sim o calor, a desidratação e a fadiga que a volta nos aguardava. Realmente o sol castigou muito a gente nos próximos quilómetros, e os quadros de dores, bolhas, pensamentos conflitantes de desânimo – empolgação, eram renovados a cada mensagem de 1km de meu relógio. E a conta era grande e não tinha fim.
Percebia de relance meus companheiros também exaustos, cada um materializando de forma particular tudo que estava acontecendo. Este é o momento que o corpo está seguindo até seu limite e sente a pressão. A mente fraqueja. E aí começa o ritual cíclico de buscar energia para recriar novamente esperança e empolgação, para continuar remando. Superação!
E seguimos nesse tom até pararmos por volta do km 32, em uma prainha de cascalhos e de difícil desembarque, devido às rochas pontiagudas no seu leito. Mas foi a redenção total, um tratamento de choque nos nossos sentidos bem abalados. A água estava muito gelada e fizemos uma seção de crio-terapia e imersão que deu um ânimo geral em todos.
Restabelecidos pela última parada, uma preocupação a mais que passamos a considerar era o trafego intenso de barcos e jet skis. Eram muitos e navegavam aparentemente sem nenhum critério de segurança. A atenção agora estava redobrada, mas por vezes vinham em nossa direção causando uma certa apreensão.
Percebemos a certa distância dois remadores que estavam voltando do desafio dos 20Km. Seguimos com eles por algum tempo e depois acabamos nos distanciando novamente, rumo ao nosso objetivo. Aos 38km passamos pela bifurcação que daria acesso a Marina Rasa e seguimos pelo canal a direita, sentido barragem.
Foi um momento muito marcante passar nas proximidades da Maria Rasa pois o corpo queria terminar por ali mesmo. Porque seguir avante naquele sol das 13h depois de ter remado por horas? Qual o sentido disso? Bolhas e o cansaço físico quase ganharam a guerra psicológica que se seguiu. Mas tínhamos que prosseguir – apesar de tudo – e seguimos nosso trajeto em direção ao outro limite da represa.
Chegamos às margens da barragem por volta dos 44km. Apesar de muitas praias de areia decidimos parar na água mesmo para fazer nossa última hidratação, suplementação e descanso. Nas buscas do protetor solar acabei encontrando uma bandana no meio da bagunça do saco estanque. Me senti aliviado por poder me proteger um pouco mais daquele sol.
Comi meus dois últimos lanches de pão com pasta de amendoim e queijo. Acabei com o restante de água que tinha no meu bag e também outros 500ml de isotônico. Ainda me restava mais meio litro para os últimos 6km. Todos se alimentaram e estávamos prontos e restabelecidos.
O ânimo agora era outro devido à proximidade crescente do fim. Cada km destes últimos foi muito bem vivido e quando iniciamos o contorno da última margem, antes de desembarcar na prainha, sentimos realmente que tínhamos superado os 50Km da represa.
Desembarcamos na Marina Rasa. Tinha muita gente por ali na água e também sob a sombra refrescante da grande árvore, mas ninguém poderia imaginar o que tínhamos passado. Éramos os anônimos que tinham atravessado os limites da represa por horas. Nos abraçamos e nos cumprimentamos pelo desafio superado.
Gostaria de agradecer a parceria do Valhalla Itupararanga Team pela iniciativa de promover a interação e pelo desafio proposto e principalmente parabenizar os remadores Diego, Alexandre e Danny que finalizaram o trajeto de 10Km, assim como Walfried e Karina (12Km) e André Zanchetta e Maria pela superação no desafio de 20Km. Não esquecendo o apoio das academias UP FIT e UP STRONGER de Sorocaba e a empresa de serviço automotivo SAS TRAKER – fizemos um teste bem-sucedido do sistema de rastreamento veicular por GPS, onde validamos a verificação e acompanhamento do nosso posicionamento em tempo real. Agora nossa família pode assistir nossas travessias em tempo real no conforto de casa.
Agradecimentos especiais ao Ulisses e Mônica pelo acolhimento em sua residência. Me fizeram sentir em casa. Muito obrigado pela hospitalidade! Agradecimentos mais que especiais para minha família que sempre apoia as viagens e travessias Sup Extremo, me dando todo o suporte psicológico de que preciso – vocês são meu ponto de partida e também o de chegada.
São muitos os ensinamentos que um desafio desse proporciona para os que procuram o entendimento. Desde as conversas iniciais no carro indo para a represa, quanto tudo que passamos durante a remada. Os pensamentos, as dúvidas e a superação. Toda remada SUP Extremo é uma avalanche de potenciais ensinamentos e agradeço aos meus amigos remadores Ulisses e Lucas por este dia! Gratidão! Como disse recentemente o grande remador e especialista em provas de longa distância Bart de Zwart: “ Vida longa às ULTRAS “ De uma forma ou de outra estamos remando nesse sentido! Aloha! Bora para a próxima!
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