Crônica da remada | O melhor pai do mundo
A relação de admiração de um filho por seu pai inspirou Roberto Melchior a escrever essa bela crônica ... leia mais
Eu e minha esposa Rosemeire Ratzka tivemos ciência da existência de uma tribo indígena no Parque Estadual Xixová-Japuí, uma área de proteção ambiental localizada entre os municípios de São Vicente e Praia Grande, na Região Metropolitana da Baixada Santista.
A aldeia pertence à etnia Guarani M’bya e se chama Tekoá Paranapuã, e é possível fazer uma visita previamente com agendamento junto à gestora do Parque e o cacique Marcelino.
Entrei em contato com o cacique Marcelino para pedir autorização e na conversa ele falou um pouco sobre as dificuldades que enfrentam. Diante do relato, arrecadamos junto aos associados de nossa base, a Olukai Hoe Canoa Clube, donativos entre alimentos não perecíveis e fraudas para levar à tribo no dia da visita.
Todo este material foi transportado de Canoa Havaiana. Navegamos em linha reta entre a Ponta da Praia, em Santos, sentido São Vicente, totalizando 15 quilômetros ida e volta.
Participaram remadores iniciantes e com experiência que deram um ritmo tranquilo. Chegando à aldeia tivemos um choque. Muitas vezes as notícias sobre a vida desses povos nos chegam pelas mídias sem a devida atenção, ali pudemos ver a tristeza e ouvimos o drama dos verdadeiros donos da terra.
Como a aldeia está dentro de um parque, esses índios não podem caçar, pescar e nem cultivar. Eles precisam de muita ajuda, são seres vivos, são gente como agente, e fazem parte do nosso meio ambiente. Esse é um conjunto que vai muito além da fauna e da flora e todos merecem nossa atenção.
Como remadores, nossa sensibilidade fica muito mais suscetível a estas questões, e o espírito Va’a tem que estar presente em todas nossas ações.
Essa é uma remada prazerosa, que se inicia com sentimento de bem estar desde o momento de colocá-la em prática, mas a visitação pode gerar aos seus visitantes um sentimento de urgência. De que algo precisa ser feito por cada um de nós para ajudá-los, pois não é possível assistir a morte lenta de uma etnia. Esse foi o sentimento dos 13 remadores que participaram da visita.
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Historiadores calculam que antes da invasão europeia, a população indígena no Brasil era de aproximadamente três milhões de habitantes divididos entre mil povos diferentes. Hoje, restam menos de 900 mil e essa população segue em declínio e suas terras sofrem constantemente pressão para serem reduzidas.
Por conta desta realidade, para o líder indígena, ambientalista e escritor brasileiro, Ailton Krenak, afirma que os índios no Brasil vivem uma realidade de guerra desde 1500, sendo exterminados e tendo suas terras invadidas em um ciclo ininterrupto desde a chegada dos portugueses.