Uma breve história do mergulho livre

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história do mergulho livre:
Warley Rezende de Souza. atleta e coordenador da Prova de Apneia do Aloha Spirit festival. Foto: Arquivo pessoal

Pergunto ao Coordenador da Prova de Apneia do Aloha Spirit, Wraley de Souza, por que razão a Apneia faz parte das modalidades de esportes aquáticos do Aloha Spirit?

Ele me responde:

Em nosso desenvolvimento, ficamos imersos em liquido por nove meses.

Após o nascimento, temos necessidade de voltar para água, na busca de alimentos, na curiosidade em descobrir o mundo subaquático, no desafio de navegar em seus rios e oceanos para descobrir o quão grande ele é.

Brincar, se divertir em suas águas. Uma relação que vem dos primórdios da vida humana e nem as limitações do corpo humano ao ficar submerso pararam todas estas descobertas.

Mergulhar, nadar, surfar e remar longas distâncias, vem sendo superadas ao longo da história.

Com o desenvolvimento da apneia e as técnicas de mergulho livre, conseguimos superar os 100m de profundidades sem auxílio de nenhum equipamento, com todo este conhecimento ficamos cada vez mais confiantes nesse mundo aquático.

Hoje, tantas informações partilhadas nos meios digitais, interatividades entre as modalidades esportivas, tornaram estes esportes mais seguros e competitivos. Desta forma, vejo que apneia é uma das mais importantes modalidades do Aloha Spirit”.

Warley Rezende de Souza – Atleta de Mergulho Livre.

Uma breve história do mergulho livre

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Caverna dos Nadadores, New Valley, Egito / Pictografia datada de mais de 10 mil anos. Foto: Jornal Clarín

Talvez seja difícil mensurar há quanto tempo o mergulho livre faça parte da nossa existência.

Nas mais distintas partes do globo, vários são os exemplos, ao longo dos tempos, que marcam a fascinação do homem pela água.

Por isto não é de se duvidar que tenhamos ousado mergulhar nesse mundo desconhecido muito antes do que comprovam os registros históricos que temos hoje.

Desde gravuras rupestres egípcias que, possivelmente, representam pessoas se movimentando onduladamente, como se nadassem ou mergulhassem (8 mil a.C.); comedores de mariscos dinamarqueses (7 mil a.C.); fósseis humanos chilenos acometidos por exostose auricular (6 mil a.C.); “mulheres sereias” nipônicas caçadoras de pérolas das profundezas (1 mil a.C.); romanos lutando em unidades militares subaquáticas (400 a.C.); gregos, registrados por Platão, coletando esponjas no fundo do Mar Mediterrâneo (300 a.C.) e “homens peixe” da Oceania adaptados seletivamente para serem exímios pescadores natos (1 mil d.C.).

Porém o primeiro registro histórico com marcação de profundidade é do grego Haggi Statti, que desceu a -77 m com a ajuda de uma pedra para recuperar uma âncora no fundo do mar.

A técnica utilizada por ele neste evento e em suas coletas de esponjas daria origem a uma modalidade desportiva praticada hoje denominada “Skandalopetra”, que pode ser considerada a avó do “No Limits” atual.

Mas foi apenas no século passado que o mergulho livre, ou mergulho em apneia, ganhou outra conotação na nossa trajetória.

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Jacques Mayol (esq.) e Enzo Maiorca (dir.), uma vida de amizade e competição dedicadas ao mergulho livre. Foto: Alertdiver.eu

A tentativa de ir cada vez mais fundo deixou de ser uma atividade ligada à sobrevivência e passou a ser uma busca pelo desafio, pelo autoconhecimento e pela satisfação pessoal.

Centenas, senão milhares, de nomes apareceram na cena do freediving a partir do italiano Raimondo Bucher (1º recorde oficial em 1949), assim como a italiana Francesca Trombi (1º recorde feminino em 1961), Américo Santarelli (1º recorde brasileiro em 1959), dentre muitos outros.

Adentrando as décadas de 1960 e 1970, o mundo acompanhou a acirrada disputa entre os lendários Enzo Maiorca (Itália) e Jacques Mayol (França), sendo este o primeiro homem a descer aos -100m.

Na década de 1980, a rivalidade ficou por conta de Pipin Ferreras (Cuba) e Umberto Pellizzari (Itália). Desde então, outros ícones se destacaram, deixando sem fôlego, até mesmo, os mais experientes da área.

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Américo Santarelli após bater um de seus recordes a -44m / Fonte Revista Mondo Sommerso 1960. Foto: Reprodução

Quero também destacar: a russa Natalia Molchanova, a primeira mulher a ultrapassar os -100m; o belga Patrick Musimu, primeira pessoa a descer aos -200m; e os seres humanos mais “profundos” do mundo até o momento (out/2020): a americana Tanya Streeter, que alcançou -160m, e o austríaco Hebert Nitsch, com a marca oficial de -214m.

Esses são apenas alguns exemplos, mas prometo voltar futuramente para prestigiar quantos mais apneistas eu puder, pois são todos fonte de grande inspiração para nós.

Tendo em vista a imprevisível capacidade humana de se superar, tenho certeza de que ainda veremos feitos inimagináveis de futuros “homens e mulheres peixe”, que tornarão a nossa história mais rica do que ela já é.

Encerro por aqui, deixando minhas singelas homenagens aos mestres referenciados acima e a todos os outros que trilharam, e ainda trilham, os caminhos que nos levam a ir cada vez mais fundo, dentro e fora d’água.

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